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NO PLANALTO
Passado Barbalho de Jader rende multa de R$ 30 milhões
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Jader gostava de falar como Barbalho, alto e grosso.
Súbito, ficou mudo. De volta ao
Congresso, tornou-se um parlamentar, por assim dizer, invisível. Sob tanto silêncio esconde-se
um ruído ensurdecedor. Vem dos
computadores da Receita Federal. Eles armazenam números do
barulho.
Após minuciosa auditoria, o
Fisco atestou: Jader é mesmo o
Barbalho que parecia ser. Suas
declarações de rendimentos e as
de suas empresas exibem a consistência de um pote de gelatina.
Esquadrinhando o papelório,
auditores fiscais verificaram que
a evolução patrimonial do morubixaba do PMDB escora-se em
informações "inidôneas".
Multaram-no em sonantes R$
30 milhões. Lavraram-se vários
autos de infração. Referem-se ao
período de 1997 a 2001. Dono de
um império regional de comunicação e de negócios agrícolas, Jader foi alcançado na pessoa física
e nas jurídicas.
Sob reserva, Jader refere-se aos
agentes do Fisco com expressões
de calão raso. Pudera. Varejaram-lhe as entranhas financeiras
por um ano e meio. Nos papéis
reservados da Receita o caso ganhou nome sugestivo: "Operação
Sucuri". Referência à cobra que
ingere mamíferos triturando-lhes os ossos por compressão
muscular.
No auge do escândalo da extinta $udam, que culminou com a
poda de seu fortunoso mandato
de senador, Jader contratou a
consultoria Boucinhas & Campos para provar que seu patrimônio pessoal não era de R$ 30
milhões. Tinha razão. O valor,
descobre-se agora, corresponde
apenas à multa garimpada pelo
Fisco. O patrimônio é bem
maior.
A Viúva ainda não viu a cor do
dinheiro de Jader. Entrou-se na
fase de contestações. Etapa intrincada e demorada. Que pode
arrastar-se até o final do ano.
Num primeiro recurso, Jader repudiou o perfil Barbalho que os
fiscais tentam anexar-lhe à biografia. Porém, gastou muito latim para sustentar uma tese surrada. Considera-se vítima de
"perseguição política". No campo técnico, não levou aos autos
dados que satisfizessem o Fisco.
Jader esforça-se para demonstrar que sua prosperidade resulta
sobretudo do suposto êxito que
obteve como agronegociante. Na
opinião da Receita, o sucesso está
escorado em informações falsas.
Minuciosos, os auditores chegaram a bater à porta de supostos
compradores de gado da Fazenda Rio Branco.
Entre as imposturas corroboradas pelo Fisco está a hipotética
compra, em 1998, de uma fazenda no Pará. Pertencia a José Osmar Borges, a quem Jader teria
pago R$ 600 mil, em três parcelas. Os auditores não encontraram vestígio do trânsito do dinheiro. Ou seja, Jader teria recebido a propriedade de presente.
O mimo mede 6.000 hectares.
Dono de três CPFs, controlador
de seis empresas, Osmar Borges é
acusado de desviar mais de R$
100 milhões em incentivos fiscais
da $udam. Boa parte liberada
por afilhados de Jader que FHC
acomodou barbalhamente nos
fundões da administração tucana. Afora a multa, o trabalho do
Fisco pode render a Jader uma
ação penal do Ministério Público. Elegendo-o deputado federal,
os eleitores do Pará deram-lhe o
direito a foro privilegiado. Só pode ser processado no STF.
Para que a acusação prospere,
precisa passar pelo crivo do procurador-geral da República. Se
fosse aberto imediatamente, o
processo cairia no colo de Geraldo "engavetador" Brindeiro.
Avalia-se a conveniência de esperar pela substituição de Brindeiro, agendada para junho.
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