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ALTA ESPIONAGEM
Tiago Verdial é acusado de ter feito monitoramento ilegal de autoridades e de ter corrompido servidores da Receita, PF e Abin
PF prende no Rio espião que prestou serviços para a Kroll
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REDAÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal prendeu ontem no Rio de Janeiro o português
Tiago Verdial, que teria sido designado pela Kroll para comandar
no Brasil o chamado Projeto Tóquio. De caráter internacional, o
objetivo do projeto era obter informações secretas relacionadas
ao setor de telecomunicações.
Contratada pela Brasil Telecom,
a Kroll acabou espionando também autoridades do governo brasileiro, como o ministro Luiz Gu-
shiken (Comunicação de Governo) e o presidente do Banco do
Brasil, Cássio Casseb.
Ontem, além de prender Verdial em sua casa na Urca, às 13h, a
PF executou mandados judiciais
de busca e apreensão de documentos e equipamentos do espião. Até a conclusão desta edição, Verdial não deu declaração.
Transferido para a Superintendência da PF em Brasília, onde ficará preso, Verdial é acusado pela
polícia, entre outras irregularidades, de ter feito monitoramento
ilegal de autoridades e de ter corrompido servidores da Receita
Federal, da PF em São Paulo e,
provavelmente, da Abin (Agência
Brasileira de Inteligência).
Serviço de monitoramento realizado pela equipe de inteligência
da PF detectou, por exemplo, que
um funcionário da Receita Federal repassou à Kroll a declaração
de renda de Casseb.
A informação de que a Kroll estava atuando na área de telecomunicações surgiu em março
deste ano, em decorrência de inquérito instaurado pela PF em janeiro para apurar possíveis irregularidades praticadas por executivos da Parmalat que teriam levado a empresa à falência.
Com base no depoimento de
uma testemunha da PF, surgiu o
nome de Verdial, que estaria corrompendo servidores. A PF passou, então, a monitorar o funcionário da Kroll, com autorização
judicial concedida pela 5ª Vara da
Justiça Federal em São Paulo, na
qual tramita o inquérito relacionado à Parmalat.
Quando a Folha tornou pública
a prática de espionagem na quinta-feira, a PF reviu o rumo das investigações, cujo alvo até então
definido era chegar a quem realmente teria pago a Kroll para espionar o governo. Foi tomada então a decisão de prender Verdial.
Segundo informações levantadas pela PF, o Projeto Tóquio está
em curso pelo menos desde o processo de privatização das companhias telefônicas no Brasil, em julho de 1998. Os focos principais
são Itália e Brasil.
Monitoramento
Aos 30 anos, Verdial foi monitorado pela PF e grampeado num
episódio bizarro. Ao buscar um
emprego na divisão de segurança
da Telecom Italia, admitiu violar
o sigilo telefônico por determinação da Kroll.
No entanto, não imaginava que
estava sendo grampeado pelo
chefe de segurança da Telecom
Italia nem que a empresa apresentaria a fita à PF.
Um CD com a gravação foi entregue no último dia 16 à Polícia
Federal e ao Ministério da Justiça.
Na gravação, Verdial se apresenta
como responsável pela investigação da Kroll nos casos da Parmalat e da TIM, subsidiária da Telecom Italia na área de celulares.
Admite ainda usar métodos ilegais para obter informações.
Procurado pela Folha antes da
prisão, Verdial minimizou seu
papel no caso. ""Eu estou no meio
dessa história toda. Sou a menor
das partes. Sou uma mosquinha
perto disso tudo. Não é comigo
que vocês têm que falar. É com a
Brasil Telecom, é com a TIM, é
com a Kroll."
No CD em poder da Polícia Federal, no entanto, Verdial se apresenta como o responsável pelas
investigações. Indagado se praticava atos ilegais, disse ""sim", na
quebra de sigilo telefônico e bancário. Mas ressaltou, ainda de
acordo com o CD da PF: ""Não estou 100% certo, mas 95%, de que a
Polícia Federal não tenha nenhuma evidência contra mim."
Na conversa, ocorrida no dia 15
passado no Hotel Caesar Park no
Rio, Verdial contou ter descoberto, graças a uma fonte na PF, que
estava sendo investigado pelo governo desde dezembro de 2003,
quando tentou extrair informações contra os italianos do motorista do ex-presidente da Parmalat, Gianne Grisendi. Disse que tinha vontade de se apresentar,
mas "não podia ser um traidor".
Verdial, que foi afastado do caso
depois de a PF tê-lo descoberto,
disse sentir-se deprimido.
Eduardo Gomide, diretor-executivo da Kroll, minimiza o papel
de Verdial na empresa. Segundo
ele, Verdial era estagiário e saiu da
empresa depois de dois anos por
baixo desempenho.
A Folha apurou que uma das
funções de Verdial na Kroll era
não só extrair informações de jornalistas, como também influenciá-los.
Criptografia
Foi apenas coincidência, mas no
mesmo dia em que a Folha noticiou o caso de espionagem industrial-governamental, quinta-feira,
o Palácio do Planalto anunciou
que em breve serão criptografados os telefones celulares de todos
os ministros e também o do presidente da República. Os aparelhos
de fax também serão codificados.
A criptografia só funciona se os
dois aparelhos usados em uma
conversa estiverem ligados ao
mesmo sistema.
(ANDREA MICHAEL, MARCIO AITH, CATIA SEABRA e FERNANDO RODRIGUES)
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