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Decisão foi de comitê, afirma Rioli
RENATO FRANZINI
DA REDAÇÃO
O ex-vice-presidente de operações do Banespa Vladimir Antônio Rioli diz que não tomou sozinho a decisão de dar empréstimos
à tecelagem Calfat S/A em 1992.
Segundo ele, a decisão foi tomada por um comitê formado por 15
diretores do banco, com base em
relatórios de áreas inferiores.
A revista "IstoÉ" diz que Rioli liberou dois empréstimos à Calfat,
um de R$ 1,7 milhão e outro de
US$ 3 milhões. Na madrugada de
ontem, Rioli falou à Folha:
Folha - O sr. aprovou dois empréstimos à Calfat?
Vladimir Antônio Rioli - Todas as
operações dessa natureza são
aprovadas pelo comitê de crédito
[do Banespa]. Nenhum diretor ou
vice-presidente tem poderes para
aprovar sozinho uma operação
dessas. São 15 diretores [no comitê] e todos têm o voto igualitário.
Folha - A votação foi unânime?
Rioli - Não me recordo. Mas eu
votei a favor. As operações vêm
das áreas inferiores, que vão dando as recomendações e vão negociando com o cliente a forma da
operação, as garantias, sempre
respeitando a regra do banco.
Quando [a operação de empréstimo] chega para o comitê, já chega
uma recomendação pronta.
Folha - O sr. liberou para a Calfat
o equivalente hoje a R$ 1,7 milhão?
Rioli - Eu não liberei nenhuma
operação de R$ 1,7 milhão. Não
sei de onde tiraram isso aí. Olha,
tem aqui uma assinatura minha
que é de 16 de abril de 1992. Essa
operação é a dos US$ 3 milhões.
Folha - E essa do R$ 1,7 milhão?
Rioli - Não sei. O que existe é o
seguinte. O comitê de crédito
aprovou essa operação dos US$ 3
milhões. Mas, antes, eles [a Calfat]
já operavam com o banco. Eu desconheço que operação é essa [de
R$ 1,7 milhão]. Não é que não
exista. A Calfat fez outras operações aprovadas pelo comitê.
Folha - A revista diz que a Calfat
estava em processo de liquidação.
Rioli - Que eu me recorde, não
estava. Ao contrário, estava em
processo de investimento.
Folha - O então governador Luiz
Antônio Fleury Filho sabia da operação com a Calfat?
Rioli - Que eu saiba não. Os empréstimos eram feitos em nível interno do banco, sem interferência.
Folha - O sr. foi indicado pelo
PSDB ao cargo?
Rioli - Não, não. Fui convidado
pelo presidente do banco.
Folha - O sr. arrecadou dinheiro
para a campanha de Serra?
Rioli - Não, nunca fui arrecadador de campanha. Sou um profissional de mercado, de banco.
Folha - Uma das suposições é que
o dinheiro que vem das Ilhas Cayman é de sobras de campanha.
Rioli - Fantasiosa essa suposição.
Folha - O sr. acha que é comum
uma empresa como a Calfat levantar US$ 3 milhões no exterior?
Quem compraria esses títulos?
Rioli - Olha, as operações são feitas dentro de regras bancárias.
Como essas, outras operações são
feitas no mercado bancário. Tem
de ver à luz da época.
Folha - O que fazia a empresa que
o sr. teve com Serra [de 86 a 95]?
Rioli - Era uma empresa de consultoria. O Serra acabou eleito deputado e não tinha mais sentido
ficar trabalhando.
Folha - Ele tinha 10%?
Rioli - Ela era minoritário, mas
não me lembro quanto. Era uma
empresa pequena. Te garanto que
não tinha mais de US$ 10 mil de
capital. Só teve um balanço, de 86.
Folha - Por que funcionou até 95?
Rioli - A formalidade no Brasil
para fechar é de outra natureza.
Você tem de manter a empresa no
mínimo cinco anos registrada.
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