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Medidas paliativas têm pouco resultado diante do freio imposto pela política econômica do governo Lula
PIB teria de crescer 5% para conter onda
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Atende pelo nome complicado
de "efeito trabalhador adicional"
a principal teoria apresentada até
aqui no governo para explicar a
legião de 2,7 milhões de desempregados só nas seis principais regiões metropolitanas -São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte,
Salvador, Recife e Porto Alegre.
Consiste em que mais pessoas
de uma mesma família foram empurradas para o mercado de trabalho pela queda de renda, de
3,8% entre janeiro e junho. Em
outras palavras, a culpa é da freada no crescimento econômico
produzida por medidas do governo Lula, como a alta dos juros.
A pressão extra sobre os empregos, que já andavam escassos com
as vagas crescendo em marcha
lenta como a economia, deu no
recorde registrado na quarta-feira
pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística): 13% da
população economicamente ativa
sem emprego e 270 mil novos desempregados só entre os que passaram 11 anos ou mais na escola.
A mais recente teoria do governo faz sentido e deixa claro que o
aumento do desemprego é um
efeito colateral da combinação de
juros altos e corte de gastos públicos adotada no início de mandato
de Luiz Inácio Lula da Silva.
Independentemente se exagerou ou não na dose, o fato é que a
política macroeconômica de Lula
freou o crescimento da economia
e queimou a principal política de
geração de emprego de que se tem
notícia. As projeções de crescimento do Produto Interno Bruto
caíram de 2,8% para 1,5%.
Até o Ministério da Fazenda reconhece que a redução do nível da
atividade econômica "colaborou"
para o aumento do desemprego.
A última edição do Boletim de
Conjuntura Econômica registra a
redução da massa salarial, o aumento da procura por emprego e
a queda na oferta de vagas.
Dito isso, a saída para a crise de
desemprego também beira o óbvio. "Não tem mágica: o problema é a falta de crescimento econômico e, pelo andar da carruagem, a gente não pode esperar
muito no curto prazo", avalia
Lauro Ramos, coordenador de estudos de mercado de trabalho do
Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), subordinado
ao Ministério do Planejamento.
Crescimento
O que não está claro no diagnóstico é o ritmo em que a economia precisa crescer para fazer o
emprego ganhar a corrida contra
o desemprego. Segundo Ramos, o
PIB precisa crescer algo entre 5%
e 6% nos próximos anos.
Os percentuais estão bem próximos das estimativas feitas de
forma reservada no Ministério do
Trabalho e são superiores às metas traçadas até o final do mandato de Lula pelo esboço do PPA, o
Plano Plurianual de investimentos: 3,5% em 2004, 4% em 2005 e
4,5% em 2006.
A promessa feita por Lula na
campanha eleitoral de criar 10 milhões de empregos em quatro
anos ainda não foi arquivada oficialmente, insiste o ministro Jaques Wagner (Trabalho). Se ela
não se tornou inatingível, passados 15% do mandato, ficou pelo
menos mais complicada sem uma
guinada na política econômica.
Durante a semana, nasceu e
morreu a idéia de mais um pacote
de medidas emergenciais pró-emprego. A principal delas disfarçava o lobby de montadoras de
veículos por mais incentivos fiscais sem contrapartida de redução de preços. No final, sobrou a
idéia de agilizar os resultados de
medidas já anunciadas.
A principal delas, a liberação de
R$ 5,35 bilhões de dinheiro do
FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) para investimentos nos
setores exportador, de construção
civil e turismo neste ano, que tem
como meta gerar 195 mil empregos -pouco diante do tamanho
do problema. Uma das prioridades da campanha, o programa
Primeiro Emprego, ainda depende de votações no Congresso.
Sobram vagas?
A falta de emprego é tão grande
que tirou do noticiário uma espécie de prima malfalada da crise de
emprego: a crise de empregabilidade, que ganhou espaço no discurso oficial no governo Fernando Henrique Cardoso, mais preocupado com o descompasso entre
a oferta e a demanda de vagas.
Mas o perfil do mercado de trabalho ainda inspira cuidados, segundo dados do Sistema Nacional de Emprego. No ano passado,
47% de 1,6 milhão de vagas oferecidas pelo sistema oficial de intermediação de mão-de-obra não
foram preenchidas pelo serviço.
Em muitos casos, os trabalhadores não estavam adaptados às
exigências das vagas. Não necessariamente por falta de qualificação. Um estudo do Ministério do
Trabalho mostra que pessoas que
não completaram o ensino fundamental ou médio têm mais chance de ficar desempregadas.
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