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NO PLANALTO
Dinheiro do Sesi banca de jatinho a concurso de miss
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O que anima o empresariado a brincar de pacto com o
companheiro Lula é a perspectiva
de revisão das leis trabalhistas. O
PT já aceita a tese de que a saúde
do capital depende da poda de regalias do trabalho.
Para que o jogo tenha graça urge pôr na roda outro brinquedo: a
malha de mamatas empresariais.
Entre elas um alçapão chamado
"Sistema S".
Sob fachada altruísta, entidades como Sesi e Senai escondem
armadilha pouco debatida. Coisa
farta. Mais de R$ 2 bilhões anuais
só na CNI.
É dinheiro recolhido da folha
das empresas e entregue à gestão
do baronato sindical. Embora
destinado à melhoria de vida do
trabalhador, vem patrocinando
fuzarcas de federações patronais.
Apelidado de "parafiscal", o dinheiro é público. Entra na contabilidade das federações assobiando. E sai cantando. Aos exemplos:
1) a federação das indústrias de
Santa Catarina divide com Sesi e
Senai um prédio em Florianópolis. O "condomínio" era rateado.
O Sesi pingava 45%. O Senai,
45%. A federação, só 10%. Entre
janeiro de 96 e maio de 97, o condomínio torrou R$ 10,6 milhões;
2) R$ 284 mil financiaram o fretamento de jatinhos; R$ 125 mil,
"despesas de representação" da
presidência da federação; R$ 1,1
milhão, a contratação de firmas
de consultoria; R$ 98 mil custearam coquetéis...;
3) custearam também despesas
miúdas. De conserto de videogame Nintendo (R$ 30) a auxílio a
concurso de miss (R$ 1.000), passando pela compra de calças sociais (R$ 190); terno de linho (R$
196); sapato de pelica (R$ 64); caneta MontBlanc (R$ 478) etc.;
4) espetaram-se nos livros do
condomínio R$ 96 mil em notas
frias. A de número 528, de SND
Eletrônica Ltda (R$ 10,3 mil), traz
CGC falso; as de número 1.676
(R$ 7.600) e 1.228 (R$ 3.000), da
Compusul Ltda, anotam CGCs
diferentes. Um é de empresa do
Maranhão. Outro não existe;
5) o caso foi a julgamento no
TCU. Concluiu-se que o Sesi fora
garfado em R$ 2,1 milhões. O veredicto, de maio de 2000, é curioso. Dois síndicos e um administrador do condomínio devolveram R$ 10,8 mil. A federação dos
industriais catarinense decidiu
restituir "espontaneamente" R$
616 mil, em 60 parcelas. O TCU
avaliou que não houve má-fé de
ninguém. Aprovou as contas. Para felicidade geral;
6) ouvido pelo repórter, o industrial Osvaldo Moreira Douat, que
presidia a federação de Santa Catarina à época dos malfeitos, disse: "...o tribunal entendeu que as
despesas haviam sido justificadas, recomendou mudanças de
procedimentos, o que foi integralmente acatado";
9) vem de Minas Gerais outro
exemplo de miscigenação das
contas da federação da indústria
com as verbas do Sesi. Os detalhes
constam de auditoria concluída
em 1997. Foi a debate em sessão
do TCU realizada há 37 dias;
10) entre outubro de 96 e janeiro
de 97, a federação mineira gastou, por exemplo, R$ 460 mil para
reformar um prédio. O imóvel é
do Sesi. O dinheiro que bancou a
obra saiu dos cofres do Sesi. Mas
as instalações serviram a um centro de negócios da federação;
11) entre os fornecedores da
obra está a Tecnowatt Iluminação. Pertence a Stefan Salej, que
presidia a federação. Faturou
uma mixaria: R$ 10,1 mil;
12) o Sesi banca as viagens da
federação. Entre agosto de 1995 e
fevereiro de 1996, pagou R$ 21,2
mil em fretamento de jatinhos.
Comprou de Truana Turismo R$
258 mil em passagens aéreas e
hospedagens. A firma pertence a
Ana Salej e Ana Paula Salej, respectivamente irmã e sobrinha de
Stefan Salej;
13) o estacionamento do centro
de negócios da federação foi entregue à firma Car & Parking, de
Santiago Ballesteros Filho, então
diretor-tesoureiro do Sesi;
14) Restaurante do Trabalhador, mantido pelo Sesi em Contagem, gastou R$ 155 mil em suprimentos no ano de 1999. R$ 13 mil
foram para Refrigerantes Minas
Gerais Ltda. O dono é Luiz Otavio
Possas, então vice-presidente da
federação;
15) ao analisar o caso, o TCU
deu de ombros para a defesa da
federação mineira. Recomendou
40 providências para sanar as irregularidades. E adiou a análise
das contas;
16) ouvido pelo repórter, Stefan
Salej disse: "o tribunal deu 90 dias
para cumprir as recomendações.
Vai receber o relatório da atual
presidência da federação com as
providências. Depois, examinará
as contas. Tudo ainda está em julgamento";
17) em agosto do ano passado, o
TCU analisou as contas do Sesi de
São Paulo relativas ao ano de
1996, época em que era dirigido
por Carlos Eduardo Moreira Ferreira, que também presidia a
Fiesp;
18) os auditores recomendaram
a rejeição das contas. Mas os ministros aprovaram a escrituração.
Que incluía, por exemplo, despesas com a manutenção de um hotel com cerca de 120 apartamentos, erguido em Presidente Epitácio (SP) ao custo de R$ 16,9 milhões. Jamais foi aberto. Horácio
Lafer Piva, atual presidente da
Fiesp, tenta vendê-lo. Se encontrar quem pague R$ 8 milhões,
entrega. Não achará.
Num país em que o direito dos
trabalhadores humildes à boa alimentação, ao lazer e à escola não
passa de letra morta da Constituição, é impossível negar a serventia de entidades como o Sesi e
o Senai. Desde que se interrompa
a safadeza.
Formado metalúrgico numa
prensa do Senai, Lula precisa incluir rapidamente o tema na pauta de transição. Antes que seja esquecido. Pode começar tomando
duas providências: a) conversar
com José Alencar, o companheiro
vice-presidente. Ele já presidiu a
federação das indústrias de Minas. Conhece como poucos a promiscuidade que conspurca o chamado "Sistema S". b) escolher um
nome para presidir o Conselho
Nacional do Sesi, uma espécie de
tribunal de contas interno da entidade.
Lula ainda não sabe, mas o posto é de nomeação do presidente
da República. Quando passou pelo Planalto, o companheiro Itamar Franco entregou-o a Leonor
Franco, mulher de Albano Franco. Uma maluquice que FHC
manteve intocada.
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