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Sem-terra aprendem "como dizer não à Alca" e técnica de construção
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando pronta, a Escola Nacional Florestan Fernandes terá cursos de pedagogia, informática,
técnica de administração de cooperativa e enfermagem, conta José Eduardo Gomes de Moraes,
coordenador da obra.
Mas já agora, enquanto é construída, a instituição oferece dois
cursos a seus operários sem-terra:
formação política e técnicas de
construção civil.
Os integrantes das brigadas que
se revezam na empreitada em
Guararema devem, ao voltar a
seus Estados de origem, compartilhar com acampados e assentados os conhecimentos adquiridos
na estada em São Paulo.
Frio e Alca
São 19h30, 12 horas de trabalho
no corpo, e 40 deles enfrentam o
frio da sala de aula improvisada
na casa principal da escola. Tema
do dia: a Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
O professor, integrante do movimento, apresenta num mapa
francês, em que os continentes do
Sul são maiores do que nas representações tradicionais, a Alca: ela
irá do Alasca (aponta no papel
desdobrado) à Patagônia.
"A princípio, significa um comércio de produtos sem taxação", afirma. "É isso mesmo?"
"É sim", respondem alguns. "A
verdade é que não é", retruca o
professor.
Ele diz que a região poderá gerar
grande instabilidade para as economias dos países membros, por
causa de suposta maior facilidade
de mobilidade financeira. E escreve no quadro sete "razões para dizer não à Alca". Entre elas: "a área
vai submeter a produção e os
mercados às necessidades do capital (EUA)" e "a Alca anulará a
soberania dos países".
Durante o dia, os sem-terra deixam as preocupações políticas de
lado. À tarde, têm aulas de "capacitação" para que "possam construir suas casas" quando voltarem
a seus Estados de origem. João Piza, 26, arquiteto, e Jorge Hage, 32,
o engenheiro da obra, membros
da cooperativa Integra, são os
professores.
Na primeira parte do curso,
"noções de projeto" -os operários aprendem elementos de geometria, padronização de medidas
e cálculo de área. Depois, "noções
de estrutura" e uso de materiais,
"composição do solo-cimento"
-a mistura para fabricação dos
tijolos- e "instalações elétrica e
hidráulica".
"Sempre na direção de que a
mão-de-obra escape à alienação,
que saiba o que está fazendo", diz
Piza. "Isso dá mais responsabilidade e qualidade ao trabalho."
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