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Economia desaquecida e reorganização da produção mundial são apontadas como causas do desemprego
Crescimento baixo e globalização são "vilões"
DA REDAÇÃO
O economista e deputado federal pelo PP Antonio Delfim Netto
diz que "o desemprego está evidentemente ligado ao crescimento". O diagnóstico é partilhado
por outros economistas. Gilberto
Dupas, coordenador-geral do
Grupo de Conjuntura Internacional da USP, vai noutra linha. Para
ele, boa parte do desemprego
atual tem origem no modo como
a economia mundial vem se organizando desde fins dos anos 80.
Delfim associa a piora do desemprego à retração econômica
causada pela alta taxa de juros. Segundo ele, um "ruído muito grande com a ameaça de eleição do
Lula" acentuou o receio de que o
Brasil não honrasse seus compromissos. Com isso, dólar e inflação
subiram, e o Banco Central apertou a política monetária, com
efeito recessivo. "Mas, se isso não
tivesse sido feito, o governo teria
perdido o controle da inflação."
O também economista Paul
Singer, ligado ao PT, concorda
que a crise é agravada pelos juros
altos. Diz, porém, que é "impossível dizer se o crescimento do desemprego nesses seis meses é fruto da política econômica atual ou
da anterior [a do governo FHC]".
Singer acredita que, caindo a inflação e os juros, "há uma grande
chance de a economia voltar a
crescer no próximo semestre".
Mas, pondera, "isso depende de o
mercado financeiro internacional
continuar a confiar no Brasil".
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, compartilha da
opinião de Delfim quanto à necessidade do aperto monetário.
"Se não adotássemos medidas severas, as consequências seriam o
descontrole inflacionário, a estagnação econômica por vários anos
e a queda prolongada do emprego
e do salário real", diz o ministro.
Ele afirma que o custo do ajuste
no Brasil foi menor do que em outros países que passaram por crises semelhantes.
Desemprego estrutural
Numa linha diferente, Dupas
coloca a falta de crescimento em
segundo plano como causa do desemprego. Para ele, "neste novo
paradigma de mercado global,
não há nenhuma garantia de que
o crescimento seja suficiente para
a retomada do emprego".
O novo paradigma é a economia globalizada, em que as empresas multinacionais deslocam a
produção de cada item dos produtos que fabricam para o país
onde os custos são menores. Esse
processo trouxe consigo a busca
da automação e da terceirização.
Com isso, surgiram duas tendências perversas: uma rumo a
um nível permanentemente
maior de desemprego e outra rumo ao crescimento do trabalho
informal. "Esses fenômenos
aconteceram em todos os grandes
países da periferia", diz Dupas.
Nessa lógica, o elevado desemprego de hoje é decorrente "de
um processo estrutural que vem a
partir da abertura econômica do
final da década de 80".
Isso não quer dizer que um
crescimento maior não possa melhorar o quadro. "Você crescendo, o agravamento da situação é
mais lento", diz Dupas. Seu tom
não é nada otimista: "Hoje, infelizmente, nossas escolhas têm que
ser entre o ruim e o péssimo".
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