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DIRETAS, 20 ANOS
33 personalidades retornam ao heliporto do prédio da Folha para refazer foto histórica na qual se manifestaram em favor das diretas
Vinte anos de uma herança democrática
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
VIRGILIO ABRANCHES
DA REDAÇÃO
Ao contrário de 20 anos atrás, a
manhã era de sol. Não havia nuvens carregadas, como no dia 23
de abril de 1984, quando, anteontem, 33 representantes da sociedade civil retornaram ao heliporto do prédio da Folha para refazer
uma imagem histórica: a foto em
que 61 artistas, políticos, dirigentes sindicais, esportistas e intelectuais se manifestaram em favor da
aprovação da emenda que restabeleceria eleições diretas no país.
Vinte anos depois, não foi possível reunir todos os participantes
da foto original. A prefeita Marta
Suplicy disse que gostaria de ter
comparecido, mas havia um
compromisso inadiável. Os ministros Márcio Thomaz Bastos
(Justiça) e Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação Social) tinham reunião com o presidente
Lula. O ex-ministro José Serra estava viajando, bem como outros
quatro convidados. Onze dos demais participantes já morreram
(leia mais nesta página).
Entre os que compareceram, o
clima era de descontração, reencontro e avaliação do passado.
"Naquele tempo, tudo era indireto. Hoje, não; hoje o voto é direto", recordava a artista plástica
Tomie Ohtake, que, aos 90 anos,
era reverenciada por todos como
a decana do encontro.
"Éramos todos átomos de um
mesmo movimento", afirmou o
vice-governador de São Paulo
Cláudio Lembo (PFL), então dirigente da governista Arena.
A fotografia foi, segundo o professor da Unicamp Walter Barelli,
à época diretor do Dieese, "o coroamento da campanha que a Folha, sozinha, vinha empreendendo em favor das Diretas-Já, com o
significado maior de reunir inúmeras posições políticas numa luta que primava pela diversidade".
Mas, para a cientista política
Maria Victória Benevides, a foto
mostra um "microcosmo imperfeito da sociedade civil", já que ali
estariam "sub-representados importantes movimentos sociais e
políticos. Mas a campanha foi importante porque tinha um foco
além da eleição, que era o de resgatar a República e reforçar a democracia participativa".
"Nós tínhamos uma esperança
muito grande de que estávamos
participando de um momento
histórico no país. Era um momento de fervor popular", relembra Joel Alves de Oliveira, à época
presidente do Sindicato dos Marceneiros de São Paulo.
As circunstâncias do encontro
foram emocionantes, para a atriz
Bruna Lombardi, que posou para
a fotografia ao lado do marido, o
ator Carlos Alberto Ricelli, e do filho, Kim. "Naquele dia havia uma
sensação muito boa, era um grande otimismo, uma grande felicidade, uma emoção muito intensa", contou. "O Brasil continua
com muitos problemas, muitas
crises, mas, apesar de tudo, melhorou", disse Ricelli.
O fortalecimento das instituições do país após as diretas era
um ponto comum nas opiniões
dos que atuaram no movimento.
Como, por exemplo, Lu Fernandes -à época presidente do Sindicato dos Jornalistas- e o ex-jogador da seleção brasileira de basquete Gilson Trindade de Jesus.
Para o advogado Dalmo de
Abreu Dallari, "foi estimulante
assistir àquele despertar da consciência cívica num ambiente de
medo e descrença. Hoje, falta algo
do gênero para que haja, mais
uma vez, uma reação cívica, mas
agora ao avanço exagerado do
materialismo, que ocorre em detrimento dos valores éticos".
Para o professor de economia
Paul Singer, secretário nacional
de Economia Solidária do Ministério do Trabalho, aquele foi um
tempo de "descompressão social"
diante do autoritarismo, que deixou lição: "As ruas são uma forma
de pressão muito eficiente".
"Não dá para dizer se o sonho se
concretizou. A democracia não
vem para resolver o nosso problema. Mas para oferecer condições
para trabalhar nesse sentido", disse Paulo Otávio de Azevedo Júnior, então presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo.
Luiz Carlos Bresser Pereira, então presidente do Banespa e depois ministro no governo FHC
aponta resultados concretos do
processo iniciado naquela época:
"A democracia permitiu ou forçou um aumento muito grande
no gasto social. A preocupação
que existe é a continuidade disso". Já para Adílson Monteiro Alves, então presidente do Corinthians em plena "Democracia Corintiana", o Brasil ainda não é
aquele que se sonhava. "Mas, sem
dúvida, é bem melhor do que
aquele de há 20 anos."
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