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CÂMARA
Partido tem a maior representação de funcionários públicos entre deputados
PFL tem mais servidores que o PT
RAFAEL CARIELLO
DA REDAÇÃO
O PFL, que teve papel fundamental nas reformas liberalizantes que diminuíram o tamanho
do Estado na década de 90, é também o partido com maior representação de funcionários públicos
entre seus deputados federais.
Muito maior que a do PT, tradicionalmente associado à defesa
dos interesses dos servidores. O
Partido da Frente Liberal tem
24% dos seus integrantes na Câmara advindos de ocupações ligadas às administrações municipais, estaduais e federal. Entre os
petistas, por sua vez, os deputados
oriundos do serviço público representam meros 3%.
A informação se encontra em
estudo realizado pelo professor de
ciência política da Unicamp
Leôncio Martins Rodrigues, 68.
Deve virar livro nos próximos
meses, pela Edusp, sob o título
"Partidos, Ideologia e Composição Social".
A explicação para a aparente
contradição, segundo Rodrigues,
está na relação do PFL com o poder e nos demais grupos sociais
do partido. "A bancada do PFL é a
que tem mais parlamentares saídos da alta burocracia estatal,
além da proporção ainda mais
elevada de empresários", diz o
pesquisador.
"Além disso, a pesquisa capta a
composição a partir da última
ocupação antes da entrada na
classe política. O PFL está no poder há muito tempo. A atual composição de sua bancada reflete esse fato. Mas veja que o PFL tem
bem mais empresários do que
funcionários públicos."
Para além desse dado significativo, o estudo procura demonstrar que a repisada idéia de fragilidade e de ausência de coerência
do quadro político-partidário no
Brasil é falsa. O professor da Unicamp conseguiu mostrar que a
orientação ideológica dos partidos, e sua atuação no Congresso,
está intimamente ligada à origem
social de seus integrantes.
"Os conflitos e as opções partidárias na Câmara dos Deputados
não podem ser adequadamente
entendidos sem referência aos interesses que a composição social
dominante dos partidos sugere",
escreve Rodrigues.
Partindo da declaração de bens
que os candidatos a cargos eletivos devem registrar nos TREs
(Tribunais Regionais Eleitorais) e
das profissões dos deputados antes de assumirem o cargo, Rodrigues traçou o perfil social dos seis
maiores partidos na Câmara: PFL,
PSDB, PMDB, PPB, PT e PDT.
"Ricos" e "pobres"
O pesquisador dividiu os deputados em quatro faixas de patrimônio. Os partidos tradicionalmente reconhecidos como de direita (PFL e PPB)
são também os mais "ricos", do
ponto de vista da posição econômica de seus integrantes. No PFL,
28,6% dos deputados do partido
se encontram na faixa de alto patrimônio, e no PPB, 21,6% -contra nenhum deputado nessa faixa
no PT, e 9,1% no PDT.
Os partidos reconhecidos como
pertencendo à esquerda são, pelo
mesmo levantamento, os mais
"pobres". No PDT, 40,9% dos
seus representantes na Câmara
estão na faixa do baixo patrimônio, índice que sobe para 80,4%
dos deputados do PT.
A maior ou menor homogeneidade social dos partidos contribuiria, por sua vez, para a maior
ou menor coesão e disciplina dos
partidos.
"Acredito que bancadas mais
homogêneas do ângulo sócio-ocupacional são capazes, relativamente, de definir com mais clareza e menos divergências seus interesses. Se assim for, a maior disciplina vem da maior coesão, que
vem da maior homogeneidade
social", diz Rodrigues.
Seguindo esse raciocínio, não
seria gratuito que partidos como
o PT -com 100% de seus integrantes pertencentes às faixas de
baixo ou médio-baixo patrimônio- e o PFL -com 61% de empresários e 62,9% de deputados
com patrimônio alto ou médio-alto- sejam reconhecidos como
os mais coesos e claramente
orientados ideologicamente.
O mesmo raciocínio, com resultados inversos, poderia valer para
o PMDB -partido com significativas divisões internas e que, ao lado do PSDB, tem a composição
social mais heterogênea das seis
siglas analisadas.
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