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RELAÇÕES EXTERIORES
Se eleito, candidato petista terá 45 dias após a posse para definir que fatia do mercado irá oferecer nas negociações da Alca, associação que ele atacou na campanha
Negociação com os EUA será espinhosa
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Os sinais de boa vontade enviados por Washington a Luiz Inácio
Lula da Silva, candidato que deve
se eleger presidente hoje, não escondem a agenda espinhosa a ser
negociada pelos dois países.
Lula terá só 45 dias, após a eventual posse, para decidir qual fatia
do mercado irá oferecer nas negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), processo
comparado por ele a uma anexação do Brasil pelos EUA.
Além disso, Brasil e EUA estarão co-presidindo as negociações
da Alca e definindo sua velocidade na época da posse do novo presidente, em janeiro.
O discurso anti-Alca usado por
Lula durante a campanha agrada
vários setores industriais brasileiros que temem a concorrência
com os EUA. Mas há setores no
país que levariam vantagem com
a Alca, como o têxtil, o agronegócio e o aeronáutico, entre outros.
Esses setores contribuem para o
ingresso de dólares no Brasil e facilitam o equilíbrio das contas externas brasileiras. "Criticar a Alca
pode ter ótimos resultados eleitorais, mas não ajudam na vida
real", disse Richard Feinberg, ex-diretor do Conselho de Segurança
da Casa Branca.
"Se o Brasil não entrar, ficará
isolado, cercado. Esperamos que,
se eleito, Lula traga uma abordagem mais construtiva para a diplomacia comercial brasileira."
Para adaptar-se à realidade, Lula poderia aderir cuidadosamente
às negociações, acelerando a integração somente nos setores que
interessam ao país. O problema
seria explicar à opinião pública as
diferenças entre essa postura e a
do governo atual, cuja política comercial é criticada pelo PT.
Foguete
Mas a Alca não será o único problema comercial de Lula. Durante
a campanha, ele afirmou que basta ao Brasil assumir uma postura
mais incisiva para convencer os
EUA, país com um PIB de US$ 9,3
trilhões, a derrubar barreiras contra o Brasil, nação com uma economia de US$ 500 bilhões. Essas
barreiras inibem US$ 5 bilhões
em exportações e são um entrave
ao crescimento brasileiro.
O programa petista sugere, indiretamente, que o governo brasileiro pode combater esse protecionismo por meio de retaliação.
Mas as consequências poderiam
ser graves. Segundo dados do BC
brasileiro, o país só conseguirá fechar suas contas externas em 2003
com os empréstimos do FMI,
controlado pelos EUA.
Outro assunto "espinhoso" na
relação bilateral é tratado entre os
dois países que regulamenta o uso
comercial, por empresas americanas, da base de lançamento de foguetes de Alcântara.
Concluído no ano passado, o
tratado é fundamental para o uso
da base porque obriga o Brasil a
respeitar as condições exigidas
pela Casa Branca para permitir
que companhias americanas lancem satélites em outros países.
Segundo o PT, essas condições
são inaceitáveis porque ferem a
soberania. O problema é virar as
costas para um mercado anual de
US$ 12 bilhões, no qual 80% dos
lançamentos de foguetes são feitos por companhias americanas.
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