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Campanha tucana termina com dificuldades de caixa
EM SÃO PAULO
A campanha de José Serra chega ao final endividada, mas o presidente do PSDB, José Aníbal
(SP), assegura que todos os compromissos assumidos serão
honrados. Os tucanos fizeram
uma previsão de gastos de R$ 60
milhões, esperavam arrecadar R$
48 milhões e estarão satisfeitos se
fecharem com R$ 45 milhões.
Além de sua posição nas pesquisas, um outro problema afetou
o projeto financeiro dos tucanos:
a inexperiência dos encarregados
da arrecadação, Luiz Furquim e
Milton Seligman, além do deputado Márcio Fortes (RJ), que estava
ocupado com a própria reeleição.
Fez falta para Serra o ex-ministro das Comunicações Sérgio
Motta, morto em abril de 1998.
Além da articulação política, era
ele quem cuidava dessa questão
para o candidato em campanhas
anteriores. O principal gasto da
campanha de Serra foi com a produção dos programas de TV do
candidato. Era esperado. O que
ninguém apostava é que a campanha se encerrasse com Serra e o
publicitário Nizan Guanaes, responsável pelos programas, mantendo um bom relacionamento.
Desafetos no passado, Serra e o
publicitário Nizan Guanaes chegam ao fim da respeitando-se
mais. Eles não tiveram uma, mas
várias discussões sobre o que fazer na campanha. Profissionalmente, ao contrário do que ocorreu na campanha de Serra para a
Prefeitura de São Paulo, em 1996,
que terminaram rompidos pessoalmente.
Uma das discussões de Nizan
com Serra, na atual campanha, foi
justamente sobre a questão financeira. O publicitário disse claramente ao candidato os problemas
que detectava na campanha, como a falta de dinheiro para o pagamento do pessoal, o que poderia desmotivar quem trabalhava
dia e noite por sua eleição.
O próprio Nizan adiantou R$
1.350,00 para bancar despesas
inadiáveis, como o pagamento de
direitos autorais, que é sempre
feito à vista. Caso de uma música
de Leonardo adotada pela campanha no primeiro turno.
Em outra ocasião, Nizan aborreceu-se quando Serra decidiu
cumprir um compromisso de
campanha na capital do Tocantins, Palmas, em plena madrugada. O publicitário achava que o
candidato deveria se concentrar
em grandes colégios eleitorais como Minas Gerais.
Serra argumentou que era uma
exigência dos políticos. Além disso, Serra já havia adiado uma visita à cidade. Nizan, falando alto e
gesticulando muito, rebateu que
os políticos o haviam abandonado, que ele estava só.
As duas agendas, a política e a
do marketing, nunca se entenderam. Nizan, que valoriza a forma,
queria Serra descansado e de bom
humor no último debate antes do
primeiro turno, realizado na TV
Globo no dia 3 de outubro.
A campanha chegou a fazer
uma reserva num hotel localizado
nas proximidades do estúdio da
TV Globo. Ele deveria chegar pela
manhã, descansar à tarde e ir à
noite para o debate.
Serra, ao contrário, sempre privilegiou o conteúdo à forma. Antes do debate, fez uma maratona
de viagens, indo do Norte ao extremo Sul do país.
Resultado: o tucano chegou à
TV Globo gripado, parecendo ter
mais do que seus 60 anos, na visão
de um auxiliar.
Já no debate de sexta-feira passada, Serra cumpriu à risca às recomendações da equipe de marketing: tomou sol na tarde de
quinta-feira, viajou pela madrugada para o Rio, dormiu pela manhã e, à tarde, treinou novamente
para o embate noturno.
Nizan, que entrou como um
"criador" na campanha, sai com a
fama de também ser um "estrategista" que ele mesmo não saberia
que é. Uma de suas teses: o governo deveria ter entrado na disputa
eleitoral com mais de um candidato: nos debates, Serra não seria
o único alvo e nem o único a atacar os outros três adversários, todos de oposição ao governo, o que
sempre provoca desgaste.
Nas conversas diárias que mantinha com FHC, previu que Serra
iria para o segundo turno, mas
não ganharia a eleição.
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