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JANIO DE FREITAS
A fábrica de Lula
As atenções voltadas para
o "abril vermelho" do MST
concentram-se nas invasões e,
com isso, não se observa uma extraordinária qualidade nele implícita, que é a de mostrar como
o governo fomenta a agitação e
agrava situações perigosas.
Proclamado o "abril vermelho", a reação inicial do governo
veio com mais uma das reuniões
palacianas a que é dada aparência de reprimenda de Lula ao
ministro ou setor governamental
envolvido. Lula, nessas ocasiões,
faz o surpreendido com a falta de
iniciativas que terminou por gerar o problema em questão. E,
como se praticasse uma intervenção decisiva, diz que o governo vai fazer isso ou aquilo e, para
tanto, liberar R$ 1 bilhão ou R$
1,5 bilhão (sempre esses valores,
sempre fictícios).
Como o MST, já escolado, continuasse as invasões, Lula passou
às afirmações de rigor, mais destinadas a satisfazer os conservadores do que a advertir os sem-terra: "a reforma agrária não será feita com violência", "o governo não cede a pressão", e por aí
com os velhos chavões. E só.
Se a sucessão de invasões concluir-se sem um episódio de
maior gravidade, será apenas
por sorte. Mas nada pode evitar
duas conseqüências já consumadas em parte: a remobilização
mais intensa do MST a partir de
agora, ao impulso das ações
atuais, e os seus reflexos sobre
outros setores frustrados, como
os fazendeiros que mais se armam para enfrentamentos, os
sem-teto, e mesmo sobre os vários segmentos do funcionalismo
já em greve ou por iniciá-la. A
fermentação social é contagiante, é epidêmica.
A que se deve o "abril vermelho"? Nos textos daqueles a quem
Otavio Frias Filho dá a sutil denominação de "jornalistas amistosos", lê-se que "Lula está decepcionado com o ministro Miguel Rossetto", o da Reforma e
Desenvolvimento Agrário. Nos
números do Sistema Integrado
de Administração Financeira do
governo lê-se algo diferente. Dos
R$ 256 milhões autorizados para
despesas desse ministério nos três
primeiros meses do ano, verba já
insignificante, só R$ 19,9 milhões
lhe foram efetivamente repassados pelo Tesouro Nacional. Menos de 8% da verba já anêmica.
É a regra geral do governo Lula.
Os exaustivos discursos que falam em falta de recursos mentem. Não falta dinheiro, não.
Ainda ontem os jornais informavam que o governo deixou de
gastar, no primeiro trimestre, R$
6 bilhões acima dos R$ 14,5 de
economia fixados com o FMI. Ficou inútil, nos cofres, dinheiro
que permitiria fazer muito pela
reforma agrária, contra a criminalidade e a violência, pelo saneamento, por tantos modos de
atenuar a desgraça dos 50 milhões que vivem abaixo da linha
de pobreza.
O governo Lula deliberou, porém, fabricar mais pobreza, mais
violência, mais agitação, mais
deterioração do país como todo.
É isso mesmo: deliberação, ato de
vontade, objetivo de governo e,
portanto, dos governantes. É o
que está escrito no reverso da
contabilidade que registra a recusa a aplicar, contra as carências, a montanha de recursos que
são R$ 6 bilhões disponíveis.
A propalada reforma do Judiciário deveria incluir um novo tipo de tribunal.
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