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Procurador não viu vídeo que pode contradizer o parecer apresentado
DA SUCURSAL DO RIO
O vídeo com a gravação da necropsia de Suzana Marcolino, no
qual não aparece a medição de
sua altura pelo legista Badan Palhares, não foi assistido pelo vice-procurador-geral da República,
Haroldo Ferraz da Nóbrega.
O vídeo é uma prova-chave da
investigação sobre as mortes de
Suzana e seu namorado, Paulo
César Farias. Documenta a necropsia, em junho de 1996.
Contradiz o parecer de Nóbrega, 56, que baseou o arquivamento do inquérito federal sobre as
duas mortes ocorridas em Maceió. O procurador diz considerar
que Badan mediu Suzana.
O vídeo mostra o contrário. O
procurador não assistiu ao vídeo
que derruba sua afirmação em
questão decisiva no caso.
"Olhe, eu, sinceramente, certamente a pessoa fica lá num estrado, num tablado, num local e tem uma certa medição", disse Nóbrega anteontem à Folha. A seguir, disse que não viu o vídeo, que faz
parte dos autos.
Depois de indagado três vezes
sobre se sustentava que as fotografias anexadas ao inquérito
mostram Suzana maior do que
sua irmã, Ana Luiza, e PC (ambos
com 1,63 m, mais altos que Suzana), o procurador respondeu:
"O senhor está me colocando
numa situação, digamos assim,
de inferioridade [por não ter os
autos à mão]. Eu quero os autos
aqui para eu dizer tudo".
De fevereiro ao começo deste
mês, a Procuradoria Geral da República esteve com os documentos do inquérito. O repórter, por
impossibilidade legal, nunca.
"Explicações suficientes"
Desde julho de 1995 vice de Geraldo Brindeiro na Procuradoria,
Nóbrega afirmou que, sobre a altura de Suzana Marcolino, "o
doutor Badan deu explicações
mais do que suficientes".
No parecer, se referiu ao trabalho coordenado pelo legista em
1996 como "minucioso laudo pericial". Desse laudo não constava
a altura de Suzana, só informada
depois de requisição judicial.
Nóbrega afirmou que não considerou as provas produzidas em
1999, quando as investigações foram reabertas, porque "as de 1997
foram suficientes".
Em seu parecer, ele cita documentos escritos por Badan e nenhum por integrante da equipe
que fez o segundo laudo.
Registra a conclusão da polícia
em 1996 (homicídio seguido de
suicídio), mas não faz referência
aos nove indiciamentos de 1999
por duplo homicídio.
Não se pronuncia sobre a ausência de impressões digitais no
revólver do qual saíram as balas,
uma em cada vítima.
Nem sobre a ausência de sangue
na arma, que estaria quase colada
ao peito de Suzana. Nem de certos
elementos químicos componentes da pólvora nas mãos de Suzana, que pela versão do procurador
teria atirado.
"Se o meu parecer estiver errado, quero ir para o inferno com
ele", disse Haroldo da Nóbrega.
Julgamento
A Justiça de Alagoas aguarda
publicação da decisão do STF para manter ou não o julgamento
dos quatro réus acusados de matar PC e Suzana.
Se o Supremo não se manifestou sobre o mérito do caso, apenas arquivando o inquérito, há
chance de haver julgamento. Se
concluiu que Suzana matou PC e
se suicidou, provavelmente o processo da Justiça Estadual ficaria
vinculado, tendo de ser arquivado. O STF pode reabrir o caso, a
pedido da Procuradoria, se houver novas provas.
(MM)
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