São Paulo, sábado, 26 de julho de 2008

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Sem-terra invadem fazenda do grupo de Dantas no Pará

Denúncias de lavagem de dinheiro contra banqueiro motivaram ação, diz líder do MST

Cerca de mil agricultores participaram do ato que teve início na madrugada de ontem; reintegração de posse ainda não foi pedida

Edinaldo Sousa
Integrantes do MST durante invasão da fazenda Maria Bonita em Eldorado do Carajás (PA); área pertence a empresa do Opportunity

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

Cerca de mil integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiram ontem, no sudeste do Pará, uma fazenda da Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, empresa do grupo Opportunity, de Daniel Dantas.
O movimento afirma que a área é do Estado e foi irregularmente comprada com dinheiro público desviado pelo grupo.
Chamada de Maria Bonita, a fazenda de criação de gado tem 3.500 hectares, fica em Eldorado do Carajás (PA) e é uma das 43 aquisições feitas pela empresa na região desde 2005.
A invasão começou por volta das 5h30 de ontem. Cantando a marchinha "Acorda, Maria Bonita", numa ironia ao nome do lugar, os trabalhadores rurais, vindos de cidades como Parauapebas e Xinguara (ambas no Pará), cortaram a cerca que separa a propriedade da PA-150 e armaram suas barracas às margens da rodovia.
Não houve agressões, mas, pela manhã, segundo os sem-terra, funcionários da empresa estiveram no acampamento e ensaiaram tirá-los à força.
"O gerente [da fazenda] estava armado", afirmou Charles Trocate, um dos líderes dos invasores -que, por sua vez, portavam facões e machados. "Por enquanto, as coisas estão um pouco tensas lá", disse Airton Pereira, da CPT (Comissão Pastoral da Terra), que visitou o local. Policiais militares estiveram no acampamento e monitoram a situação.
"Houve uma somatória de fatores [para a ação]", disse Trocate. "Primeiro, devido às denúncias de lavagem de dinheiro por parte do Daniel Dantas; segundo, porque a reforma agrária só é feita quando os trabalhadores vão para o front e ocupam as terras", afirmou.
De acordo com Maria Raimunda César, da coordenação do MST no Pará, o movimento cogitava desde março deste ano invadir alguma das fazendas da empresa no Estado.
A invasão ocorre também para comemorar o Dia do Trabalhador Rural (25 de julho) e para protestar contra uma suposta onda de "criminalização" dos movimentos sociais, diz o MST.
Até a conclusão desta edição, ainda não havia sido pedida a reintegração de posse da fazenda. Segundo dados apresentados pela empresa, a unidade tem uma produtividade acima da média do Estado.

Indícios
A Maria Bonita é uma das cinco fazendas que a Santa Bárbara comprou, há quase três anos, de Benedito Mutran Filho, então um dos maiores pecuaristas do Pará. Segundo a Folha revelou nesta semana, há indícios de irregularidades na aquisição dessas terras, pois elas eram aforadas -propriedades do Estado cedidas para colonização e extrativismo. Assim, só poderiam ter sido vendidas com autorização do Iterpa (Instituto de Terras do Pará), o que o governo paraense disse não ter ocorrido. O ex-proprietário e a Santa Bárbara afirmam que as aquisições foram legais. O caso é investigado pela Procuradoria do governo de Ana Júlia Carepa (PT).
A empresa também aparece como suspeita de lavar dinheiro do Opportunity no inquérito da Operação Satiagraha da Polícia Federal. A empresa nega que tenha tido essa função.


Com EDINALDO SOUSA, colaboração para a Agência Folha, em Eldorado do Carajás (PA)


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