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Antropóloga estudou condição feminina e se projetou com Comunidade Solidária
DA REDAÇÃO
Antes de se tornar nacionalmente conhecida como mulher
do então presidente Fernando
Henrique Cardoso, Ruth Corrêa Leite Cardoso, 77, já tinha
uma longa carreira como antropóloga dedicada a estudos
de gênero e de aculturação.
Contudo, ela só ganhou projeção nacional no governo FHC
por implantar o programa Comunidade Solidária que, de
1995 a 2002, alfabetizou 3 milhões de jovens, capacitou outros 114 mil para o mercado de
trabalho e estimulou a organização de mulheres artesãs em
cooperativas de produção.
Apesar disso, o programa era
criticado até mesmo por aliados do governo, como o senador baiano Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), e pelo ministro das Comunicações, Sérgio Motta, que declarou: "Essa
masturbação sociológica me irrita". FHC respondeu secamente: "Ministro não critica
governo". Motta silenciou.
Discreta, Ruth criticou várias
vezes a imprensa por considerar que tinha sua vida privada
invadida com freqüência.
Na área acadêmica, a antropóloga criou na USP o Núcleo
de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero. Também se destacou por suas duas
teses sobre aculturação dos japoneses no Brasil, que ganharam especial repercussão neste
ano em razão do centenário da
imigração japonesa.
Decidida a estudar filosofia,
Ruth mudou-se de Araraquara
(SP), sua cidade natal, onde
nasceu em 19 de setembro de
1930, para São Paulo aos 19
anos. Na USP, conheceu FHC,
um ano mais novo do que ela.
Eles se formaram em 1952 e se
casaram no ano seguinte. Mas,
enquanto FHC se dedicava à
carreira acadêmica, ela trabalhou também como assistente
na área de recursos humanos
da USP e cuidava dos três filhos
do casal, o que fez com que sua
produção científica progredisse mais lentamente que a dele.
Defendeu seu mestrado em
1970 com o "Papel das Associações Juvenis na Aculturação
dos Japoneses", e seu doutorado em 1972, com a tese "Estrutura Familiar e Mobilidade Social: estudo dos japoneses no
Estado de São Paulo". Fez pós-doutorado na Universidade Columbia (EUA). Publicou ainda
"A Aventura Antropológica".
Seus estudos não tiveram a
mesma repercussão que os de
FHC, conhecido internacionalmente pela teoria da dependência, mas a levaram a lecionar nas universidades de Berkeley (EUA) e Cambridge (Inglaterra). Quando seu marido
foi aposentado compulsoriamente pelo AI-5 em 1968, Ruth
permaneceu vinculada à USP,
enquanto ele se dedicou a fundar o Cebrap (Centro Brasileiro
de Análise e Planejamento).
Em 1975, ela se tornou coordenadora da pós-graduação de
ciência política -área onde
atuou até sua morte. Ruth só
entrou para o Cebrap depois
que FHC deixou o instituto.
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