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REFORMA TRIBUTÁRIA
Paulo Clóvis Panzarini acha proposta tributária do governo fraca
Economista prevê uma carga tributária maior
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O economista Paulo Clóvis
Panzarini, ex-coordenador da administração tributária do Estado
de São, avalia que a reforma proposta pelo governo deve causar
aumento da carga tributária, além
de tornar o sistema mais complexo. "Como já se disse, é sempre
possível piorar um pouco as coisas, e eu suspeito que vão conseguir piorar o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços)", disse Panzarini, que,
apesar de destacar a necessidade
da reforma, classificou como "fraca" a proposta do governo.
Para ele, focou-se muito na alteração do ICMS, que interessa os
governadores, deixando de lado
mudanças no Imposto de Renda e
nos tributos que incidem sobre o
consumo. Dessa forma, avalia, a
reforma dificilmente conseguirá
reverter a estrutura regressiva da
arrecadação de impostos.
Folha - A proposta do governo altera os problemas estruturais do
sistema tributário brasileiro?
Paulo Clóvis Panzarini - São problemas graves, difíceis de você
consertar nessa reforma. Nos países desenvolvidos, os impostos
diretos, que são os impostos progressivos, que incidem sobre a
renda e o patrimônio, representam a grande maioria da receita
tributária -70%, 80% do total. Já
no Brasil nós temos uma relação
inversa: os impostos diretos representam 20% ou 30% do total.
Essa reforma tributária objetiva
basicamente três pontos: reduzir
custo Brasil, ou seja, dar mais
competitividade ao setor produtivo, acabando ou reduzindo os impostos em cascata e tornando o
sistema mais simples. Objetiva,
também, acabar com a guerra fiscal. Nesse sentido, a proposta que
resultou de toda essa discussão é,
no meu entender, muito fraca.
Folha - Por quê?
Panzarini - Centrou-se muito no
ICMS e, na minha opinião, o que
se propõe para consertá-lo não
vai atingir os objetivos. Eu suspeito que o resultado vai ser pior do
que o que existe hoje. Existe o risco de você conseguir piorar uma
coisa que já não presta. Como já
se disse, é sempre possível piorar
um pouco as coisas, e eu suspeito
que vão conseguir piorar o ICMS.
Folha - De que forma?
Panzarini - Na verdade, vão unificar a legislação e as alíquotas e
cobrar o imposto na origem, ainda que ele pertença ao destino no
todo ou na parte. A unificação das
alíquotas implica necessariamente aumento de carga tributária,
porque, na medida em que você
unifica alíquotas desiguais, faz isso pelo teto, pelo piso ou pela média. Eu suspeito que a unificação
será pelo teto porque os Estados
que praticam as alíquotas mais altas não se conformarão em perder
arrecadação.
Óleo diesel, por exemplo. Os Estados de São Paulo e do Paraná
cobram 12%, e o resto do Brasil
cobra 18%. Eu duvido que vá se
unificar em 12%. O contribuinte
vai ter um aumento de carga tributária, e o governo paulista um
aumento de arrecadação.
Folha - E o lado bom da proposta?
Panzarini - O lado bom da proposta é o objetivo de acabar com a
cumulatividade da Cofins, que
tem a mesma característica que a
CPMF. Funcionam como uma
barreira alfandegária às avessas,
ou seja, tributam a nossa produção e não tributam, ou tributam
muito pouco, o que vem de fora.
Só que isso vai significar redistribuição também de custos e carga tributária para os setores que
não têm insumos, como o setor de
serviços. Isso porque o aumento
da alíquota da Cofins daria direito
a um crédito pago anteriormente.
Setores que não têm crédito, porque não têm insumos, terão só aumento de alíquota.
Folha - O que faltou para uma
proposta mais profunda?
Panzarini - Eu acho que o Brasil
cobra muito mal os impostos diretos, especialmente, o Imposto
de Renda, que acabou sendo
abandonado ao longo do tempo
-48% do Imposto de Renda é
distribuído para Estados e municípios- assim como o IPI foi
abandonado pelo governo federal. Hoje, paga Imposto de Renda
basicamente o assalariado que recolhe na fonte.
Então, uma reforma tributária
ampla teria que olhar para esses
impostos para que eles ganhassem uma parcela maior do total
da arrecadação tributária. Isso
permitiria a redução da carga tributária dos bens de consumo, tornando o sistema mais justo.
Folha - A unificação do ICMS não
deixará o sistema mais simples e
fácil de fiscalizar?
Panzarini - Uma das bandeiras
dessa reforma é a simplificação.
Eu suspeito que o que vai ser feito
vai aumentar a complexidade do
modelo. O modelo define que o
imposto na operação interestadual será cobrado na origem com
repasse do valor para o tesouro do
Estado destinatário.
Só que, quando se faz isso, atribuí-se a cada contribuinte que
pratica operação interestadual o
cumprimento da obrigação tributária junto ao Estado de destino.
Então, se for um contribuinte que
abastece o Brasil inteiro, ele passará a ser contribuinte dos 27 fiscos do Brasil. Seria o caos total.
Folha - A proposta é eficiente no
combate à guerra fiscal?
Panzarini - Implementar o princípio de destino, ou seja, acabar a
tributação na fronteira é a única
forma de acabar com a guerra fiscal. A guerra fiscal não tem nada a
ver com alíquota interna. Pratica-se guerra fiscal cobrando alíquota
e depois financiando o imposto,
devolvendo. As batalhas mais duras da guerra fiscal se fizeram exatamente no setor automotivo, onde a alíquota já é única no Brasil.
Folha - O sr. acha então que desenvolveram uma proposta que será difícil de funcionar?
Panzarini - Eu acho que estão
adiando. Na pressa de aprovar a
emenda, e é uma pressa legítima
porque o mercado espera isso, estão adiando o debate da operacionalização e há o perigo de descobrir depois que nós aprovamos
uma coisa que não é operacional.
Eu temo que acabemos por
criar um modelo extremamente
mais complexo do que é hoje.
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