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Ex-coroinha, Babá descobriu o mundo com um megafone
PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem vê o deputado radical no
Congresso, cabelos compridos
abaixo dos ombros, críticas ao
FMI e ao presidente da República,
não imagina que João Batista Oliveira de Araújo, o Babá, 49, já foi
um ""alienado", como ele mesmo
diz, prestou serviços à Igreja como coroinha e só se interessou
por política aos 26 anos de idade.
"Era alienação, sim. Eu era bobo", conta. "Até 1980, estudava,
trabalhava e não sabia nem que
havia movimentos [de luta] no
país. Era a ditadura, e jovem não
participava. Havia a Guerrilha do
Araguaia, e eu não sabia. Esse período todo passou por mim."
O interesse pela carreira que o
fez abandonar a engenharia mecânica e guardar na gaveta o diploma de pós-graduação em
energia solar pelo ITA (Instituto
Tecnológico de Aeronáutica),
uma das instituições de ensino de
maior prestígio do país, surgiu
quando passou a dar aulas na
Universidade Federal do Pará, Estado onde nasceu.
Descoberta do mundo
Em 1980, durante uma greve de
professores por melhores salários, foi incitado por colegas a
promover a paralisação das aulas
em seu departamento, que se recusava a aderir ao protesto. ""Deram um megafone na minha mão
e eu tremia para falar. Mas foi a
descoberta do mundo", resume
ele, sem disfarçar sua felicidade
ainda hoje com a lembrança.
Pouco antes disso havia participado, apenas "por curiosidade",
de um grande ato político em
Osasco (SP). Admite que chegou
lá com a intenção de conhecer de
perto Luiz Inácio Lula da Silva, de
quem ouviu as primeiras notícias
durante sua temporada no ITA.
Somente tempos depois, Babá viria a descobrir que o evento havia
sido um dos atos iniciais de fundação de seu futuro partido.
Com a entrada no PT, em 81,
acabou se integrando à Convergência Socialista, uma das mais
radicais correntes
da sigla na época.
"Foi uma coincidência da vida, ser
da esquerda da esquerda", diz.
Em sua primeira
disputa eleitoral,
em 82, confiante
na vitória, Babá
chegou a apostar
com a mulher que
teriam um filho
caso fosse eleito.
Obteve só 490 votos, mas o filho,
uma menina, não
esperou pela próxima eleição.
Hoje com 17
anos, a adolescente, que mora no
Rio Grande do Sul
com a mãe, seguiu o exemplo de
Babá e milita na mesma corrente
radical da deputada federal Luciana Genro (PT-RS), a Movimento
Esquerda Socialista.
Antes das trocas de farpas públicas de hoje, Lula e "Babazinho", como o presidente costuma
se referir a ele,
voltariam a se encontrar em 83.
Naquele ano, Lula
aproveitou uma
visita ao Pará para
prestar solidariedade ao hoje deputado, que respondia a um processo pela Lei de
Segurança Nacional. Foi enquadrado depois que
a namorada de
um amigo, sobrinha de um coronel do SNI (Serviço Nacional de Informações), levou
para casa material
"subversivo" do partido.
Carinho
"Eu e o Lula temos uma relação
de muito respeito e de carinho.
Nossas divergências políticas são
graves, é difícil não ter sequela,
mas não guardo raiva e creio que
ele também não. Então não acho
que isso vá ser motivo para ficarmos de mal", afirma.
E se a ameaça de expulsão do PT
parece não abalá-lo, talvez seja
porque ela é uma constante em
sua carreira política. Já deputado
estadual, Babá foi expulso do PT
em 92 quando a Convergência Socialista, por divergências com a
direção da legenda, foi ""convidada" a seguir seu próprio rumo.
Foram meses até que ele se desentendesse de novo com os correligionários e deixasse a corrente.
Quase um ano sem partido, pediu
seu retorno ao PT no final de 93.
Marca registrada
Mas, se a rebeldia política veio
tarde para os padrões atuais, a
contestação estética, marcada por
seu cabelo longo, foi adquirida
bem mais cedo. Inspirado em
bandas de rock, resolveu deixar o
cabelo crescer nos anos 70.
De lá pra cá, afirma que o cortou
somente ao entrar na faculdade.
Depois disso, só apara as pontas.
"Tentaram, por causa do cabelo,
me colocar como exótico. Mas vivo a vida tranquilo e normal. Radical, só na defesa das minhas
idéias. Falam do meu cabelo, mas,
mais do que isso, minha marca
são as brigas e as lutas", diz ele.
Tanto é assim que não deixou
passar em branco nem mesmo
uma homenagem de trabalhadores sem terra, que queriam batizar
a fazenda invadida pelo grupo na
região metropolitana de Belém
com o nome do deputado. "Não
dava. Seria uma vergonha porque
não ajudei ninguém por isso."
Sugeriu que dessem ao lugar o
nome do guerrilheiro Che Guevara, mas não foi o suficiente. A rua
onde foi erguido o conjunto habitacional resultante da invasão é
hoje a avenida João Batista Babá.
Por que Babá? "Não sei. Desde
que nasci me entendo por Babá. E
adoro. São quatro palavras que as
crianças do mundo inteiro falam.
Não sei dizer quais são as outras
três, mas Babá sei que é uma. E é
uma glória", conta às gargalhadas. "Só posso adorar esse nome."
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