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TRANSIÇÃO
Os líderes Bispo Rodrigues e Valdemar Costa Neto votaram com a oposição, mas não foram seguidos por bancada
Principal aliado do PT, PL votou pró-FHC em projetos polêmicos
GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Partido Liberal, que nas eleições presidenciais ganhou status
de principal aliado do PT, passou
quatro anos votando com o governo Fernando Henrique Cardoso em matérias importantes, como a Flexibilização da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e
a Lei de Responsabilidade Fiscal.
A Folha tabulou os votos dos 22
deputados federais do PL em oito
projetos considerados polêmicos
nessa legislatura, eleita em 1998.
No caso da flexibilização da
CLT, apenas nove deputados do
PL foram contra o projeto, que foi
uma das principais bandeiras da
oposição. A mudança na lei pretende instaurar a supremacia dos
acordos coletivos sobre a legislação. A oposição votou em bloco
contra o projeto, que foi aprovado
na Câmara em dezembro de 2001,
mas está parado no Senado.
A bancada votou em peso com o
governo para aprovar a Lei de
Responsabilidade Fiscal. Já com o
seguro-apagão, que autorizou
reajustes na tarifa de energia para
compensar as perdas com o racionamento, apenas dez deputados
votaram com a oposição.
A divisão na bancada prevaleceu em outras votações polêmicas, como na auto-anistia das
multas que a Justiça Eleitoral aplicou em 69 deputados, 12 senadores e em nove governadores, durante as eleições de 96 e 98. Apenas sete deputados federais foram
contrários à anistia, cujo valor
chegava a R$ 2,2 milhões.
Se a votação da Lei de Responsabilidade Fiscal fez com que os liberais votassem em bloco, favoravelmente, à limitação dos gastos
públicos, o projeto que impedia a
contratação de parentes no Executivo, Legislativo e Judiciário só
conseguiu o voto de 12 liberais.
Para derrubar a Lei da Mordaça
-que, ao não ser aprovada, virou
uma das principais vitórias da
oposição- apenas seis liberais
votaram com a oposição.
Nem o projeto que acabou com
a imunidade parlamentar para
crimes comuns aproximou PL e
PT: apenas 12 liberais votaram pela aprovação.
A prorrogação da CPMF, aprovada em segundo turno na Câmara em março passado, depois de
um "acordão" entre governo e
oposição foi o momento em que
PT e PL votaram juntos. O acordo
assegurou 384 votos ao governo.
O cruzamento desses dados
mostra que os dois principais líderes do PL, Bispo Rodrigues (RJ)
e o presidente do partido, Valdemar Costa Neto (SP), votaram
com a oposição no caso da CLT e
do seguro-apagão, mas não foram seguidos pela bancada.
Além de desunida, a bancada do
PL é "mutante" -os deputados
pulam de um partido para o outro. O caso mais conhecido é o de
João Caldas (AL), que mudou sete
vezes de partido nessa legislatura
e reelegeu-se neste ano pelo PL.
Só para se ter idéia dessa dança
das cadeiras, na eleição passada, o
PL elegeu 12 deputados. Dois saíram do partido antes da posse.
Dos dez que ficaram, sete trocaram de partido e 19 entraram,
principalmente, pelas mãos de
Bispo Rodrigues, coordenador
político da Igreja Universal do
Reino de Deus, que trocou o PFL
pelo PL, em fevereiro de 1999.
"Os deputados, vendo que não
teriam espaço no governo, saíram
do PL", diz Rodrigues. Ele afirma,
que, para manter um número "razoável" de parlamentares, "foi
preciso" conviver com aqueles
que contrariavam a diretriz da
bancada para seguir os governadores dos Estados.
O presidente do partido, Valdemar Costa Neto, informou, por e-mail, que quem não acompanhar
a orientação poderá ser expulso.
Rachel Meneguello, diretora do
Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp, diz que, para se
ajustar à nova realidade, o PL terá
de mudar: "Temos quatro anos
para ver até onde essa aliança de
esquerda e de direita vai aguentar". Uma das características dos
chamados "partidos ideológicos",
caso do PT, é votar coeso.
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