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ELIO GASPARI
O grampo da DPF foi uma armação anti-PT
El Primer Mandatario tiene
el dever de explicar por que a
Polícia Federal pediu à Justiça a
quebra do sigilo telefônico de sete pessoas ligadas ao falecido
prefeito Celso Daniel, de Santo
André, dizendo que os aparelhos "estariam sendo utilizados
sistematicamente como meio de
contato na articulação de organização criminosa atuando junto ao tráfico de drogas". El tucanato está ficando parecido com
o PRI mexicano da sua pior fase. Pena, porque el senador José
Serra tem qualificações suficientes para ser eleito presidente da
República. O que ele não tem é
biografia dentro da qual caibam grampos policiais para fritar candidaturas rivais. Para
que isso aconteça, precisará jogar um pedaço de seu passado
ao mar. O caso de FFHH pode
vir a ser mais triste, faltam-lhe
poucos meses para deixar el Planalto com uma biografia de tolerância e jogo limpo que dão à
sua Presidência uma categoria
exemplar. Arrisca-se a virar um
caso raro de político que se mexicaniza na salida. (Vale o registro de que o povo mexicano
varreu o PRI e deu ao presidente
Vicente Fox um mandato para
acabar com a cleptocracia que
desgraçou o seu país por mais de
meio século.)
Ainda está na memória das
pessoas a operação policial que
moeu a candidatura de Roseana Sarney. É verdade que ela tinha R$ 1,34 milhão em dinheiro
vivo no cofre de sua empresa e,
em menos de duas semanas, deu
quatro explicações diferentes e
absurdas para explicar a origem
do dinheiro. Também é verdade
que o governo sabia da fritura
da candidata antes da ocupação de seu escritório. Do episódio restou a suspeita de que a
Polícia Federal gravava os telefones de Roseana Sarney e só
entrou na Lunus quando soube
que havia dinheiro no cofre.
Talvez fosse suspeita de maledicente.
O que sucedeu agora ao PT resultou na ressurreição das piores suspeitas. A Polícia Federal
iludiu o juiz que concedeu a
quebra do sigilo (ou, pelo menos, iludiu quem quer que venha a ler o documento em que
pediu a providência). Repetiu a
malsinada conduta de 1995,
quando o ex-secretário particular do presidente da República
Francisco Graziano, em condomínio com o irmão do então diretor da Polícia Federal, iludiu
um juiz e grampeou o chefe do
cerimonial do Planalto.
Quando uma autoridade policial pede a quebra do sigilo telefônico de um cidadão alegando
falsos motivos (a ligação com o
tráfico de drogas, por exemplo),
comete-se uma delinquência
pior que a dos grampeadores
vulgares. Os grampeadores do
BNDES praticaram um ilícito
puro e simples. Foram lá e
grampearam os doutores.
Quando se pede a um juiz que
autorize um grampo falso, os ilícitos são dois. Um está na escuta
em si, pois se pretende algo que
nada tem a ver com o que foi solicitado. O outro está no engodo
da autoridade judiciária.
A Polícia Federal obteve da
Justiça autorização para escutar
os telefones do gabinete do atual
prefeito de Santo André, da namorada do falecido Celso Daniel e da sogra de um ex-secretário municipal. Obteve-a para
aquilo que denominou "Operação Távola Redonda", destinada a investigar eventuais irregularidades ocorridas na Prefeitura de Santo André que pudessem ter relação com o assassinato de seus prefeito. Tudo nos
conformes. Bastava pedir a quebra do sigilo com base nessa suspeita.
A descoberta do grampo da
Polícia Federal leva água (y mucha) para a teoria de que as investigações de Santo André são
uma "armação" destinada a
prejudicar a candidatura de Lula. O trabalho da força-tarefa de
promotores paulistas não podia
ser desqualificado como trama,
mas, se a ele se junta a operação
policial, o que não era armação
parte de uma armação passa a
ser.
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