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FUTURO
Tucano aposta em fracasso de eventual governo petista e dedica últimos dias da campanha para tentar se credenciar como líder anti-PT e voltar a disputar a Presidência em 2006
Se perder, Serra quer ser líder anti-PT
RAYMUNDO COSTA
EM SÃO PAULO
Convencido de que um eventual
governo de Luiz Inácio Lula da
Silva levará o país à "frustração"
popular ou à "ruína" econômica,
José Serra dedicou os últimos dias
da campanha eleitoral, no segundo turno, para tentar credenciar-se como o líder anti-PT. Seu futuro é a oposição, um posto para o
qual tem muitos concorrentes,
sobretudo no próprio PSDB.
O futuro imediato Serra já decidiu. Após um período de descanso, provavelmente na Europa, o
tucano reassume sua cadeira no
Senado. O mandato termina em
fevereiro, quando o novo Congresso toma posse. Depois disso,
pensa em voltar a dar palestras e
aulas na Unicamp, universidade
da qual é professor licenciado.
Para credenciar-se ao posto de
líder anti-PT, Serra precisa tirar
das urnas neste domingo pelo
menos 30 milhões de votos.
Qualquer coisa a menos deixaria a Serra a opção de tentar o governo de São Paulo ou voltar ao
Legislativo, onde se tornaria uma
espécie de "guru" econômico como hoje é o deputado federal Delfim Netto (PPB-SP).
A expectativa mais otimista do
comitê de campanha de Serra é
que ele possa chegar perto dos 35
milhões de votos. Para o presidente do PSDB, José Aníbal, com
30 milhões ou com 35 milhões de
votos Serra "será uma referência"
obrigatória.
Esse foi o objetivo dos últimos
programas de TV do candidato
no horário eleitoral gratuito. O
ataque cerrado ao PT foi substituído por realizações de Serra como ministro do presidente Fernando Henrique Cardoso e pela
reapresentação de sua biografia.
O objetivo é "amenizar" a imagem do candidato, que ao longo
da campanha adquiriu a fama de
"destruidor", uma pessoa desagregadora.
Primeiro, teria sido Roseana
Sarney (PFL- MA), cuja candidatura presidencial naufragou com
a descoberta de R$ 1,35 milhão em
empresa que ela mantém em sociedade com o marido, Jorge Murad. Depois, foram os ataques a
Ciro Gomes (PPS) logo na abertura do horário eleitoral.
Serra pensa em concorrer novamente à Presidência, tarefa que
seria facilitada por um eventual
naufrágio do governo Lula, segundo a avaliação dos tucanos.
Afinal, segundo o raciocínio do
núcleo da campanha mais próximo do candidato, o petista tentou
quatro vezes antes de chegar lá.
Essa foi a pista que o candidato
tucano pavimentou na última semana, embora seus assessores
mais próximos digam que ele
exercerá uma oposição no limite
da governabilidade.
Na "frustração" ou na "ruína",
destino que o próprio candidato
previu para o país com Lula na
Presidência, Serra poderia capitalizar o fato de que a eleição o projetou nacionalmente e dizer que
avisou do "estelionato" eleitoral.
Algo que Lula, agora, nem precisou martelar em relação à sobrevalorização do dólar que Fernando Henrique Cardoso fez em
1998, quando tentou e conseguiu
o segundo mandato.
O projeto serrista tem dois problemas. De saída, as primeiras iniciativas de Lula. Se o petista propuser um pacto nacional, até mesmo os aliados mais fiéis do candidato querem discuti-lo antes de
tomar uma decisão de apoiar ou
não o governo petista. E boa parte
deles tem origem na esquerda e
simpatia pelo PT.
O outro problema é a concorrência no campo dos derrotados,
a começar pelo PFL, cuja oposição "doutrinária" liberal ao PT
saiu desacreditada pela aversão
da sigla a Serra e a adesão de caciques da sigla a Lula.
No PSDB, há pelo menos três
segmentos preparados para ocupar o posto para o qual desde já
Serra tenta se credenciar: os setores que ele derrotou para sair candidato, que afiam as garras para a
revanche, as forças que saíram
fortalecidas das urnas e a sigla natural no caso de um fiasco do PT:
FHC. No primeiro caso, estão
Tasso Jereissati, senador eleito pelo Ceará, e Pimenta da Veiga
(MG). Pimenta não terá mandato.
Tasso ficou "queimado" mesmo entre aliados do PSDB ao se
expor publicamente no apoio a
Ciro Gomes (PPS). Na sigla vige
uma espécie de Lei Mário Covas:
quem perde, apóia o vencedor.
No segundo grupo destacam-se
o governador eleito de Minas Gerais, Aécio Neves, e Geraldo Alckmin, cuja reeleição em São Paulo é
apontada por todas as pesquisas
de opinião.
Fragilidade
A fragilidade de Aécio é a situação financeira que encontrará em
Minas, na avaliação dos tucanos.
Ele vem tentando que FHC, em final de mandato, ajude Itamar
Franco a terminar o governo com
as contas mais ou menos equilibradas. Mas enfrenta a mesma retórica que Serra enfrentou da
equipe econômica para ajudar na
eleição: não tem dinheiro.
Dos governadores tucanos,
Alckmin é um dos que saem da
eleição com a maior gratidão de
Serra. Muito embora ele não tenha vinculado seu nome na propaganda da TV tanto quanto o tucano gostaria, o candidato acha
que o governador paulista ajudou
como pode. Levando-o a seus comícios, por exemplo, sem exigir
contrapartidas materiais como
outros fizeram.
Antes de ser sagrado pelo PSDB,
Serra fez um acordo com Alckmin: não tentaria disputar o governo de São Paulo caso não conseguisse a indicação do partido
para disputar a Presidência. No
comitê de Serra, há quem aposte
que ele pode vir a ser consultor do
governo paulista.
A eventual aliança Serra-Alckmin poderia manter a hegemonia
paulista no comando do partido,
ameaçada pela frente que Tasso
começa a articular com Aécio,
que prevê até a volta de Ciro Gomes ao partido.
Para Serra, resta uma árdua tarefa: reconstruir as pontes que
implodiu para se tornar o candidato à sucessão de FHC.
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