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Deterioração começou em 1998
DA SUCURSAL DO RIO
O Brasil está sendo varrido por
uma onda de desemprego e de
precarização do mercado de trabalho sem precedentes. Não é a
mais intensa, mas sim a mais duradoura das duas décadas passadas, segundo a análise de especialistas ouvidos pela Folha.
A atual crise difere das do início
dos anos 80 e do começo dos 90,
que foram até mais fortes. Isso
porque, passado o pico do desemprego, elas foram seguidas por
planos de estabilização -como o
Cruzado e Real- que fizeram o
país crescer e, consequentemente,
aumentaram a oferta de trabalho.
Para Marcelo Neri, chefe do
Centro de Políticas Sociais da
FGV (Fundação Getúlio Vargas),
desde 1998 o mercado de trabalho
vem se deteriorando gradativamente. O motivo é a sucessão de
crises internas e externas que assolou o país: a asiática, a russa, a
da desvalorização do real, a argentina, o apagão e, por fim, a
provocada pelas eleições de 2002.
Francisco Pessoa, da consultoria LCA, concorda. Diz que os três
últimos anos são de crescimento
muito baixo, com um média de
cerca de 1,5% ao ano, o que provocou uma paralisia no mercado
de trabalho. "Nos últimos anos, o
mercado de trabalho sofreu uma
série de choques sucessivos, sem
ter tempo de se recuperar."
Já Sônia Rocha, economista da
FGV, tem uma opinião diferente.
Considera o aumento do desemprego conjuntural e passageiro,
fruto apenas do choque de 2002 e
da menor atividade econômica.
Nos seis primeiros meses do governo Lula, a taxa de desemprego
subiu 2,5 pontos percentuais. Na
média semestral, ficou em 12,2%.
São 443 mil pessoas a mais sem
trabalho no período. Há seis meses contraída, a renda recuou
3,8% no semestre. Atingiu quedas
históricas em maio e junho: 13,4%
e 14,7%, respectivamente.
É justamente a retração forte e
contínua do rendimento o mais
importante fenômeno da mais recente crise do mercado de trabalho, segundo o gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE,
Cimar Azeredo. Na visão dele, o
rendimento em queda faz com
que mais pessoas de uma mesma
família procurem emprego para
recompor o orçamento familiar,
pressionando o mercado de trabalho. Com o aumento da procura, sobe a taxa de desemprego.
"A ocupação [oferta de vagas]
tem crescido. Ela não chegou a
cair. O problema é que não num
ritmo suficiente para absorver o
contingente que está ingressando
ou voltando para o mercado",
disse Azeredo. "Estamos vivendo
num contrapé: baixo nível de atividade, renda em queda e criação
de empregos insuficiente. Naturalmente, mais gente entra no
mercado para compensar a queda
na renda, como os filhos e a mulher", concorda Sônia Rocha.
Sônia Rocha afirma que "uma
mudança estrutural" de patamar
do desemprego aconteceu em
1998 e ficou para trás. Foi quando
as taxas saltaram da casa de 5%
para 8% ao ano, como resultado
de um forte processo de alteração
do processo produtivo. As mudanças ocorrem em razão da
abertura comercial dos anos 90,
que obrigou as empresas a ganhar
produtividade, muitas vezes com
demissões, e das privatizações.
Tanto Rocha como Neri avaliam que essas mudanças foram
mais sentidas nas regiões metropolitanas, que se adaptam mais
rapidamente às novas formas de
produção e mecanização. Por isso, a crise é mais intensa nessas
áreas. O fato de agricultura ter
crescido muito nos últimos anos
melhorou a renda e o emprego no
campo.
(PS)
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