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Claudio Mendes diz que seu nome foi usado por "corsários"
Ministério Público investiga se sociólogo é o pivô citado em documento do caso Alstom
"Vou ser condenado por um
bilhetinho?", diz o principal
suspeito de ser o suposto
intermediário do governo
paulista em contratos
Carol Guedes/Folha Imagem
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Claudio Luiz Petrechen Mendes ao deixar o prédio do Ministério Público de SP, onde foi depor após receber intimação
MARIO CESAR CARVALHO
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Claudio Mendes, a esfinge
que apareceu na investigação
da Alstom, parece não ser um
personagem de ficção, como
acreditam os promotores suíços que iniciaram a apuração. O
principal suspeito de ser Claudio Mendes, segundo o Ministério Público, é sociólogo, tem
56 anos, atua na área de energia
e teve ligações com a chamada
turma de Pedregulho (SP), grupo que orbitava em torno de
Orestes Quércia (PMDB).
Claudio Luiz Petrechen
Mendes negou à Folha ser ele o
Claudio Mendes citado num
memorando da Cegelec, empresa comprada pela Alstom,
no qual aparece como "um intermediário do G. [governo] de
São Paulo". Nesse documento,
executivos franceses discutem
o pagamento de 7,5% para obter um contrato de R$ 110 milhões da Eletropaulo -a propina seria de R$ 8,25 milhões.
"Corsários"
Ao ser questionado sobre as
razões pelas quais um nome
igual ao seu aparece no documento, ele diz: "Esses executivos são corsários internacionais. Não posso dizer que foi armação, mas é esquisito. Eu vou
ser condenado por um bilhetinho? Não faz sentido".
Mendes foi ouvido ontem pelo Ministério Público após ter
sido identificado pela Folha
como o possível nome citado
nos papéis suíços. Foi à promotoria ao receber uma intimação
para depor na quinta-feira.
Promotores suíços que investigam o pagamento de propinas da Alstom para políticos
tucanos têm informações de
que Mendes e seus associados
receberam cerca de US$ 5 milhões entre 1998 e 2003. A propina visava garantir que a Alstom ganhasse contratos do governo paulista para fornecer
equipamentos para a área de
energia e trens.
O sociólogo diz que nunca
ouviu esses valores. "Em 1996,
eu estava quebrado, não tinha
nem conta em banco".
Ao ser informado de que o
papel sobre a suposta propina é
de 1997, diz que nunca fez negociatas. "Eu morava nos Jardins e fui morar na Pompéia",
conta, citando um bairro rico e
outro de classe média para ilustrar o que chama de "debacle".
Mendes começou a circular
pela Eletropaulo no governo de
Orestes Quércia (1987-1991),
segundo três executivos do setor de energia ouvidos pela Folha sob a condição de que seus
nomes não fossem revelados.
Ainda de acordo com os executivos, foi nessa época que
Mendes passou a vender facilidades para as empresas que faziam negócios com o governo.
Teria ficado tão próximo dessas
empresas que continuou a fazer a intermediação nos governos de Luiz Antônio Fleury Filho, Mário Covas e Geraldo Alckmin. A suposta propina para a Eletropaulo teria sido paga
na administração de Covas.
Mendes confirma que conhecia a turma de Pedregulho (Alfredo de Almeida Junior, Rodolfo Almeida e Francisco Rios,
primo de Quércia), mas nega
ter intermediado pagamentos
entre empresas e o governo.
"Eu conhecia essas pessoas
porque trabalho na área de
energia. Mas só fiz negócios na
iniciativa privada".
Almeida Junior foi afastado
da Eletropaulo em 1991 por
suspeitas de enriquecimento
ilícito. Era acusado de ter gasto
US$ 125 milhões, que seria a
verba total para fazer a sede da
Eletropaulo na Marginal Pinheiros, para levantar só o esqueleto do prédio.
Mendes contou à reportagem ter conhecido o engenheiro franco-brasileiro Jean-Pierre Courtadon, outro investigado da Alstom. O nome Courtadon aparece num memorando
da Cegelec de setembro de
1997, revelado pela Folha na
última sexta-feira, como uma
das pessoas autorizadas a falar
com Claudio Mendes.
Segundo Mendes, ele procurou Courtadon porque ele era
diretor da Cegelec e queria propor um negócio que não vingou
-o uso de contêiner para a base de antenas de celular.
Courtadon afirmou à Folha
por e-mail que foi procurado
por Mendes, que lhe propôs
negócios de "assistência comercial". Mas diz que nunca fechou nenhum acordo com ele.
Courtadon diz "desconhecer
totalmente" o pagamento de
propinas para o governo.
"Gosto de energia"
Mendes foi sócio de Paulo
Bonomo, que foi presidente da
Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.) entre 1990 e
1992. A empresa da dupla,
Cemsa, chegou a ter débitos de
R$ 97 milhões com o INSS.
Bonomo, que já morreu, foi
investigado por, entre outras
coisas, dispensar licitações em
um contrato de R$ 12 milhões.
Atualmente, Mendes é sócio
da Ockham, uma referência ao
filósofo inglês Guilherme de
Ockham (1285-1347). A empresa faz projetos para pequenas
hidrelétricas. "Gosto da área de
energia, mas só atuo no setor
privado", frisa. A empresa anterior dele, a Cemsa, fez obras para a Sabesp e Furnas.
A Folha não conseguiu localizar ontem Quércia nem Almeida Junior.
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