|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
País, onde já não há férias remuneradas nem 13º, pode reduzir remuneração de hora extra para a classe média
EUA liberalizam leis trabalhistas ainda mais
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
A economia desenvolvida mais
desregulamentada do mundo
prepara uma nova mudança para
liberalizar ainda mais o seu mercado de trabalho.
Os norte-americanos já não têm
férias remuneradas, 13º salário ou
direito a nenhuma licença paga.
As garantias existentes são o pagamento mínimo de US$ 5,15
(cerca de R$ 14,50) por hora trabalhada e a proteção contra discriminação no trabalho.
O país agora deve cortar o pagamento de 150% sobre horas extras
para quem recebe mais de US$ 20
mil por ano (cerca de R$ 58 mil).
O projeto já foi aprovado na Câmara e conta com a maioria republicana no Senado.
"A medida é mais um revés para
o já carente sistema de benefícios
trabalhistas nos EUA", afirma
Stanley Gacek, diretor da AFL-CIO, a maior entidade sindical
americana, que representa cerca
de 13 milhões de trabalhadores.
Na prática, todos os trabalhadores americanos têm hoje o direito
a receber 150% a mais por horas
trabalhadas que excederem o limite de 40 horas semanais.
"Ao limitar o benefício para
quem recebe acima de US$ 20 mil
por ano, praticamente toda a classe média americana sofrerá uma
diminuição em sua renda", afirma Gacek.
A nova lei, se aprovada, não invalidará acordos coletivos entre
trabalhadores e empresas que
prevêem as horas extras e outros
benefícios negociados mutuamente, como férias e licenças.
Nos EUA, no entanto, apenas
10% dos empregados são sindicalizados ou representados por cooperativas que se encarregam das
negociações trabalhistas. A grande maioria, portanto, estará sujeita às novas mudanças.
O único grande benefício restante nos EUA é o seguro-desemprego. Administrado pelos Estados com ajuda financeira federal,
o benefício cobre, em média, 6
meses e paga aproximadamente
50% do salário que o trabalhador
recebia antes de ser demitido.
O valor varia dependendo da
faixa em que o empregado se encontrava e, para ter direito ao benefício, o solicitante deve provar
que continua buscando trabalho
insistentemente.
Dos 9,6 milhões de desempregados no país, apenas 3,6 milhões
estão tendo acesso ao programa.
Os EUA não apenas têm como
"filosofia" a desregulamentação
do seu próprio mercado de trabalho como cobram, por meio do
FMI (Fundo Monetário Internacional), do qual são o principal
sócio, a liberalização das leis trabalhistas em vários países do
mundo, inclusive o Brasil.
Em seu último relatório semestral, publicado em abril, o Fundo
sustenta que as principais economias européias não conseguirão
retomar o crescimento enquanto
não eliminarem ""generosas compensações a desempregados e
proteções aos trabalhadores".
Na visão do Fundo, a taxa média de desemprego na zona do euro, de quase 9%, poderia cair até
três pontos percentuais com a liberalização do mercado de trabalho. Nos EUA, o desemprego hoje
é de 6,4%, o maior nível em quase
uma década.
Texto Anterior: Toritama oferece emprego informal Próximo Texto: Elio Gaspari: Em Viracopos, a pressa da Infraero era trapaça Índice
|