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BRASIL PROFUNDO
"A gente só vê o diamante quando pega", é o protesto em RO
Índios pagam comissão por pedra, afirma garimpeiro
DA AGÊNCIA FOLHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ESPIGÃO D'OESTE (RO)
Garimpeiros de Espigão d'Oeste
(540 km de Porto Velho) ouvidos
pela Agência Folha dizem que ganham dos índios R$ 500 por uma
pedra avaliada em R$ 1 milhão.
"A gente só vê diamante quando pega. Depois fica tudo com os
índios", disse um garimpeiro, repetindo a reclamação de outros.
Nos municípios de Cacoal, Pimenta Bueno e Espigão d'Oeste,
os garimpeiros somam 5.000, segundo o sindicato da categoria.
Muitos são chamados de "rodados", porque trabalham com
equipamento manual, invadem a
terra dos cintas-largas pela mata e
podem morrer ou ser presos, se
forem descobertos pelos índios.
A garimpeira Orilza Cardoso
Cruz, 38, afirma que encontrou
uma pedra de dois quilates e a escondeu na mata para não ter que
entregá-la aos índios. Calcula que
poderia vendê-la por R$ 20 mil.
Ela diz que estava na terra indígena quando os cintas-largas atacaram um grupo de garimpeiros,
matando ao menos 29, no dia 7.
Ela conta ter fugido pela mata.
"Acho muito difícil encontrar a
pedra agora", disse, durante o
cortejo fúnebre na sexta-feira de
nove dos garimpeiros mortos.
Robson Lugon de Souza, 36, o
Pardal, afirma que chegou a ganhar R$ 140 mil em dois dias. Isso
foi em 2002, antes de os índios dominarem o garimpo, diz.
Em janeiro de 2003, a Funai
(Fundação Nacional do Índio) e a
Polícia Federal retiraram 5.000
garimpeiros que trabalhavam em
terras indígenas. O coordenador
da ação, o funcionário da Funai
Walter Blós, é apontado pelos garimpeiros como chefe do esquema de contrabando na terra indígena. Sete meses depois, os cintas-largas teriam assumido o controle da extração de diamantes.
"A polícia já me investigou. Se
eu tivesse algo com isso, estaria
preso", diz Blós, que está em Porto Velho, sob proteção policial.
De janeiro a março deste ano, o
Brasil exportou de modo legal
51.952 quilates de diamantes, no
valor de US$ 5,98 milhões (R$
17,32 milhões), de acordo com o
Ministério de Minas e Energia.
A PF estima que só o garimpo
dos cintas-largas movimente ilegalmente o equivalente a R$ 40
milhões por mês.
Segundo a Funai, em 2002, o garimpo enviou irregularmente para o exterior US$ 50 milhões (R$
145,55 milhões) por mês.
(SÍLVIA FREIRE E HUDSON CORRÊA)
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