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HISTÓRIA
COMPANHEIROS Dos sete sindicalistas que tiveram a idéia original de fundar o partido, em 1978, apenas Lula e o governador
gaúcho, Olívio Dutra, continuam líderes entre os petistas
Pré-históricos do PT caem no limbo
CYNARA MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL
A estrela era ainda uma nebulosa em formação na cabeça de sete
sindicalistas em 1978, quando se
começou a falar em um partido de
trabalhadores. A fundação do PT
só ocorreria dois anos mais tarde,
em fevereiro de 1980, no colégio
Sion, em São Paulo.
Dos sete representantes dessa
era pré-histórica, apenas Lula (o
"Baiano"), 57, e o governador
gaúcho, Olívio Dutra, 61, têm importância hoje no partido. Três
deles nem sequer votaram em Lula no primeiro turno.
Jacó Bittar (o "Turcão"), 62, então presidente do Sindicato dos
Petroleiros de Paulínia, e José Cicote (o "Chicote"), 64, que representava os metalúrgicos de Santo
André, se filiaram ao PSB e votaram em Garotinho. Henos Amorina (o "Saúva"), 73, dos metalúrgicos de Osasco, foi para o PPS e
apertou o botão de Ciro Gomes.
Hoje, todos vão de Lula -inclusive os outros dois "petessauros", Wagner Benevides, 64, petroleiro mineiro, e Paulo Skromov (o "Filósofo"), 57, da indústria do couro de Avaré (SP), agora
militantes anônimos do PT.
No princípio, ninguém acreditava. Cicote conta: "Um dia cheguei em casa e falei para a Inês
[sua mulher]: "Estamos pensando
em fundar um partido, o que você
acha?" Ela: "quá-quá-quá". Quase
morreu de rir. "Vocês nem conseguem manter um sindicato!'".
Era o tempo das greves e das
prisões de sindicalistas ordenadas
pelo regime militar. A paternidade da idéia de criar um partido de
trabalhadores é controversa.
"Foi o Skromov", diz Benevides.
"Foi o Lula", dizem Skromov,
Bittar e Dutra.
"Foi o pessoal da Convergência
Socialista", diz Cicote.
"Fui eu", diz Amorina.
CIA
O fato é que, aprovada a proposta, os sindicalistas receberam a
missão de ir, qual apóstolos, espalhar a "boa nova" país afora, enfrentando a oposição dos comunistas do antigo PCB.
"Giocondo Dias [secretário-geral do "partidão"] nos rotulou como sendo da CIA, porque dizia
que o PCB já era um partido de
trabalhadores", conta Benevides.
"Nessa época, Lula tinha aversão
ao movimento estudantil."
Segundo Skromov, Lula falava
que "lugar de estudante é na escola, e de padre, na igreja. Partido
dos trabalhadores é para quem
usa macacão". No entanto, o futuro presidenciável começaria logo
a atrair para o "movimento pró-PT" intelectuais e personalidades.
"O Lula sempre trabalhou muito o lado pessoal. Quando foi para
cima do Chico Buarque, que era
do PCB, ninguém acreditou",
conta Skromov. "Quando vi ele se
unir ao José Alencar (PL-MG),
pensei: já sei, é a mesma paixão
que ele teve pelo Almino Afonso."
Afonso, ex-exilado, acabou não
vindo. Vieram Henrique Santillo
(GO), o primeiro senador a aderir
ao PT, e o deputado federal Edson
Khair (RJ), ambos do então MDB.
Santillo (morto em junho) saiu logo, por pressão da tendência hoje
conhecida como Causa Operária.
Em 1982, na primeira eleição de
que o PT participa, Jacó Bittar recebe mais de um milhão de votos
para o Senado, mas não é eleito.
Em 1988, é eleito prefeito de Campinas e deixa o partido dois anos
depois, expulso.
"A ruptura aconteceu porque
eu defendia naquela época idéias
que o PT defende hoje", diz Bittar.
"A grande acusação é que eu tinha
um acordo político com o Quércia, que agora apóia o Lula. Mas
ele era governador, eu só defendia
uma relação administrativa."
Bittar diz não fazer planos de
voltar para o partido se o colega
de sindicalismo for eleito. "Tenho
absoluta convicção de que não faço falta ao PT."
Intelectuais
Com a chegada dos exilados, como José Genoino e José Dirceu,
em 1979, e a aproximação de intelectuais como Francisco Weffort
-hoje ministro da Cultura de
FHC-, os sindicalistas começam
a perder espaço.
Sintomaticamente, na fundação
do partido os sete estão na mesa, e
Dirceu, na platéia; dois anos depois, em um encontro do PT, Dirceu dirige os trabalhos. Em 1983,
quando Bittar deixa a secretaria-geral, é substituído por Weffort.
"No início éramos todos parecidos, na indumentária, nas feições", lembra o governador Olívio Dutra. "Não se usava gravata
nem paletó, a não ser nas reuniões
dos tribunais do trabalho."
Apesar de ser o último sobrevivente dessa turma no comando
do partido, além de Lula, Dutra
diz ver com naturalidade a substituição dos antigos colegas por novos nomes. "Nossa única preocupação era crescer sem inchar."
"Mas deu uma inchada, sim",
diz Cicote, que foi deputado federal (1990-1994) e vice-prefeito de
Santo André (1988), brigou com o
grupo do prefeito Celso Daniel e
acabou deixando o partido em
1997. "O PT se elitizou bastante.
Quem não ocupa cargo hoje no
partido é trabalhador."
Henos Amorina, cujo máximo
na política foi ser vereador em
Osasco, é da mesma opinião. "De
vez em quando eu adoro o PT.
Mas de vez em quando penso: caramba, está igual aos outros", diz
o "Saúva", que pretende voltar ao
partido "antes de morrer".
Benevides e Skromov se dizem
satisfeitos com a militância pura e
simples. "Sinto-me confortável
ajudando", fala Benevides, que
até outro dia mandava uma cachacinha de presente para Lula.
"Hoje não dá, a Marisa bota para
quebrar para cima dele", brinca.
O "Filósofo" Skromov se candidatou a deputado federal em 1990,
mas não foi eleito. "Nunca consegui pedir voto para mim." Suas
críticas vão para as tendências internas. "Tendências, não, seitas.
Elas é que afastam os dirigentes
sindicais do partido."
Cicote exige: "Tem que ter reforma agrária logo, os juros têm
que baixar logo, o salário de US$
100 tem que vir logo. Se não for
para ter mudança, é melhor votar
no Serra". Não teme ser chamado
de dinossauro? "Antes dinossauro do que "bigato"." Bigato é uma
larva que dá na laranja e é usada
por pescadores como isca. "Um
bicho mole", ironiza.
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