|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PREVIDÊNCIA
Marco Aurélio evoca direito adquirido para se opor a proposta do governo
STF defende teto de R$ 19 mil; Berzoini insiste em R$ 12 mil
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio de
Mello, defende que a fixação do
teto salarial para o funcionalismo
preserve o vencimento máximo
atual de um ministro do STF, de
pouco mais de R$ 19 mil. "O teto
deve pressupor o respeito às regras vigentes por causa do direito
adquirido", disse.
O governo, conforme a Folha
divulgou ontem, incluirá na proposta de emenda constitucional
da reforma da Previdência dispositivos que limitem a concessão de
superaposentadorias e fixem um
teto para o funcionalismo dos três
Poderes em R$ 12,720.
Para o ministro da Previdência,
Ricardo Berzoini, a intenção do
governo de fixar o limite salarial
do funcionalismo em R$ 12.720
não fere os direitos adquiridos. O
valor corresponde ao salário de
um ministro do STF sem as vantagens que ele recebe na ativa.
"A própria Constituição contempla a limitação em seu texto. É
natural que na sociedade haja
controvérsias, debates acalorados
e, eventualmente, até a busca ao
Judiciário", disse Berzoini.
O ministro referia-se ao artigo
48 da Constituição onde está escrito que "a fixação do subsídio
dos Ministros do Supremo Tribunal Federal" deve ser feita "por lei
de iniciativa conjunta" dos presidentes da República, da Câmara,
do Senado e do Supremo.
Marco Aurélio disse que sempre
foi favorável à fixação do teto com
base na remuneração do STF, sem
a necessidade imediata de uma lei
conjunta dos três Poderes como
prevê o artigo 48 da Constituição.
Para ele, o teto é necessário porque existem situações em que o
servidor recebe salário e proventos de aposentadoria, por exemplo. "Hoje é um deboche, é um teto que não tem eficácia."
Segundo o presidente do STF, as
vantagens elevam o vencimento
de um ministro para cerca de R$
17 mil. Uma delas é o adicional
por tempo de serviço que esses
magistrados recebem a cada cinco anos, o chamado quinquênio.
Durante as eleições, ministros
acumulam funções no Tribunal
Superior Eleitoral e recebem gratificação que aumenta o salário
para pouco mais de R$ 19 mil.
Ao ser contestado se o tempo de
serviço seria levado em consideração, Berzoini, que esteve ontem
em São Paulo, disse que isso eram
"detalhes". Ele afirmou também
que os vencimentos dos ministros
que atuam no TSE e no STF não
seriam atingidos pela proposta.
"Essa é uma gratificação especial, decorrente de uma remuneração por uma função. Obviamente que esse tipo de dispositivo
não á atingido. É atingida a remuneração efetiva", disse Berzoini.
Hoje os servidores do Legislativo têm teto de R$ 12.720 e do Executivo, de pouco mais de R$ 8.500. Para técnicos do ministério, a fixação do teto do funcionalismo em R$ 12.720 impedirá que
aposentadorias superiores a esses
valores sejam pagas pelo governo.
"Mais importante que o ponto
de vista financeiro é o ponto de
vista ético", disse Berzoini. Segundo o ministro, não há resistência
contra proposta. "Há os que recebem aposentadorias grandes,
com medo de perder esse direito.
Esse direito não, esse abuso."
Resistências
Apesar de o limite às superaposentadorias ser uma bandeira antiga do PT, a fixação do teto salarial deve encontrar resistência em
setores dos três poderes. Com a
proposta, o governo pretende dividir o ônus com o Legislativo e
com Judiciário, que deverá julgar
questões envolvendo o tema.
Berzoini elogiou ontem o Judiciário ao dizer que o poder tem
agido "historicamente no Brasil
de maneira responsável".
"Esse poder merece o nosso
maior respeito por tudo que vem
fazendo de positivo para a sociedade e principalmente por ser a
instância que limita as pretensões
ilegais e inconstitucionais eventuais dos outros poderes", disse.
O presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais), Paulo
Sérgio Domingues, considera o
teto proposto pelo governo "inviável" e defende a inclusão das
vantagens dos ministros do Supremo no limite de vencimentos
do funcionalismo.
"O teto deve ser de no mínimo
R$ 17 mil, que é o salário de ministro do STF mais as vantagens pessoais de hoje", afirmou.
(SÍLVIA MUGNATTO, IURI DANTAS E JULIA DUAILIBI)
Texto Anterior: Reforma de tucano gerou divisão no PT Próximo Texto: Frases Índice
|