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REFORMAS
Governo articula bombardeio para convencer deputados; Dirceu vê "credibilidade" política do governo em jogo
Planalto aumenta pressão sobre Congresso
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva intensifica nesta semana o
bombardeio de informação e de
pressão política sobre o Congresso para diminuir as resistências às
propostas de reformas tributária e
previdenciária. Nas palavras usadas pelo ministro José Dirceu
(Casa Civil), em reuniões reservadas, "está em jogo a credibilidade" do governo.
Segundo a Folha apurou, Dirceu argumenta com os rebeldes,
petistas e aliados, que as reformas
são promessa de campanha de
Lula, fruto de duas reuniões com
todos os 27 governadores e simbolizam, na área política, o pilar
do governo. O pilar econômico é a
gestão de Antonio Palocci Filho
(Fazenda), considerada exitosa e
defendida por Dirceu e Lula, apesar das muitas críticas que recebe
de setores historicamente ligados
ao PT.
Lula tem demonstrado impaciência perante interlocutores que
indagam se os 92 deputados federais do PT lhe darão apoio, especialmente no ponto mais polêmico da reforma tributária: a cobrança previdenciária de 11% dos
funcionários públicos inativos a
partir de R$ 1.058.
Desmoralização
Cerca de metade da bancada é
contra a tributação dos inativos.
Dirceu diz que seria "desmoralizante" eventual derrota estimulada por hesitação do PT. Ele também diz que a proposta não é bode por ser resultado de acordo
com os governadores.
Para mostrar força, o ato de entrega das reformas é cuidadosamente preparado. Foi descartada,
por exemplo, uma "marcha" do
presidente e governadores do Palácio do Planalto ao Congresso.
Poderia parecer uma pressão arrogante numa hora em que crescem obstáculos às reformas. Lula
quer reunir todos os 27 governadores para entregá-las ao Congresso em cerimônia na quarta-feira, 30 de abril, às 16h.
Até ontem, também estava descartado o envio da reforma tributária ao Senado, como preferem
Lula e os governadores, e a previdenciária à Câmara. Eles avaliam
que isso facilitaria a tramitação.
Mas Lula cedeu ao caminho tradicional para não melindrar a Câmara. Para fugir de eventual contestação jurídica, um senador da
base aliada deveria apresentar a
proposta de emenda constitucional, o que provocaria desgaste político do mesmo jeito. Dificilmente muda a decisão de que as duas
reformas comecem a tramitar pela Câmara dos Deputados.
Rosinha no avião
Mais: a indócil governadora do
Rio, Rosinha Garotinho (PSB),
que chamou de "cretina" a proposta de reforma tributária e está
desde o início do mandato em rota de atrito com o Planalto, já confirmou presença. Lula estará no
Rio na quarta-feira de manhã. Ela
deve voltar com Lula no avião.
Desde a última quinta, o chefe
de Gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, dispara telefonemas para
confirmar a presença de todos os
governadores. Lula deverá discursar na entrega das reformas ao
presidente da Câmara, João Paulo
Cunha (SP). O presidente do Congresso e do Senado, José Sarney
(PMDB-AP), participará. Há a
possibilidade de um governador
também discursar, mas está difícil
decidir quem fala.
Cartilha
Para o bombardeio de informação e de política, estão previstas
reuniões de Lula e de seus principais articuladores com as bancadas de deputados federais (a começar do rebelde time petista),
conversas com líderes de partidos
aliados, contatos com a oposição
e a distribuição de uma cartilha
com perguntas e respostas sobre a
reforma da Previdência, a proposta mais polêmica.
O objetivo é seduzir o Congresso com muita conversa, mas também cobrando fidelidade do PT e
dos aliados, já que todos têm recebido sua cota de cargos no governo. Haverá nova ofensiva sobre o
PMDB, partido cuja maioria deseja apoiar o governo, mas que
tem uma dissidência que ameaça
crescer com a indefinição sobre
uma oferta ministerial ao partido.
"Temos de conversar como
nunca, ganhar os deputados e os
senadores, tratar com carinho essa articulação", disse Lula a auxiliares. A Folha apurou que, para o
presidente, os governadores e a
sociedade civil, via Conselho de
Desenvolvimento Econômico e
Social, já foram suficientemente
"trabalhados". Já o Congresso,
não. Estaria carente, crê Lula, de
informação e articulação. A antecipação do envio das reformas, de
junho para o fim de abril, cortou
um tempo que era planejado para
conquistar apoio parlamentar.
Agora, além da agressiva campanha de mídia "Reformas: o povo quer, o Brasil precisa", para ganhar a população e pressionar
congressistas, será preciso um
trabalho de corpo-a-corpo.
Para aprovar as reformas, Lula
precisa do apoio de 60% dos deputados federais (308) e dos senadores (49) em dois turnos de votação nas duas Casas do Congresso.
É o quórum mais alto exigido para aprovação de propostas. Sem a
adesão em peso do PMDB e com
as atuais rebeldias na própria base, especialmente no PT, PDT e
PC do B, será fundamental o êxito
de articulações com uma oposição que tem subido o tom. Do
contrário, há risco de derrota.
A esperança de Lula é que os governadores pressionem suas bancadas. Do PSDB, Lula já obteve a promessa de que haverá empenho desde que o PT vote unido.
Enquadramento
É por isso que o PT será um capítulo à parte. Os ministros Ricardo Berzoini (Previdência) e José Dirceu (Casa Civil) vão continuar
a dura operação de enquadramento da bancada em duas reuniões na segunda-feira.
Hoje, cerca de metade da bancada resiste principalmente à tributação de inativos a partir de R$
1.058. A intenção de Dirceu e Berzoini, auxiliados por um grupo de
deputados moderados, é reduzir
essa resistência ao mínimo possível, abrindo caminho para um almoço de Lula com a bancada no dia seguinte.
Na segunda, o Ministério da
Previdência deverá entregar à
bancada petista, e começar a distribuir no dia seguinte para as demais bancadas parlamentares, a cartilha com perguntas e respostas sobre a Previdência. Assessores deverão deixar os textos em cada um gabinetes dos 513 deputados e 81 senadores.
Na reforma tributária, há menos problemas, mas também menos consenso. A maior polêmica é a decisão sobre cobrar o novo
ICMS (Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços), se no
Estado de produção (origem) ou
no de consumo (destino).
Para evitar problemas imediatos, o ministro Antonio Palocci
Filho (Fazenda) optou por deixar
essa polêmica para ser decidida
daqui a dois anos, mas fatia significativa dos parlamentares e dos
governadores quer definição já.
Do ponto de vista político, a reforma da Previdência do governo
Lula é mais dura do que a apresentada na gestão Fernando Henrique Cardoso, atacada pelo próprio PT quando estava na oposição. Já a tributária parece cópia
fiel de uma proposta feita pelo governo FHC.
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