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TENSÃO POLÍTICA
Chefe do GSI afirma que violência nas grandes cidades não é "um fenômeno tipicamente brasileiro"
General vê situação
no campo "dentro
da normalidade"
IURI DANTAS
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A situação no campo está "dentro da normalidade", e a violência
nas grandes cidades "não é um fenômeno tipicamente brasileiro",
mas mundial.
A avaliação é do ministro-chefe
do GSI (Gabinete de Segurança
Institucional), general Jorge Armando Felix, 64, responsável por
monitorar tensões antes que elas
se tornem crises institucionais.
Segundo ele, não há "bandidos
nem mocinhos " no campo. Tanto ruralistas como sem-terra são
monitorados pela Abin (Agência
Brasileira de Inteligência), um dos
braços do GSI.
Leia, a seguir, trechos da entrevista concedida à Folha.
Folha - O GSI possui a Secretaria
de Acompanhamento e Estudos
Institucionais, que funciona como
um "gabinete de crise" do governo. Os juízes e promotores dizem
que vão entrar em greve e que isso
causaria uma crise institucional.
Como o sr. acompanha a questão?
Jorge Armando Felix - O trabalho
que fazemos é acompanhar pontos que têm reflexo na área de segurança. O papel do governo é gerenciar crises, procurar evitá-las
e, se efetivamente acontecerem,
gerenciá-las e resolvê-las pacificamente. Temos nossa gradação, a
luz verde, amarela ou vermelha.
Folha - Existe alguma luz amarela
ou vermelha acesa hoje?
Felix - Tivemos algumas. A primeira foi em 6 de janeiro, quando
fizemos uma reunião por causa
da possibilidade de conflito no
Iraque. Outra atuação foi o incêndio recente em Roraima. Também a possibilidade de a epidemia de pneumonia [Sars] chegar
ao Brasil. Estamos preparados para tomar as medidas necessárias.
Folha - O MST chegou a acender a
luz amarela no governo?
Felix - Não é o MST. Nós chamamos de questão agrária, porque
não se resume ao movimento dos
sem-terra. Existem vários movimentos envolvidos. Procuramos
sempre definir um potencial de
risco de cada área. O governo fica
informado e eventualmente toma
as providências.
Folha - E as milícias armadas organizadas por fazendeiros?
Felix - São tão acompanhadas
quanto qualquer outro grupo.
Acompanhamos todos indistintamente. Não há bandidos e mocinhos, não há malvados e generosos. O governo não toma partido.
Não deve e não pode tomar.
Folha - No início do governo Lula,
a violência no campo aumentou em
relação a 2002. Isso preocupa?
Felix - Isso é relativo. Se vocês
compararem os dados do primeiro semestre de 2003 com o primeiro semestre de 2001 e de 2000,
vão ver que não há tanta disparidade entre a estatística atual e a
estatística desses anos. No ano
passado, sim, mas foi um ano atípico, um ano eleitoral. Claro que
tem havido uma repercussão
muito grande, até pelo estilo do
governo. Mas achamos que são
coisas que ainda estão dentro da
normalidade.
Folha - Como o governo se mantém informado? A Abin infiltra
agentes nos movimentos?
Felix - É feito por meio de órgãos
de inteligência. Não vamos dizer
como, porque estaríamos interferindo no trabalho.
Folha - Temos hoje um aumento
da violência. Como o sr. vê isso?
Felix - Existe uma infinidade de
causas. Não é um fenômeno tipicamente brasileiro. É um fenômeno que preocupa, mas é mundial.
Folha - O presidente tem um comportamento mais popular, quebrando o protocolo regularmente.
Como fica a segurança?
Felix -É questão de adaptação.
Folha - Dele ou de vocês?
Felix - Claro que nossa. O presidente não vai se adaptar à segurança. A segurança é que vai se
adaptar ao presidente.
Folha - Na semana passada, o
presidente da Câmara, João Paulo
Cunha, autorizou a PM a conter servidores na Casa. Isso poderia acontecer no Planalto?
Felix - Não vou comentar as regras da Câmara. No Planalto, não
entrariam. Possivelmente, se o
presidente quisesse receber ou os
ministros que trabalham aqui
quisessem, o grupo seria recebido. Agora, invasão não. Qual é o
limite? Temos que estabelecer esse limite.
Folha - A juíza Solange Salgado,
da 1ª Vara Federal de Brasília, determinou que o Exército torne públicos todos os arquivos sobre a
guerrilha do Araguaia. O Exército
diz que não há arquivos, mas diversos jornais, inclusive a Folha, já divulgaram documentos sobre operações. Afinal, há ou não arquivos?
Felix - Tem que perguntar isso
ao Exército. Eu não estou mais no
Exército, estou no GSI.
Folha - Pessoalmente, o sr. é a favor da divulgação?
Felix - Não posso falar o que
acho pessoalmente. Quando a
gente está como ministro, não pode misturar as coisas.
Folha - Do ponto de vista histórico, não é melhor que a verdade prevaleça?
Felix - Você está me pedindo
uma opinião. E não gosto de dar
opinião. Gosto de me ater a fatos.
Isso é pura especulação. Não conheço. Não sei se existem os arquivos. Não posso dizer.
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