São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 2002

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ELIO GASPARI

O grampo da DPF foi uma armação anti-PT

El Primer Mandatario tiene el dever de explicar por que a Polícia Federal pediu à Justiça a quebra do sigilo telefônico de sete pessoas ligadas ao falecido prefeito Celso Daniel, de Santo André, dizendo que os aparelhos "estariam sendo utilizados sistematicamente como meio de contato na articulação de organização criminosa atuando junto ao tráfico de drogas". El tucanato está ficando parecido com o PRI mexicano da sua pior fase. Pena, porque el senador José Serra tem qualificações suficientes para ser eleito presidente da República. O que ele não tem é biografia dentro da qual caibam grampos policiais para fritar candidaturas rivais. Para que isso aconteça, precisará jogar um pedaço de seu passado ao mar. O caso de FFHH pode vir a ser mais triste, faltam-lhe poucos meses para deixar el Planalto com uma biografia de tolerância e jogo limpo que dão à sua Presidência uma categoria exemplar. Arrisca-se a virar um caso raro de político que se mexicaniza na salida. (Vale o registro de que o povo mexicano varreu o PRI e deu ao presidente Vicente Fox um mandato para acabar com a cleptocracia que desgraçou o seu país por mais de meio século.)
Ainda está na memória das pessoas a operação policial que moeu a candidatura de Roseana Sarney. É verdade que ela tinha R$ 1,34 milhão em dinheiro vivo no cofre de sua empresa e, em menos de duas semanas, deu quatro explicações diferentes e absurdas para explicar a origem do dinheiro. Também é verdade que o governo sabia da fritura da candidata antes da ocupação de seu escritório. Do episódio restou a suspeita de que a Polícia Federal gravava os telefones de Roseana Sarney e só entrou na Lunus quando soube que havia dinheiro no cofre. Talvez fosse suspeita de maledicente.
O que sucedeu agora ao PT resultou na ressurreição das piores suspeitas. A Polícia Federal iludiu o juiz que concedeu a quebra do sigilo (ou, pelo menos, iludiu quem quer que venha a ler o documento em que pediu a providência). Repetiu a malsinada conduta de 1995, quando o ex-secretário particular do presidente da República Francisco Graziano, em condomínio com o irmão do então diretor da Polícia Federal, iludiu um juiz e grampeou o chefe do cerimonial do Planalto.
Quando uma autoridade policial pede a quebra do sigilo telefônico de um cidadão alegando falsos motivos (a ligação com o tráfico de drogas, por exemplo), comete-se uma delinquência pior que a dos grampeadores vulgares. Os grampeadores do BNDES praticaram um ilícito puro e simples. Foram lá e grampearam os doutores. Quando se pede a um juiz que autorize um grampo falso, os ilícitos são dois. Um está na escuta em si, pois se pretende algo que nada tem a ver com o que foi solicitado. O outro está no engodo da autoridade judiciária.
A Polícia Federal obteve da Justiça autorização para escutar os telefones do gabinete do atual prefeito de Santo André, da namorada do falecido Celso Daniel e da sogra de um ex-secretário municipal. Obteve-a para aquilo que denominou "Operação Távola Redonda", destinada a investigar eventuais irregularidades ocorridas na Prefeitura de Santo André que pudessem ter relação com o assassinato de seus prefeito. Tudo nos conformes. Bastava pedir a quebra do sigilo com base nessa suspeita.
A descoberta do grampo da Polícia Federal leva água (y mucha) para a teoria de que as investigações de Santo André são uma "armação" destinada a prejudicar a candidatura de Lula. O trabalho da força-tarefa de promotores paulistas não podia ser desqualificado como trama, mas, se a ele se junta a operação policial, o que não era armação parte de uma armação passa a ser.



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