|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PALANQUE LIVRE
Com ajuda de veículo, presidenciável do PSB foi eleito deputado estadual, prefeito de Campos e governador do Rio
Garotinho usa rádio para conquistar votos
MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO
Desde que assumiu publicamente a pré-candidatura à Presidência, em dezembro, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho
(PSB) mantém um hábito diário:
falar para rádios do Brasil inteiro.
Seja onde estiver, a partir das 7h,
já está no ar. Em média, concede
dez entrevistas por dia.
Radialista desde os 16 anos, Garotinho sabe da importância do
veículo em sua corrida ao Planalto. Graças, em boa parte, ao rádio,
foi eleito deputado estadual, foi
duas vezes prefeito de Campos
(RJ), sua terra natal, e em 98 chegou ao governo do Rio.
"O rádio supre a nossa deficiência de tempo na televisão", diz
Elysio Pires, responsável pelo
marketing político de Garotinho.
Depois do programa nacional
do PSB na TV, em 16 de maio, o
partido só contará com algumas
inserções em São Paulo e no Maranhão antes do início do horário
eleitoral gratuito, em agosto.
Hoje, além das entrevistas a rádios do país inteiro, Garotinho
comanda um programa diário de
dez minutos na FM Melodia, do
Rio, que é retransmitido para seis
capitais. A emissora, de linha
evangélica, é a líder entre as FMs
cariocas. São 200 mil ouvintes por
minuto, segundo o Ibope.
Aos sábados, desde que deixou
o governo, em abril, comanda
ainda o "Show do Garotinho",
com duas horas de duração na
Tupi AM, também no Rio. A rádio está em segundo lugar entre as
emissoras AM da capital, com 400
mil ouvintes por minuto.
As duas emissoras atingem um
público específico: o das classes C,
D e E, que se concentra nas regiões metropolitanas das grandes
cidades, segmento em que Garotinho tem o melhor desempenho
em pesquisas de intenção de voto.
Pela lei eleitoral, Garotinho poderá conduzir programas de rádio até o dia 30 de junho.
Para Elysio Pires, a grande vantagem do rádio é o seu poder de
convencimento, por causa da
aproximação entre o ouvinte e o
candidato. "Neste momento, há
muito pouco voto consolidado e,
no rádio, a tendência do Garotinho de convencer o ouvinte é
muito forte, justamente porque
ele conhece e sabe usar o veículo
como ninguém", afirma Pires.
O marqueteiro explica que, nas
entrevistas que dá pelo Brasil afora, o presidenciável faz questão de
saber previamente a área de cobertura da rádio, porque assim
pode falar com o ouvinte fazendo
referência à região onde mora.
"Isso estabelece uma relação muito íntima do comunicador com o
público ouvinte", diz Pires.
Como a maioria dos políticos,
ele também aproveita as atrações
populares do rádio para dar um
tom mais agressivo às críticas a
adversários. No começo do mês,
em um programa de rádio de Teresina (PI), chegou a acusar Serra
de estar usando dinheiro das privatizações em sua campanha e de
estar "comprando gente" com
sua "candidatura milionária".
Além disso, costuma fazer promessas já se apresentando como
candidato -o que, antes de julho,
pode ser considerado crime eleitoral. Duas semanas atrás, por
exemplo, o ex-governador afirmou, na rádio Capital AM (SP):
"No meu governo, o jovem vai ter
o crédito educativo garantido."
Desde sua primeira eleição, a
deputado estadual pelo PDT, em
1986, Garotinho nunca ficou longe do rádio. Na época, tinha um
programa em uma emissora de
Campos e, dos seus 35 mil votos,
80% vieram dos campistas.
"A oligarquia da cana-de-açúcar, que dominava Campos há décadas, nunca teve propostas para
a área social e Garotinho, no rádio, supriu a deficiência. Por
exemplo, a prefeitura não dava
auxílio funeral para seus servidores. Quem é que fazia o enterro?
Era o programa dele. Garotinho
passou a ser para a população
mais humilde aquele que desenvolvia uma política social na cidade", diz o economista Ranulfo Vidigal, que acompanha o ex-governador desde a juventude.
Com o amigo Vidigal e o auxílio
do PDT, Garotinho montou, em
1987, um instituto de pesquisa. Os
dois tabulavam sondagens de opinião, que orientavam o programa
de rádio. A estratégia levou o então deputado a se eleger prefeito
de Campos, em 1988.
Em 1996, Garotinho foi novamente eleito prefeito de Campos,
com 70% dos votos. Dois anos antes, fora derrotado pelo tucano
Marcello Alencar na eleição para
o governo do Estado.
Em 1998, com a ajuda do rádio e
do eleitorado do PT, que indicou
a então senadora Benedita da Silva para a vaga de vice de sua chapa, Garotinho ganhou a eleição de
governador contra o atual prefeito da cidade do Rio, Cesar Maia,
então no PTB.
Colaborou RANIER BRAGON,
da Agência Folha
Texto Anterior: Veículo é ideal para acusações sem "outro lado" Próximo Texto: Frases Índice
|