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ALCKMIN
PERFIL
Tucano mantém perfil moldado na 'revolução de Pinda'
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL A PINDAMONHANGABA
No início dos 70, quando boa
parte dos jovens sonhava mudar
o Brasil, ou, quem sabe, o mundo,
Geraldo José Rodrigues Alckmin
Filho queria transformar a pequena Pindamonhangaba.
O então estudante de medicina,
nascido em 7 de novembro de
1952 na cidade paulista, não militava em organizações de esquerda
e tinha discreta participação no
movimento estudantil. Recebeu
de um amigo o convite para se
candidatar a vereador. Foi eleito
com cerca de 5.000 votos -um
recorde para a Pinda da época.
Começava assim, meio por acaso, naquele 1972, a carreira política de Geraldo Alckmin, 49, que
hoje, pelo PSDB, está próximo de
ser reeleito governador paulista.
Geraldinho, como o governador ainda é conhecido em Pindamonhangaba, a 145 km de São
Paulo, no Vale do Paraíba, cursava medicina na vizinha Taubaté e,
segundo seus colegas da época,
não pensava -e se pensava não
contava a ninguém- em se candidatar sequer ao grêmio estudantil da faculdade.
Por conta disso, foi com surpresa que a família ouviu do rapaz
magro a notícia de que havia aceitado o convite do então presidente do MDB de Pindamonhangaba,
Paulo Delgado, para tentar uma
vaga na Câmara Municipal.
Delgado arregimentava jovens
para a disputa das eleições nas fileiras do Movimento Democrático Brasileiro, o MDB, que fazia
oposição à Arena (Aliança Renovadora Nacional) e ao regime militar (1964-1985).
O objetivo de Delgado e seu grupo era renovar a cena política de
Pindamonhangaba e deixar para
trás nas urnas velhos caciques
arenistas. Por conta do bipartidarismo imposto pela lei, os jovens
da cidade se abrigaram sob a mesma legenda que deu guarida nos
anos 70 a radicais de esquerda e a
adeptos da luta armada.
A "revolução" dos "moços de
Pinda", como diz o engenheiro
Eduardo San Martin, 49, amigo de
Alckmin, foi vitoriosa e a turma
chegava ao poder com muito
idealismo e pouca ideologia.
"Nós entramos na política não
por uma questão nacional, mas
para mudar a cidade", conta San
Martin. Vizinhos quando crianças, os dois viajavam juntos para
Parati, litoral do Rio de Janeiro,
durante a juventude.
Após ter presidido a Câmara,
Alckmin dizia aos colegas: "Vou
ser médico, não político". O jovem vereador Alckmin Filho havia sido sondado pelo partido para ser candidato a prefeito.
Um dos principais articuladores
foi o então prefeito, João Bosco
Nogueira, que havia sido eleito na
chapa da renovação. Depois de
muita insistência dos colegas, disse: "Tudo bem, mas temos de falar com o meu pai".
A consulta ao "doutor" Geraldo, antes de decidir aceitar o convite para disputar a prefeitura,
não era mais uma firula de um
candidato titubeante. Alckmin
perdera a mãe cedo. Miriam Penteado Alckmin tinha 49 anos
quando morreu de complicações
cardíacas agravadas por uma
bronquite asmática.
"Palhacinho da mamãe"
Aos 10 anos, Geraldinho, o caçula do casal, só foi informado no
final da tarde daquele 12 de junho
que a mãe amanhecera morta.
"Ele ficou muito abalado, sofreu
de verdade e passou a ficar apegado demais com nosso pai, que viraria mãe e amigo", conta Maria
Isabel Alckmin, 56, a Bebé, irmã
mais velha do governador.
Apesar da forte ascendência sobre o filho, o velho Geraldo, agrônomo do Estado, enxadrista exímio, costumava não interferir nas
decisões do filho. Alckmin aceitou o convite e, aos 23 anos, em
1976, foi eleito prefeito. O pai o
acompanhou na prefeitura, onde
foi chefe de gabinete de Alckmin.
O procurador de Justiça Thiers
Fernandes Lobo, que seria o candidato a prefeito, acabou saindo
como vice. "Na campanha, eu comia pão com mortadela. Ele não.
