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São Paulo, domingo, 25 de maio de 2003

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Em família, Luciana evita atritos com pai

DA REPORTAGEM LOCAL

Filha do ministro Tarso Genro (Desenvolvimento Econômico e Social), a deputada federal Luciana Genro, 32, aprendeu com o tempo a lidar com as diferenças que a transformaram em uma adversária política do próprio pai.
A intermediação entre os dois, em campos opostos desde a adolescência da agora deputada, ficou sob a responsabilidade da mãe, que chegou a pedir que ambos evitassem falar em política em nome da "unidade familiar".
A estratégia aparentemente deu certo. Prova disso é que, na última terça-feira, depois de participar da divulgação de uma fita com declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticando medidas e pessoas que hoje apóia, ela se reuniu com o pai e a mãe em um jantar de família.
"Quando eu era adolescente nos provocávamos. Mas hoje falamos superficialmente sobre política. Com o meu amadurecimento e com a aceitação dele, evitamos conversas mais acirradas", diz ela.
"Também não peço conselhos nem ele costuma oferecer. Ele nunca me pediu para parar de criticar [o governo] e eu nunca disse: "meu pai, não bota tanto empresário no seu conselho...", provoca.
Mãe aos 17 anos, acabou também disputando com Tarso a atenção do filho, hoje com 15 anos. Segundo ela, até pouco tempo o menino demonstrava maior "simpatia" às idéias do avô. "Eu dizia que ele era "tarsista", ri. "Mas entendia. Cobiçava muito o "apoio" dele, mas, do mesmo jeito que eu divergia do meu pai, achava que ele tinha esse direito."
Aos poucos, o agora adolescente passou para o lado da deputada. "Depois da eleição do Lula então... virou um radical."
Jogador de futebol das categorias de base do Grêmio, o garoto não demonstra interesse em seguir a carreira da família, mas Luciana diz não se importar. ""Ótimo [ele ser jogador]. Não vai ser um Ronaldinho, mas tem talento."
Convivendo com a política desde criança, a deputada cresceu ouvindo histórias sobre o combate ao regime militar. Em 1982, com apenas 11 anos, participou de sua primeira eleição, distribuindo panfletos dos candidatos apoiados pelo ministro.
Já na 8ª série do ensino fundamental, contrariou o pai para poder estudar no colégio público de maior movimentação estudantil da cidade. Lá conheceu o PT.
"Meu pai queria um colégio particular, mais certinho, queria ter certeza de que eu ia estudar e não fazer parte do movimento estudantil", afirma.
Foi lá também onde, aos 14 anos, fez seu primeiro discurso, uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher. "Foi uma emoção grande. Eu tremia, mas com felicidade. Senti que era o meu show, a minha praia."
Ameaçada de expulsão pelo PT, ela passa por um processo semelhante ao que viveu em 1992, quando a corrente de esquerda da qual fazia parte, a Convergência Socialista, foi convidada a se retirar da legenda. Ela preferiu ficar.
Estudante de direito, também já participou da defesa de colegas de faculdade ameaçados de expulsão pelo comando da instituição, mas não teve sucesso. "Não acho que seja um mau presságio", diz. "Sei que hoje não estamos sós. Representamos uma parcela importante do PT e da população."
(PATRICIA ZORZAN)


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