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ALTA ESPIONAGEM
Opportunity manda espionar TJ-RJ para obter vantagem em disputa com fundos e Telecom Italia
Investigação da Kroll acusa desembargadores de fraude
MARCIO AITH
EDITOR DE DINHEIRO
Além de espionar o governo e
empresas, a Kroll, agência mundial de investigações, também
bisbilhotou o Judiciário. É o que
mostram documentos da investigação privada obtidos pela Folha.
A empresa foi contratada pela
Brasil Telecom -companhia telefônica controlada pelo Banco
Opportunity- para investigar
fraudes na distribuição de processos no Tribunal de Justiça do Rio.
Essas fraudes foram oficialmente apuradas em maio por uma comissão do próprio tribunal. A comissão puniu funcionários, mas
poupou desembargadores, apenas citados no relatório final.
A investigação da Kroll no Judiciário carioca teve como objetivo
dar ao Opportunity vantagem em
disputas judiciais contra fundos
de pensão e contra a Telecom Italia, acionistas da Brasil Telecom
com os quais trava uma batalha.
Em suas incursões pelo Judiciário, arapongas da Kroll seguiram
desembargadores e funcionários
do tribunal. Levantaram números
de telefones dos envolvidos na
fraude e investigaram o software
que deveria garantir a lisura na
distribuição de processos.
Em junho, a Kroll concluiu, para seu cliente, que a investigação
do Tribunal de Justiça foi uma
farsa montada para proteger os
próprios desembargadores e depositar toda a culpa das fraudes
num grupo de funcionários.
A Kroll tirou outra conclusão: a
de que a fraude fora programada
no software usado na distribuição
de processos, e não estaria limitada à atuação de funcionários.
"Focando o uso de funcionários
do tribunal para a manipulação
de distribuição, autoridades do
atual TJ têm sido cúmplices no
que parece ser encobrimento",
avaliou a Kroll em relatório.
"Os motivos [do encobrimento]
são: mostrar que o TJ pode policiar a si mesmo e assegurar que a
investigação seja passada à Promotoria com o objetivo de evitar a
intervenção do STF (que não pode investigar o TJ, mas, sim, seus
desembargadores); prevenir outras investigações a respeito do
oculto e mais eficaz sistema de
manipulação [do software]".
Foi justamente uma disputa judicial entre o Opportunity e os
fundos de pensão que participaram do processo de privatização
das telefônicas o ponto inicial das
denúncias de fraude no tribunal
carioca, feitas em abril passado.
A denúncia foi apresentada por
José Antônio Fichtner, advogado
dos fundos de pensão no processo. Fichtner também fora advogado da Telecom Italia em outras
ações judiciais. Em maio, essas
denúncias motivaram a formação
de uma comissão do TJ constituída por três desembargadores.
Essa comissão concluiu ter havido fraude na forma com a qual
11 processos -todos relacionados a grandes disputas econômicas- foram destinados a um grupo seleto de desembargadores.
Descuidado
A primeira ação da Kroll nessas
investigações foi aproximar-se de
Luiz Carlos Azevedo Barros, então chefe de gabinete da 1ª vice-presidência do tribunal, mais tarde afastado de seu cargo.
"Um diálogo discreto com Luiz
Carlos Azevedo Barros continua",
informa relatório da Kroll feito no
dia 13 de julho. "A propriedade de
Luiz Carlos,..., no meio do bairro
de classe média da Urca, no Rio,
parece muito negligenciada. Ele
próprio está descuidado e aparenta estar deprimido. Concordou
em falar em teoria, mas continua
pedindo mais tempo. A impressão que se tem é que está protegendo alguém", conclui o texto.
"Foi relatado anteriormente
que Luiz Carlos parece ter sob seu
nome cinco linhas telefônicas em
sua residência. Pesquisa posterior
estabeleceram os seguintes detalhes", informa a Kroll, descrevendo os números de parentes do
funcionário. Nesse relatório, a
Kroll não informa se o objetivo de
levantar números de telefones
fosse grampeá-los mais tarde.
A Kroll tentou aproximar-se de
Marcio Barros, filho de Luiz Carlos, encarregado da divisão de informática e também afastado do
serviço por suspeita de fraudar o
sistema. "Ele parece ter em mãos
documentos que planeja usar para ser absolvido ou pelo menos jogar o foco da investigação em outros. Nossos esforços para conversar com Marcio continuam."
Com relação ao sistema de software, a Kroll tenta estabelecer
pontos de contato entre várias
empresas que teriam formulado
programas de distribuição eletrônica de processos no tribunal e liga algumas empresas a famílias de
desembargadores.
"Investigações continuam nas
companhias de tecnologia controladas por NT [o empresário
Nelson Tanure, controlador do
"Jornal do Brasil'] por meio da
Docas.Net, o braço de tecnologia
da Docas Investimentos."
Por essa linha de investigação e
por meio de um sucessão confusa
de fatos, os arapongas da Kroll
chegam a um almoço do qual teria participado, em 2001, o titular
da Secretaria de Comunicação,
ministro Luiz Gushiken.
"Resultados até o momento indicam que a Docas. Net ingressou
numa joint-venture com a Prosisa
Informática (operada por Nathan
Monahan) para criar E-Safe
Transfer. O presidente executivo
da E Transfer é Neissan Manadjem. Seu irmão, Shapoor Monadjen, é ex-presidente da Sade-Vigesa S.A., outra companhia controlada por Nelson Tanure. Em 22 de
fevereiro de 2001, Monadjen almoçou com Gushiken e com Luiz
Roberto Demarco", diz a Kroll.
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