Ficava apenas na garapa."
Alckmin é comedido na alimentação. Jovem, não bebia nem fumava. Sugeria aos amigos mamão
depois almoço. "É digestivo", dizia. Um dia na casa da avó, já prefeito, ele sumiu. Foi encontrado
em uma árvore, de terno e gravata, comendo jabuticabas.
Depois de Bebé, nasceu Mimi,
Maria Aparecida Alckmin, hoje
com 52 anos. "Eles queriam o primeiro filho homem. Só na terceira
tentativa é que o Geraldinho nasceu. Foi o xodó da mamãe", diz a
irmã mais velha do governador,
que era chamado de "Palhacinho
da Mamãe". Como Mimi, criança,
não sabia repetir a brincadeira,
chamava o caçula de "Paiau",
apelido que duraria entre os três
irmãos até os dias de hoje.
Apesar de tranquilo, Alckmin
também aprontava. "Ele reinava.
Pegava nosso batom e escrevia em
uma penteadeira", disse Bebé.
As molecagens do menino eram
encobertas por Thereza Faria
Santos, 62, a Nhá, a pajem que
ajudou a criar Alckmin e mora
com a família em Pindamonhangaba. Até hoje ela recebe telefonemas das cozinheiras do Palácio
dos Bandeirantes em busca das
receitas preferidas do tucano.
Do pai, que era católico franciscano, herdou a religiosidade. Em
um filme 16 mm, guardado por
San Martin, é possível ver Alckmin aos seis anos fazendo a primeira comunhão.
Com a morte da mãe, a família
deixou o sítio onde vivia e foi morar com os avós maternos de
Alckmin no centro de Pinda. É
dessa época a professora mais
brava que o menino teve: a freira
alemã Sigsberta, que colocava as
crianças de castigo no canto da sala e era o motivo de calafrios.
No colégio, o governador não
era o primeiro da turma, mas se
destacava pela boa memória. Dizia-se santista, como o pai, mas
não era muito fã das partidas de
futebol. Jogava apenas quando
elas eram no campinho do sítio.
Mesmo prefeito, Alckmin concluiu a residência e tornou-se
anestesista. Chegou a exercer a
profissão na Santa Casa de Pinda,
mas, em 1982, se elegeu deputado
estadual pela primeira vez.
Antes, em 1979, casara-se com
Maria Lúcia, que ele conhecera
em um baile em Pinda. "Eu lembro que no dia seguinte ao baile o
Paiau já falou dela para mim. Estava apaixonado", diz Mimi. Ele e
"dona Lú", como a primeira-dama ficou conhecida, têm três filhos - Sophia, 22, Geraldo Neto,
21, e Thomaz, 19, estudantes.
Na Assembléia, Alckmin expandiu sua base eleitoral, reelegeu-se
e, em 1986, lançou-se candidato à
Constituinte. Eleito para a Câmara dos Deputados, aproximou-se
de Mário Covas (1930-2001),
Franco Montoro (1916-1999) e
Fernando Henrique Cardoso, o
grupo de cardeais do então
PMDB que, com o atual governador, fundaria em 1988 o PSDB.
Em Brasília, não chamou a atenção do grupo pela habilidade política, mas pela dedicação e pelo espírito apaziguador. O trabalho no
Congresso ajudou Alckmin a ganhar a indicação dos tucanos para
ser vice de Covas em 1994 e 1998.
Em 2000, candidatou-se à Prefeitura de São Paulo, mas perdeu a
vaga no segundo turno para Marta Suplicy (PT) por 7.691 votos.
Covas, satisfeito com o desempenho de seu vice, comentava: "Não
disse que ele era bom?".
No Palácio dos Bandeirantes,
coordenou o processo de desestatização e assumiu o comando em
março do ano passado, com a
morte de Covas. Em janeiro, a crise da segurança colocou em xeque sua capacidade de liderança.
Alckmin começou a campanha
em segundo lugar nas pesquisas
de intenção de voto, atrás de Paulo Maluf (PPB). Na TV, propagandeou à exaustão as realizações da
gestão tucana. Discreto, Alckmin
construiu uma extensa rede de
apoio político no Estado, formada
por prefeitos e deputados. Essa
será sua base nas eleições de 2006.
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