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TRANSIÇÃO
Empresa de Luciano Coutinho faz análise otimista da economia, mas diz que equipe "emaranha-se em declarações"
Consultoria vê com desânimo governo Lula
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma empresa de consultoria
com considerável influência no
pensamento do governo eleito
avalia, em documento enviado a
seus clientes, que a equipe de Luiz
Inácio Lula da Silva "emaranha-se
em declarações vagas" e dá sinais
de indefinição quanto ao rumo da
política econômica que deve adotar a partir do ano que vem.
Trata-se da LCA Consultores,
de São Paulo, que tem como sócio
principal Luciano Coutinho
-cujas iniciais do nome, mais o
"A" de Associados, compõem o
nome da empresa.
Especialista em política industrial e comércio exterior, Luciano
Coutinho foi um dos economistas
mais ouvidos durante o período
de elaboração do programa de
governo do PT e é figura constante nas listas de ministeriáveis para
o novo governo.
A LCA perdeu recentemente
outro membro, o economista
Bernard Appy, que se desligou da
consultoria para ingressar na
composição da equipe petista de
transição -de onde pode partir,
segundo especulações, para um
cargo na futura equipe econômica
do governo petista.
Appy tem se encarregado de
avaliar os números do Banco
Central e foi um dos três petistas
que estiveram presentes, ao lado
dos chefes Antônio Palocci Filho e
Luiz Gushiken, na única reunião
com os representantes da missão
do FMI (Fundo Monetário Internacional) que deixaram o país na
semana passada.
Na "Carta LCA" do mês de novembro, elaborada com base nas
informações disponíveis até o último dia 18, a empresa de consultoria faz uma análise moderadamente otimista do cenário econômico do país, mas mostra desânimo diante do comportamento
apresentado pelo presidente eleito num capítulo intitulado "Lula
já convive com os problemas de
ser governo".
"Paralisia"
Luiz Inácio Lula da Silva, diz o
documento, "passa o tempo tentando esclarecer dúvidas sobre
programas de governo, explicando contradições sobre a orientação econômica que vai seguir, administrando pressões de aliados
por cargos e trocas de apoio".
E emenda: "A pior parte da rotina de um governo".
Argumenta-se que a indefinição
alimenta cobranças, críticas e especulações.
Admite-se que o silêncio em
torno de nomes e rumos econômicos teve o mérito de substituir a
crise financeira pelos temas sociais na pauta pública de discussões, mas, segundo o texto, esse
efeito positivo se esgotou.
"Agora, quando se constata que
quase nada está claro em nenhuma área, o silêncio parece menos
controle sobre a situação e mais
alguma paralisia", é a avaliação
apresentada pelo texto.
"O governo eleito não difunde
hoje a convicção de que sabe por
onde vai começar a agir."
Até aqui, sabe-se que Lula pretende encaminhar ao Congresso,
logo no início do mandato, as reformas tributária e da Previdência. A primeira terá a função de
reduzir a carga de impostos sobre
a produção, e a segunda, de equacionar o principal buraco nas
contas públicas.
Ambas visam melhorar as expectativas do mercado e trazer de
volta o otimismo e os investimentos para a economia.
Mas pouco se fala, de fato, em
iniciativas de efeito mais imediato
-como no caso das ações voltadas para o estímulo às exportações e a substituição de importações, consideradas prioritárias no
programa de governo devido à influência, entre outros, de Luciano
Coutinho.
Juros e inflação
Para o comportamento da economia em 2003, a LCA prevê dificuldades e poucas recompensas,
mas sem catastrofismo.
Descarta, por exemplo, a necessidade de um choque de juros para conter a escalada de preços puxada pela alta do dólar.
Há motivos, considera a empresa, para temer a inflação: a desvalorização do real em relação à
moeda norte-americana diminuiu a concorrência no mercado,
ao encarecer os importados.
Como as empresas podem,
além disso, conseguir preços melhores no exterior, está aberto o
caminho para elevar os preços no
mercado internos.
Aponta-se, entretanto, que o
câmbio tende a se normalizar, e o
mesmo se dará com a inflação,
passado algum tempo. Por isso,
seria precipitação levar os juros às
alturas para segurar o consumo e
os investimentos.
A Folha procurou três vezes a
LCA, entre a quarta e a sexta-feira
da semana passada. A empresa,
porém, não respondeu se desejava fornecer esclarecimentos adicionais sobre as análises que apresentou em seu texto.
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