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ALTA ESPIONAGEM
O mercado de "inteligência competitiva" também é um dos mais bem-sucedidos no Brasil, que já tem 500 empresas que atuam no ramo
Kroll fatura US$ 700 mi ao ano no mundo
CATIA SEABRA
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Serviço de inteligência e contra-espionagem. Típicas do cinema
americano, essas expressões acabam de deixar as telas e invadir o
mercado brasileiro. No Brasil, já
são 500 empresas destinadas à
"inteligência competitiva". São
especializadas na "busca de informação" e à "proteção do conhecimento sensível" no mercado. Os
agentes podem até ser discretos,
mas os orçamentos são cinematográficos. Exemplo: em 2003, a
Kroll Inc. faturou US$ 700 milhões. Em maio, foi comprada pela Marsh a US$ 1,9 bilhão.
No Brasil, seu patrimônio cresce
100% ao ano, segundo o diretor-executivo Eduardo Gomide. Em
2001, tinha dez funcionários. Hoje
são 60. Seus preços não são nada
acanhados. Só para obter informações em processos sobre uma
única pessoa no Tribunal de Justiça do Rio, a Kroll cobra, segundo
relatório da Polícia Federal,
1.500 (R$ 5.500). Procurar um juiz
vale 10 mil, ou R$ 36.800.
No país, não é só a Kroll que
cresce. Com a banalização da espionagem, as empresas tentam se
proteger. E pagam o preço. No
mercado, um rastreamento de escuta pode custar R$ 50 por metro
quadrado, dependendo do ambiente. A varredura de linha telefônica varia de R$ 400 a R$ 600.
A rede Spycom -criada há dois
anos- chega a vender o conjunto
completo de varredura telefônica
a US$ 50 mil (pouco mais de R$
150 mil). Um de seus sócios, Cássio Posvolsky conta que, semanalmente, cerca de cinco novas empresas procuram os serviços de
contra-espionagem, sempre de
grande porte e vítimas de grampo
ou vazamento de informação.
Esse o mesmo perfil dos clientes
de Adriana Gobbo, da Illix Tecnologia e Inteligência. Uma das especializadas em sistema de segurança criptografado (contra
grampo telefônico e invasões no
computador), a empresa tem um
crescimento de 70% ao ano desde
que foi criada, há 3 anos. "A procura cresceu absurdamente", diz.
"E, se contratam serviço antigrampo, é porque existe grampo", arremata Marco Antonio dos
Santos. Dono da Prospect Intelligence, em Brasília, Santos -que
foi operador de Inteligência Institucional nas Forças Armadas-
admite ser procurado para instalação de escuta clandestina. Jura
que não aceita: "É um lucro fácil.
Mas perigoso para quem é de pequeno porte".
Mas há quem faça. Tanto que
cresce a oferta de equipamentos
de espionagem. Um deles é um
transmissor embutido em celulares, carregado pela bateria do aparelho. Nos sites, é vendido como
instrumento excelente para qualquer investigação, já que "pode
ser deixado em qualquer lugar como se você o tivesse esquecido".
Também é possível encontrar
canetas com transmissão de áudio e vídeo, com "excepcional
qualidade de imagem e som" e
micro receptores de áudio de ouvido, entre outros produtos.
Além da disponibilidade, é cada
vez mais barato. Atualmente, segundo Avi Dvir, sócio-gerente da
Spycom, um grampo custa R$
300, de 20% a 30% do valor de
dois anos atrás.
A falta de regras também colabora com essa proliferação de "inteligência competitiva". Com status jurídico de consultoria, não
precisam estar registradas na Polícia Federal, como os detetives
particulares. Também não existe
no país nenhuma legislação que
puna espionagem. Nem há regulamentação da profissão de "analistas de inteligência competitiva". "Só existe nosso código de
conduta", admite a presidente da
Associação Brasileira de Analistas
de Inteligência Competitiva
(Abraic), Elaine Marcial.
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