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TRANSIÇÃO
José Dirceu e Antônio Palocci são nomes praticamente certos para compor governo; José Genoino, se perder a eleição para o governo de São Paulo, é cotado para assumir a Defesa
Sob pressão, PT tenta adiar ministério
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
FÁBIO ZANINI
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Se as urnas confirmarem as pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva se
elege hoje presidente da República, e já tem dois nomes definidos
para o seu ministério: José Dirceu,
presidente nacional do PT, para a
área política, e Antônio Palocci,
prefeito licenciado de Ribeirão
Preto e coordenador do seu programa de governo, para a área
econômica.
O restante do eventual ministério, no entanto, ficará para a primeira quinzena de dezembro, de
acordo com a palavra autorizada
de Dirceu. O mercado financeiro,
porém, pressiona pela definição
dos nomes da área econômica.
O presidente nacional do PT será o operador político do virtual
governo Lula, exatamente o que
fez durante toda a campanha.
Mas pode exercer a função ou como ministro da Justiça, ou como
chefe do Gabinete Civil.
Palocci, ao que tudo indica, será
o ministro do Planejamento, no
caso da vitória de Lula, posto que
ganhará relevância no governo
petista, equiparando-se em poder
e influência à Fazenda, toda-poderosa na gestão Fernando Henrique Cardoso.
A indicação de Palocci para o
Planejamento e o novo status da
pasta abrem espaço para a indicação de um não-petista, talvez um
empresário, para a Fazenda.
Mas a ordem que Lula transmitiu a seu Estado-Maior é a de não
discutir e menos ainda, como é
óbvio, divulgar nomes. "Quem se
nomear pelos jornais fica fora",
chegou a dizer o candidato.
Mesmo com essa restrição, um
terceiro nome é dado como certo
para vir a compor um eventual
gabinete petista: José Genoino, na
hipótese de ser derrotado na eleição paulista.
Superministério
Nomes à parte, há algumas definições no PT sobre formato do
que seria o governo. Exemplo: deve ser criado um superministério,
com o nome provável de Ministério das Cidades, para cuidar de
questões como habitação, saneamento e transportes urbanos.
Da mesma forma, está previsto
que algumas secretarias ganhem
status de ministério, casos de
Combate à Fome, de Segurança
Pública, de Mulheres e de Combate ao Racismo.
A intenção do PT, se vencer, é
preparar e anunciar um "kit" administrativo-político completo,
em vez de antecipar os nomes para a Fazenda e para o Banco Central, no que contraria o clamor
dos mercados.
Por "kit" completo, entenda-se
o ministério, o partido e as lideranças no Congresso.
A ordem de Lula é não permitir
que a formação de governo esvazie o PT. Por isso mesmo, Genoino pode, em vez de ser ministro,
tornar-se o presidente do partido,
já que é o segundo de Dirceu, que,
este sim, estaria no governo.
Um quarto componente do
"kit" é o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, organismo de consulta no qual estão
previstos notáveis do PT e de fora,
como, entre outros, Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares,
Delfim Netto, Luciano Coutinho e
Luiz Gonzaga Belluzzo, muito
possivelmente sob a coordenação
de Guido Mantega, um dos porta-vozes econômicos do partido.
Transição
O grupo que deve ser primeiro
designado é o de transição. Haverá uma equipe "enxuta" de coordenação, como a define Luiz Dulci, secretário-geral do PT, mais os
51 técnicos cuja nomeação (e pagamento) já está prevista pelo governo atual.
Em princípio, o anúncio da
equipe de transição será feito na
terça-feira, mesmo dia em que
Lula deve avistar-se com FHC, já
tendo seu pessoal designado.
Os coordenadores devem sair
do grupo que já desempenhou esse papel na campanha, a saber:
Dirceu, Dulci, Palocci, Luiz Gushiken (ex-deputado e braço direito de Dirceu) e Gilberto Carvalho,
que cuida da agenda de Lula.
Lula pretende, aliás, reunir-se o
mais depressa possível com os
presidentes dos partidos todos,
PSDB inclusive, para discutir as
presidências das duas Casas do
Congresso e a sustentação parlamentar do governo.
Nomes para o ministério só serão antecipados se a pressão dos
mercados for muito forte. Mesmo
assim, se for preciso indicar logo o
ministro da Fazenda e o presidente do BC, a idéia do PT é divulgar
simultaneamente os nomes da
área política, para dar a demonstração de que a economia não
predominará sobre a política no
governo do partido.
"O Ministério da Fazenda não
pode ser o centro do mundo", diz,
por exemplo, Luiz Dulci.
Primeiros dias
De todo modo, definições mais
firmes só virão no discurso da
eventual vitória que Lula pretende fazer na segunda-feira no Hotel Intercontinental.
Hoje, mesmo que os resultados
sejam conhecidos relativamente
cedo, a idéia é fazer apenas a saudação emocional e formal caso
confirmado vencedor, sem maior
conteúdo político.
Na terça, Lula dá início formalmente à transição, no encontro
com FHC, e, depois disso, deve
permite-se uma folga, em São
Paulo mesmo, de uma semana
mais ou menos.
Se vencedor e depois de designado o ministério, Lula pretende
reeditar algo próximo à Caravana
da Cidadania, com que percorreu
o Brasil em campanhas anteriores. Mas, desta vez, levando seus
ministros para que sintam de perto as dores de regiões pobres como as do o Vale do Jequitinhonha
e do sertão nordestino.
Claro que, desta vez, não irão todos de ônibus nem todos necessariamente ao mesmo tempo, mas o
candidato tem repetido que é preciso que seus auxiliares conheçam
o Brasil ao vivo.
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