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REGIME MILITAR
Parentes de desaparecidos acreditam que podem persuadir presidente; AGU pode ser obrigada a recorrer
Lula receberá pedido de famílias para que governo não recorra
LILIAN CHRISTOFOLETTI
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Familiares de militantes políticos desaparecidos durante a guerrilha do Araguaia farão gestões
junto ao presidente Luiz Inácio
Lula da Silva para que o governo
federal não recorra de decisão judicial que determinou a quebra
do sigilo de documentos do Exército brasileiro.
Se o governo federal não recorrer, a decisão de primeira instância da juíza federal Solange Salgado passa a valer como última instância. Com isso, o Exército teria
120 dias para fornecer documentos secretos sobre a guerrilha do
Araguaia -movimento armado
organizado pelo PC do B contra o
regime militar e desmontado pelas Forças Armadas no início do
governo Ernesto Geisel (1974-1979).
Segundo familiares de desaparecidos políticos ouvidos pela Folha, apenas por meio desses documentos será possível rastrear o
paradeiro das 61 pessoas desaparecidas.
"Desejo que a União não recorra da decisão", disse a ex-militante do PC do B Criméia Alice
Schmidt Almeida, 57, que viveu
no Araguaia de janeiro de 1969 a
agosto de 1972, quando foi presa
pelo Exército. Seu marido, André
Grabois, e o sogro, Maurício Grabois, estão desaparecidos.
Almeida é nora de Alzira Grabois, que aparece na foto da página ao lado, tirada em 1987, pedindo a localização dos desaparecidos do Araguaia -incluindo seu
filho e seu marido.
"A maioria das pessoas que esperava essa decisão está morta.
São as mães dos militantes. Ou seja, essa decisão já demorou muito
para sair. Não podemos esperar
outros tantos anos", afirmou Almeida, que hoje trabalha como
enfermeira.
Para Julieta Petit da Silva, 83,
mãe de três guerrilheiros desaparecidos na guerrilha do Araguaia,
a decisão de primeira instância
deveria ser cumprida prontamente. Dos três filhos, foi identificada
a ossada da filha Maria Lúcia Petit
da Silva. "Já tenho a Maria Lúcia,
mas ainda faltam o Lúcio e o Jaime. Só quero dar uma sepultura
digna para eles", disse Petit da Silva, que defende o cumprimento
da ordem judicial.
Genoino
Para as famílias dos desaparecidos, o fato de o atual presidente
do Brasil ser do PT, partido constituído por pessoas que atuaram
no combate ao regime militar e
que tem o seu presidente nacional, José Genoino, como um dos
sobreviventes do Araguaia, aumenta a esperança de que o caso
sensibilize o governo federal.
Entretanto, o órgão responsável
pela defesa do governo federal, a
AGU (Advocacia Geral da União)
tem como uma de suas atribuições recorrer de todas as ações
que tenham a União como ré.
"Há normas que são de lei e o
governo não pode passar por cima. Se a AGU entender que não
pode deixar de recorrer, isso independe da vontade política do presidente", afirmou o vice-prefeito
de São Paulo, Hélio Bicudo, que é
um histórico defensor dos direitos humanos.
A assessoria de imprensa da
AGU informou que o órgão ainda
não foi notificado da decisão judicial e, somente depois disso, irá se
manifestar sobre o caso.
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