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RIO GRANDE DO SUL
PT pode perder hoje, para o PMDB, o mais importante governo estadual que já conquistou no país
Antipetismo e "onda Lula" decidem no Sul
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA EM PORTO ALEGRE
MÁRIO MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
O espectro que ronda o Rio
Grande do Sul na eleição de hoje a
governador não é vermelho, não
carrega estrela no peito e não fala
em socialismo: é o espectro do
candidato favorito segundo as
pesquisas de intenção de voto,
Germano Rigotto (PMDB), 53.
A rigor, o espectro ronda não o
Estado, mas o PT, partido de Tarso Genro, 55, o oponente de Rigotto. O PT pode perder o mais
importante governo estadual que
já conquistou nas urnas, logo onde administra seis das dez maiores cidades, incluindo a capital, e
ostenta sua mais robusta estrutura relativa em todo o país.
Nenhum outro Estado representa de modo tão vigoroso o
"modo petista de governar". O
Fórum Social Mundial se reúne
em Porto Alegre. Uma derrota
quatro anos após a chegada ao governo gaúcho seria histórica, no
ano da mais farta colheita eleitoral
do partido. "Porém está em curso
uma virada histórica", disse Tarso
Genro na sexta-feira à Folha.
Seja qual for o resultado, terá de
fato impacto na história do Estado, com eco nacional imediato.
De um lado, perfila em torno de
Rigotto uma larga frente de partidos (PMDB, PSDB, PFL, PPS,
PPB, PTB, PDT) que formalmente, ou com a esmagadora maioria
dos quadros, reforçou a já enraizada cultura gaúcha do antipetismo -à qual se opõe outra manifestação poderosa, a do petismo.
Tem o apoio dos grandes empresários e dos produtores rurais.
Esteve quase toda na base do governo de Antônio Britto (PPS), de
1995 a 1998. O PDT é recém-convertido. A maioria esmagadora,
como Rigotto, está com José Serra
(PSDB) para a Presidência.
No outro córner, o PT é acompanhado dos parceiros tradicionais, como o PC do B. Em comparação com o palanque onde sempre cabe mais um do presidenciável petista Luiz Inácio Lula da Silva, Tarso vive na solidão.
É o candidato do governador
Olívio Dutra, cujo mandato mal
avaliado levou o PT, em prévias
internas, a não lhe conceder o direito de buscar a reeleição.
Tarso aposta numa força que
praticamente se transformou
num mito local -a militância supostamente capaz de reverter
"eleições perdidas".
Ele tem a seu favor gestões municipais com boa aprovação. Como a de Porto Alegre, onde o PT
assumiu em 1989 e não saiu mais.
Tarso investe na dobradinha com
o seu candidato à Presidência. A
"onda Lula" seria a sua salvação.
Chances
Pesquisas mostraram que Rigotto teria ampliado a vantagem
com que fechou o primeiro turno
-41,2% a 37,3% dos votos válidos. Do total de votos, três institutos deram ao peemedebista distância de 23 pontos (Ibope, no sábado retrasado), 18,1 pontos (Cepa, na quinta-feira) e 5,0 pontos
("Correio do Povo", na sexta).
Ontem, o jornal "Zero Hora" publicou pesquisas Ibope e Cepa,
com a diferença caindo. Foi para
16 pontos no Ibope (55% a 39%) e
8,5 no Cepa (51,8% a 43,3%).
Além dos números, contestados
pelo PT, há outro abismo entre os
dois finalistas: as ambições com
que cada um deu a largada.
Tarso venceu Olívio nas prévias
e abandonou a Prefeitura de Porto Alegre. Concentrou a estratégia
em bombardear Antônio Britto,
que ruiu com facilidade. Permitiu,
contudo, que Rigotto chegasse
sem arranhões à decisão.
O peemedebista abriu mão de
renovar o mandato de deputado
federal para se arriscar numa empreitada na qual poucos o levavam a sério. Passou meses sem
romper a barreira dos 4%. "No
fim de maio, esperava ganhar um
pontinho. Avisaram-me que continuava com 4%. Foi difícil", disse
anteontem, secando as lágrimas.
Uma possível derrota de Tarso,
que já foi apontado como opção
petista a uma candidatura ao Planalto, implicaria um golpe duríssimo na influência da seção gaúcha na vida do PT. No Rio Grande
do Sul se encontra um dos pólos
da esquerda partidária.
Rigotto teria pouco a perder.
Embora tenha sido líder do presidente Fernando Henrique Cardoso na Câmara, não tem expressão
de ponta no PMDB. Se ganhar, se
tornará um dos governadores
mais influentes da sigla.
Tarso diz que, se vencer, vai
"trabalhar para acabar" com o
antipetismo. Propõe uma aliança
ampla como a de Lula para governar. Reforça um discurso mais
flexível do que o de Olívio. Promete "unir" o Estado.
É a mesma promessa de Rigotto, que vê a própria eleição como
condição para isso. Determinado
a transmitir a imagem de "pacificador", afirma que convidaria o
PT para integrar um governo seu,
embora não acredite que o partido viesse a aceitar.
Tarso Genro intensificou na semana final de campanha a associação do antagonista com Serra e
FHC. Rigotto quis discutir o Estado. O petista inventariou votos do
rival na Câmara e na Assembléia.
Rigotto listou supostos fiascos do
governo Olívio e qualificou o Estado como "partidarizado, ideologizado e aparelhado" pelo PT.
Em três debates, o PT cantou vitória. O PMDB não viu reviravolta. Nos últimos dias, Porto Alegre
foi colorida por uma avalanche de
bandeiras petistas.
Porém os peemedebistas asseguram ter o controle das cidades
pequenas e médias. Muitos militantes pró-Tarso foram para o interior atrás de votos.
O Rio Grande do Sul virou motivo do embate dos programas de
TV de Lula e Serra. Os gaúchos
têm vocação atávica para votar na
oposição (a longevidade do PT
em Porto Alegre é exceção).
Hoje se saberá se valeu mais a
oposição ao governador Olívio
Dutra, com a vitória de Rigotto,
ou a oposição a Serra-FHC, com o
triunfo de Tarso.
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