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TRABALHO EM FARRAPOS
Desemprego cresce 2,5 pontos desde dezembro; número dos que ganham menos de um salário mínimo sobe 54%
Crise do emprego se agrava na gestão Lula
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Um fenômeno atinge a maioria
da população brasileira: o aumento do desemprego e a progressiva
degradação das condições de trabalho. Desde dezembro do ano
passado, a taxa de desocupação
em seis regiões metropolitanas
cresceu 2,5 pontos percentuais,
passando de 10,5%, em dezembro, para 13,0%, em junho.
Além do desemprego, o problema da informalidade se tornou
mais agudo nos primeiros seis
meses de governo Lula: o emprego com carteira assinada caiu
2,1%, enquanto a ocupação sem
carteira aumentou 2,3%.
Nas seis regiões em que o IBGE
faz sua pesquisa de emprego, quase 21 milhões de pessoas constituíram, em média, a população
economicamente ativa no primeiro semestre de 2003. São 2,2
milhões de novos cidadãos lançados ao mercado de trabalho, em
comparação aos que estavam na
PEA na primeira metade de
2002.O número de pessoas ocupadas, no período, aumentou em
1,9 milhão. As vagas, porém, foram insuficientes para conter o
avanço do desemprego.
A participação dos trabalhadores sem carteira assinada no total
dos ocupados aumentou de
21,4% no primeiro semestre de
2002 para 21,7% na metade deste
ano. Os trabalhadores por conta
própria também aumentaram
sua participação relativa, de
19,2% para 19,6%. Já o emprego
com carteira assinada declinou
nessas seis regiões metropolitanas, de 45,5% para 44,7%.
Ao todo, as ocupações precárias
(sem carteira e autônomos) foram responsáveis pela criação de
mais de 900 mil novos postos de
trabalho entre o primeiro semestre de 2002 e igual período de
2003. Sem essa "flexibilização" do
mercado, a taxa de desemprego
hoje estaria muito mais alta.
Sem carteira
O emprego sem carteira assinada vem subindo há quatro meses,
tendo alcançado 4,024 milhões de
pessoas em junho -um crescimento de 8% ante igual período
de 2002. É praticamente a metade
dos que têm carteira: 8,047 milhões. O número de trabalhadores
por conta própria, também informais em sua maioria, cresceu
3,8% durante o governo Lula e
9,3% em relação a junho de 2002.
A precarização crescente das relações de trabalho vem se refletindo na queda dos rendimentos dos
indivíduos. Durante o governo
Lula, o contingente dos trabalhadores sub-remunerados -aqueles que recebem menos de um salário mínimo para cumprir uma
jornada de 40 horas semanais-
cresceu 54%: eles eram 1,608 milhão em janeiro; em junho, somavam 2,474 milhões de pessoas.
Nos primeiros cinco meses do
ano, a renda média do trabalhador caiu 11,4% em relação a igual
período de 2002. Entre os que trabalham por conta própria, o rendimento médio despencou 19%.
O secretário de Trabalho e Emprego do município de São Paulo,
Marcio Pochmann, que ajudou a
Folha a tabular esses dados, ilustra a queda com um exemplo:
"Imagine uma praça onde havia
dois vendedores de cachorro-quente, e as pessoas que por ali
circulam normalmente despendiam em média certa quantia para comprar sanduíches. Não apenas a renda média disponível para
a compra dos lanches diminuiu
como o número de pessoas vendendo alimento, naquela região,
aumentou, o que fez cair o faturamento médio de cada vendedor".
São muitas as razões apontadas
por especialistas para a expansão
da informalidade: o menor rendimento do trabalhador, o enfraquecimento do nível de atividade
econômica, a redução do poder
de barganha de quem procura
emprego e a maior entrada de
mulheres e jovens no mercado.
Para Cimar Azeredo, gerente da
Pesquisa Mensal de Emprego do
IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a
queda da renda "realimenta" a informalidade e vice-versa. Quando
a crise se agrava, mulheres e filhos
saem à caça de um emprego para
recompor o rendimento familiar.
Acontece que eles, quando conseguem se empregar, recebem
menos e, em geral, vão para o
mercado informal. Com o aumento dos empregos informais,
que pagam menos, a renda média
da família cai.
Segundo Luiz Parreiras, do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), mesmo com a economia estagnada, o emprego sem
carteira cresce porque ocorre
uma substituição de vagas formais por informais, cujos salários
são menores. Para o emprego
com carteira assinada aumentar,
no entanto, é necessário haver
crescimento econômico.
Para Sônia Rocha, da FGV
(Fundação Getúlio Vargas), o
Brasil vive "o pior dos mundos":
não chegou a ter um estágio de
formalização com garantias sociais, como nos países desenvolvidos, e sofre com uma nova onda
de informalidade, puxada pelo
"conta própria de baixa renda".
Segundo ela, trata-se de um movimento diferente do que ocorreu
na Europa, onde as pessoas migraram para o mercado informal
por opção, acompanhando a modernização da indústria. Aqui, diz
ela, é uma questão de necessidade: "Não é uma escolha pessoal".
Colaborou a Redação
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