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Antropóloga se destaca por ter inovado políticas sociais do país, dizem amigos
DA REPORTAGEM LOCAL
O velório de Ruth Corrêa Leite Cardoso, 77, foi, além de um
encontro político, uma demonstração da importância da
antropóloga e ex-primeira-dama como referência acadêmica
e figura pública. Professores,
pesquisadores e ex-orientandos foram se despedir daquela
que consideravam uma "inspiradora e amiga".
Ruth já tinha uma longa carreira como antropóloga dedicada a estudos de gênero e de
aculturação quando, em 1995,
se tornou conhecida nacionalmente como a mulher do então
presidente FHC.
Antes de chegar a Brasília,
Ruth se destacou, na área acadêmica, ao criar na USP o Núcleo de Estudos da Mulher e
Relações Sociais de Gênero. A
relevância de suas duas teses
sobre aculturação dos japoneses no Brasil voltou a repercutir
neste ano, em razão do centenário da imigração japonesa.
Na academia, fez grandes
amigos. A socióloga Gilda Figueiredo Portugal Gouvea estava ontem entre os mais emocionados. "Era uma mulher incrível, independente e crítica.
Ser mulher de Fernando Henrique não era nada fácil, e ela
nunca foi sombra." Para Gouvea, a maior perda é a da amiga
Ruth. "Uma mulher que cozinhava bem, assistia novelas e
era dedicada aos amigos."
Seus estudos não tiveram a
mesma repercussão que os de
FHC, conhecido internacionalmente pela teoria da dependência, mas a levaram a lecionar em Berkeley (EUA) e Cambridge (Inglaterra).
Para a socióloga Anna Peliano, Ruth foi responsável pela
mudança no perfil das políticas
de combate à pobreza, que ganharam maior importância no
governo. Na gestão tucana, de
1995 a 2002, o programa Comunidade Solidária, implantando por ela, alfabetizou 3 milhões de jovens, capacitou 114
mil para o mercado de trabalho
e estimulou a organização de
mulheres artesãs em cooperativas de produção.
Apesar disso, o programa foi
criticado por aliados do governo, como o senador Antonio
Carlos Magalhães, do então
PFL, e pelo então ministro das
Comunicações, Sérgio Motta,
que declarou: "Essa masturbação sociológica me irrita". FHC
respondeu: "Ministro não critica governo". Motta calou.
Amigo de Ruth desde os anos
60, o governador José Serra
disse que um dos legados da antropóloga foi ter elevado as políticas sociais a outro patamar.
Discreta, Ruth criticou várias
vezes a imprensa por considerar que tinha sua vida privada
invadida com freqüência. Durante sua última internação,
voltou a reclamar do assédio ao
tucano Clóvis Carvalho.
Também reclamava do título
de primeira-dama e, em 1997,
chegou a dizer a jornalistas:
"Eu não sou primeira-dama. Isso é coisa dos Estados Unidos e
vocês é que inventaram aqui".
Decidida a estudar filosofia,
Ruth mudou-se de Araraquara
(SP), onde nasceu em 19 de setembro de 1930, para São Paulo
aos 19 anos. Na USP, conheceu
FHC, um ano mais novo do que
ela. Eles se formaram em 1952,
se casaram no ano seguinte e tiveram três filhos.
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