|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Políticos negam ter traído eleitores
DA AGÊNCIA FOLHA
DA REDAÇÃO
DA SUCURSAL DO RIO
Prefeitos afirmam não estar
traindo seus eleitores ao trocar de
cidade para tentar um novo mandato -e, com isso, ficar na inusitada situação de governar uma cidade e votar em outra.
"Como não posso ser candidato
à reeleição na cidade que administrei, eles [eleitores] acham que
deveria buscar meu caminho",
diz o prefeito de São José (SC),
Dário Berger (PSDB, ex-PFL).
Na semana do dia 3 de outubro,
prazo para mudança de domicílio
eleitoral, ele transferiu o seu para
Florianópolis, onde deverá disputar a prefeitura no ano que vem.
Do centro de São José, é possível
enxergar a Ilha de Santa Catarina,
onde está a capital. As cidades são
vizinhas, mas Florianópolis possui mais eleitores (256.004 contra
115.079).
"Ser prefeito da capital é o sonho de todo político. É mais um
degrau na vida pública."
No caso de Berger, a possibilidade de disputar o terceiro mandato
consecutivo veio casada com a
mudança de partido. Sem candidatos fortes para disputar a prefeitura da capital, o PSDB catarinense viu no prefeito vizinho uma
possibilidade de vitória.
Ainda em Santa Catarina, o prefeito de Paial, Névio Antônio
Martori (PPS, ex-PFL), se mudou
para Itá.
"O PPS ofereceu a possibilidade
de uma candidatura a prefeito em
Itá [cidade vizinha, de onde Paial
foi desmembrada em 1996]", disse Martori, que já foi vereador
(1988-92) e vice-prefeito (1992-96) de Itá. Desde a criação de
Paial, ele é o prefeito.
Visita a eleitores
A prefeita de Joca Marques (PI),
Janainna Marques (PFL), 27, se
transferiu para Luzilândia, município do qual Joca Marques foi
desmembrado em 1996.
A prefeita disse que visitou a
maioria dos 5.000 moradores e
que eles autorizaram sua transferência. "Eles diziam que, se eu não
podia mais ficar aqui, concordavam com a mudança."
Janainna é sobrinha do atual
prefeito de Luzilândia, Izmar
Marques (PFL).
O prefeito de São Miguel da Baixa Grande (PI), Jeneílson Pio (ex-PFL), é agora eleitor de Passagem
Franca. Pio teve o mandato suspenso pelo TRE-PI por suspeita
de compra de votos na eleição,
mas foi reconduzido ao cargo pelo TSE. Com um terceiro mandato, o prefeito manteria o foro privilegiado. O telefone da casa do
prefeito diz que está temporariamente desligado, e ninguém atende no telefone da prefeitura. A
troca de domicílio eleitoral do
prefeito foi confirmada pelo presidente da Câmara Municipal,
Chico Negro (PSDB).
"Planos de vida"
No Rio, os prefeitos de Mangaratiba, Carlo Bussato Júnior
(PFL), Paraíba do Sul, Rogério
Onofre (PP), e Macuco, Maurício
Bittencourt Papelbaum (PP), mudaram seu domicílio para Itaguaí,
Três Rios e Cordeiro, respectivamente.
A troca de siglas não causa embaraço aos prefeitos. "Eu adoto
aqui o pragmatismo", diz Onofre.
"O meu partido é a cidade que eu
administro." Eleito pelo PSD, ele
migrou para o PSB e, com a saída
do ex-governador Anthony Garotinho do partido, aderiu ao PP.
"Não estava nos meus planos de
vida ser candidato de novo. Mas o
povo puxa, ninguém vai ser candidato se não tiver a vontade popular", diz Bussato, que começou
a carreira no PL e se elegeu prefeito pelo PSDB. Ele atribui à atuação de "forças ocultas" a decisão
recente de se filiar ao PFL.
"Missão" de vida
Warmillon Fonseca Braga
(PFL), 37, prefeito de Lagoa dos
Patos, no norte de Minas, diz que
sua "missão" é servir à política.
Braga, produtor rural, quer trocar Lagoa dos Patos (4.400 habitantes) por Pirapora (50,3 mil),
distante 60 km, sua cidade natal.
Diz que, pela sua experiência, sabe "direitinho" como a máquina
pública funciona.
"O melhor instrumento que um
ser humano pode ter na mão para
ajudar as pessoas é um mandato
de prefeito", afirma ele.
Ronaldo Mota Dias (PL), 45,
prefeito de São João da Lagoa,
também no norte de Minas, diz
que já cumpriu o seu "projeto político" lá. Quer agora ser prefeito
em Coração de Jesus (25,7 mil habitantes), do qual São João da Lagoa (4.400 habitantes) se emancipou em 1995. "Elegi-me em cima
de um projeto político, e esse projeto está pronto. Eu encerrei ele
um ano e meio antes da eleição.
Os meus compromissos e as minhas metas, eu acabei em março
deste ano", disse.
Irmão de PC
Em Alagoas, há três casos de
mudança de domicílio eleitoral. O
caso que ganhou mais visibilidade
foi a ida de Rogério Farias (PPS),
prefeito de Barra do Santo Antônio, para Porto de Pedras.
Rogério é irmão de Paulo César
Farias, o PC, morto em 1996. O expediente pode aumentar a zona
de influência da família, já que a
mulher de Rogério, Rume, atual
vice-prefeita, será a candidata dele em Barra de Santo Antônio.
Em Pernambuco, o prefeito reeleito de Igarassu, Yves Ribeiro
(PPS), mudou seu domicílio para
Paulista, na Grande Recife. Ele já
tem experiência nesse tipo de estratégia. Antes de governar Igarassu, administrou por duas vezes
a cidade de Itapissuma.
Pelo menos mais dois outros
prefeitos pernambucanos também transferiram seus domicílios
eleitorais este ano: Elias Gomes
(PPS), de Cabo de Santo Agostinho, e Genival Araújo -que ainda trocou o PMDB pelo PPS.
Gomes tem o apoio do presidente nacional do partido, Roberto Freire, para se candidatar em
Jaboatão dos Guararapes. Já
Araújo pretende trocar a Prefeitura de Betânia pela de Custódia.
O levantamento feito pela Folha
apontou casos semelhantes de
mudanças de domicílio eleitoral
em outros seis Estados (AM, CE,
MA, PB, RS e SE).
Texto Anterior: Rumo a 2004: Por 3º mandato, prefeitos mudam de cidade Próximo Texto: Frases Índice
|