|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUMO A 2006
Bornhausen afirma que qualquer outro candidato
governista no lugar de Serra ganharia a eleição e que
"fisiológicos" do seu partido podem sair, pois "não farão falta"
PFL pretende constranger PT no Congresso
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
MARTA SALOMON
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pronto para assumir a oposição
ao eventual governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o PFL avisa que
não fará oposição "rancorosa",
como a que os petistas fizeram ao
governo Fernando Henrique Cardoso, mas "fiscalizadora".
Em quase 18 anos, o PFL só experimentou a oposição de verdade por pouco mais de dois meses,
no final do governo João Figueiredo -o que dá pouco mais de 1%
do tempo desde sua fundação.
Para começar, os pefelistas pretendem impor constrangimentos
aos petistas. O presidente do PFL,
Jorge Bornhausen, planeja ressuscitar projetos de aumento do salário mínimo e dos servidores apresentados pelo PT no Congresso.
Às voltas com uma ameaça de
debandada de pefelistas rumo ao
PL e PV, Bornhausen diz que os
"fisiológicos" podem sair e "não
farão falta". Ele acredita que não
deve contar com grandes apoios
na oposição. Avalia que o PMDB,
"eminentemente fisiológico", irá
se aproximar de Lula.
Acusado de ser o responsável
pela sucessão de erros dos pefelistas na campanha presidencial, o
senador catarinense não aceita o
papel de culpado. Segundo ele,
desde o início alertou FHC de que
a vitória do tucano José Serra era
impossível. "Qualquer outro teria
ganho a eleição."
Folha - Qual o formato da oposição ao governo Lula?
Jorge Bornhausen - Vamos discutir a posição do PFL no dia 31 de
outubro. Faremos uma oposição
fiscalizadora. Vamos fiscalizar as
promessas, mas não impedindo
que os projetos de interesse do
país possam ser aprovados.
O PT fez uma oposição rancorosa, não foi uma oposição construtiva. Era contra o país, com aquela
grande marcha sobre Brasília,
com a CUT, as CPIs que eles tentavam fazer sobre corrupção para
ter palco permanente, sem fato
determinado, discursos violentos,
projetos inviáveis, como o projeto
do salário mínimo.
Nós deveríamos requerer urgência para os projetos apresentados pela bancada do PT, inclusive
sobre salário mínimo, para ver se
os petistas queriam prejudicar o
governo Fernando Henrique ou
se acreditavam que tais projetos
deveriam ser aprovados. Ou o PT
vota a favor ou o PT está fazendo
demagogia.
Folha - O PFL quase sempre esteve ligado ao governo. Até mesmo o
governo Collor o PFL sustentou por
um período. Será muito difícil para
o PFL aprender a fazer oposição?
Bornhausen - O PFL nasceu exatamente indo para a oposição,
quando fizemos a dissidência,
criando a Frente Liberal. O PFL
vai completar, na realidade, uma
etapa de vida curta. Nessa vida
curta, estivemos na oposição ao
Figueiredo, contribuímos fundamentalmente para a transição democrática brasileira. No governo
Itamar Franco tivemos representantes, mas não considerávamos
esse apoio incondicional. Depois,
participamos das eleições e, no
governo Fernando Henrique, o
PFL tinha de ser governo.
Folha - Qual o argumento que o
sr. dará aos pefelistas que se vêem
tentados a manter cargos na administração pública para que eles façam oposição?
Bornhausen - Eu acho que quem
quer ficar no governo de forma
explícita, procurando fisiologicamente cargos, deve procurar outras legendas.
Folha - Pode haver uma grande
debandada do PFL rumo a legendas como o PL e o PV, mais próximos do PT.
Bornhausen - Não acredito em
grande debandada. Mas os que
quiserem apoiar o governo, os fisiológicos, esses poderão perfeitamente sair, não farão falta.
Folha - Como o sr. vai lidar com o
senador Antonio Carlos Magalhães
e a governadora Roseana Sarney,
que apoiaram Lula?
Bornhausen - Saberemos juntar
as nossas idéias para tomarmos
uma posição coerente no partido.
O partido foi de tal forma solidário com Roseana, rompendo por
unanimidade com o governo, que
ela também tem laços profundos
de gratidão ao seu partido.
Folha - Quem estará ao lado do
PFL nessa oposição ao PT?
