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Dos sete fundadores do PSDB, só Serra se manterá na política ativa
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com o início da contagem regressiva do governo Fernando
Henrique Cardoso, hoje, encerram-se o mais longo "reinado" de
um partido em período de estabilidade institucional no Brasil e todo um ciclo no próprio PSDB.
Dos sete tucanos originais, só um
se manterá na política ativa: José
Serra, candidato à Presidência.
Franco Montoro morreu em
1999, aos 83 anos, e Mário Covas,
em março de 2001, aos 70. José Richa abandonou o partido e a vida
pública em 1994. Euclides Scalco
se desfiliou na mesma época, mas
chega ao fim do governo FHC
com gabinete no Planalto. Pimenta da Veiga cumpre seu último
mandato de deputado e nem sequer disputou a eleição.
Com a saída de FHC, 71, da cena
política, sobra apenas Serra, 60,
que deve ficar sem mandato e disputar liderança no partido com as
estrelas em ascensão: Aécio Neves, eleito governador de Minas, e
Geraldo Alckmin.
Fundado em junho de 1988
-ano da Constituinte- com oito senadores e 40 deputados federais vindos principalmente do
PMDB, o PSDB levou um banho
das urnas nas eleições municipais
de 1988, nas presidenciais de 1989
(Covas ficou em quarto lugar) e
nas eleições gerais de 1990.
Em 1994, porém, fez a festa.
Além da Presidência, ganhou os
governos de São Paulo (Covas),
Rio (Marcello Alencar) e Minas
(Eduardo Azeredo).
Segundo FHC disse à Folha, o
PSDB "foi um momento de revisão de rumos e de criatividade.
Qualquer mudança séria da sociedade requer, antes de mais nada,
conceitos novos. O PSDB encarnou esse tipo de inovação".
Ao tomar posse, FHC tinha como braço direito um personagem
essencialmente paulista, Sérgio
Motta, que não era político nem
muito conhecido, virou ministro
das Comunicações e morreu em
abril de 1998. Mas o presidente já
não contava com Richa e Scalco.
Parlamentarismo
O dentista Richa, 68, risonho e
comilão, foi de líder estudantil a
governador, mas perdeu a eleição
de 1990 e não resistiu à derrota do
parlamentarismo no plebiscito de
1993: "O PSDB foi fundado em
torno da tese parlamentarista.
Quando vi que a minha geração
não ia ver essa modernidade na
prática, perdi todo o interesse",
disse. Há anos é consultor de empresas privadas.
No governo FHC, recusou cargos e até ministérios, alegando
que o presidencialismo corrói os
melhores partidos e as melhores
intenções. Jamais, porém, deixou
de visitar o amigo Covas. Uma
amizade de décadas.
Scalco, 70, nascido gaúcho, tornado paranaense, é caladão, ligado à Igreja Católica. Quando Álvaro Dias (hoje no PDT e candidato ao governo do Paraná) entrou no PSDB, avisou: "Não foi
para isso que ajudei a criar um
partido". Na semana passada, no
seu gabinete de secretário-geral
da Presidência, explicou por que
voltou a ser tucano em 2001:
"Quando o Álvaro saiu, me senti
no dever de voltar".
A dissidência de esquerda no
PMDB surgiu por questões nacionais e regionais. Foi uma reação
ao presidencialismo e aos cinco
anos de mandato para Sarney (85-90), mas também aos adversários
estaduais que estavam tomando
de assalto o partido. Com o poder,
o PMDB virou a "casa-da-mãe-joana". Processo que se repetiria
no próprio PSDB.
Montoro era o "pai" de toda
uma geração em São Paulo, Covas
era líder do PMDB na Constituinte e principal estrela do grupo, e
FHC, o intelectual famoso sem
muito traquejo em política. "As
coisas giravam em torno do Covas", relata Pimenta.
As reuniões, ainda secretas,
eram no Hotel Nacional de Brasília, onde morava Montoro, ou na
chácara de Pimenta no Lago Sul.
Ex-secretário de Planejamento do
governo Montoro (SP), Serra o
chamava de "Dr. André" e tinha
muita afinidade com FHC. "Na
minha memória, vejo o Serra com
pastas debaixo do braço, correndo e atrasado", diz Scalco.
Quando eles se reuniram para
votar a sigla, a imprensa já tinha
apelidado a dissidência do PMDB
de SDB (Social Democracia Brasileira). Montoro, que vinha da Democracia Cristã, não gostava. Mas
PDP (Partido Democrático Popular) soava como o PDT de Leonel
Brizola. Meteram o "P" antes de
SDB, como exigia a lei partidária,
e seguiram em frente.
Valeu a pena? Para Pimenta, valeu: "O extraordinário legado de
FHC é o legado do PSDB".
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