Bornhausen - Num primeiro
momento, eu acho que o PFL não
vai agregar muitos partidos, porque a gente vê claramente que a
tendência do PMDB é de se aproximar, de obter cargos, porque é
um partido eminentemente fisiológico. Alguns setores do PSDB
podem procurar ajudar ou participar [da oposição aos petistas",
não a maioria, que vai dar apoio
ao governo do Lula.
Folha - O PFL está a caminho da
oposição por falta de alternativa.
Como o sr. avalia o papel do partido. Há quem diga que o sr. errou.
Bornhausen - Eu quero considerar o problema da sucessão desde
o seu início. O que apresentei em
nome do PFL foi a manutenção
da coligação dos cinco partidos e
a escolha de quem tivesse a melhor chance de vitória.
Defendi que o candidato não
poderia ser ministro nem do núcleo do poder, que, normalmente,
estaria em exaustão. E que seria
muito melhor um governador.
Diversas vezes eu conversei com o
presidente sobre Geraldo Alckmin, sobre Tasso Jereissati, sobre
Roseana Sarney.
Eu acho que a estratégia do PFL
foi a única possível. Era a de, não
tendo a possibilidade de haver a
coligação, ter uma candidatura
própria. Infelizmente, ela [a candidatura Roseana Sarney] foi
abalroada. Não considero que eu
tenha culpa no processo. Os culpados são outros, não eu.
Num segundo momento, nós
fomos atropelados pela verticalização do TSE, que nos impediu de
ter candidato à Presidência. As
coligações em andamento nos Estados impediram que o PFL tivesse um candidato.
Aí o partido deixou livre. Nós
[aliados de Bornhausen] optamos
por Ciro porque achamos que o
Serra tinha participação no episódio Roseana, seu gabinete tinha
participação. Quando ele foi para
o segundo turno com o Lula, nós
fizemos uma recomendação. Eu
voto no Serra admitindo os seus
erros, os erros que teve em relação
ao PFL, mas por ser uma pessoa
mais experimentada do que o
candidato do PT.
Folha - Mas a condução da estratégia pefelista não foi errada?
Bornhausen - Nós ficamos afastados do processo. No dia 5 de
maio, só para recordar, eu fui jantar com o presidente da República, o [então] ministro Pimenta da
Veiga e o presidente do PSDB, José Aníbal. Propus ao presidente
que o PSDB apresentasse outro
candidato, que poderia ser o Tasso, o Aécio, e nós apoiaríamos na
nossa convenção. Porque estávamos convencidos de que a vitória
do Serra era impossível.
Qualquer outro candidato teria
ganho a eleição. Ele não conseguia agregar, não conseguia se comunicar com o eleitor, conquistar
o eleitorado. Não tinha carisma.
Se tivéssemos adotado a candidatura Tasso, o Ciro teria desistido,
o Tasso seria hoje presidente da
República. Se tivéssemos adotado
a candidatura do Aécio, o Aécio
muito provavelmente seria presidente. Se tivéssemos adotado a
candidatura Alckmin, teríamos
ganhado bem a eleição. Tanto que
o Alckmin está ganhando, e o Serra perdendo.
Folha - Pela sua avaliação, o presidente Fernando Henrique Cardoso é responsável pela derrota...
Bornhausen - Eu acho que o presidente deixou que a candidatura
Serra atropelasse seu próprio partido e os partidos de sua coligação. Ao deixar que isso ocorresse,
ele deu estímulo à candidatura
Serra, sem dúvida alguma.
Folha - A questão econômica não
pesou?
Bornhausen - Outro candidato
não teria de estar discutindo a
questão econômica. Porque a
questão econômica é discutida
por quem faz parte do núcleo do
poder. No caso do Serra, ele tinha
sido ministro do Planejamento.
Mas um governador podia dizer:
"Olha, eu não tenho nada com a
gestão econômica, quero mostrar
como está o meu Estado". Isso daria uma viabilidade muito maior
de vitória. E o povo queria uma
terceira via, que não era o Lula e
não era o Serra. Quando a busca
pela terceira via desapareceu, a
candidatura Lula foi consagrada.
Folha - O que o sr. espera de um
futuro governo Lula?
Bornhausen - A campanha eleitoral foi feita com base em grandes promessas. O discurso do Lula foi construído por meio da pesquisa. Ele foi apenas o leitor do teleprompter. Se essas promessas
não forem cumpridas -e eu acho
muito difícil que esse ideal seja
atingido-, as frustrações serão
muito grandes, e as cobranças
partirão dos próprios segmentos
que apoiaram o candidato do PT,
caso ele seja vitorioso.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Após eleição, Serra trava disputa pelo controle do PSDB Índice
|