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Visual "light" expõe petista, diz estudo
RAFAEL CARIELLO
DA SUCURSAL DO RIO
O discurso "light" e a imagem
de moderação assumidos pelo
candidato do PT à Presidência,
Luiz Inácio Lula da Silva, dão força às críticas de "despreparo" feitas contra o petista.
Ao procurar ocupar uma posição de autoridade, se diferenciando das pessoas comuns que encarnava e desfazendo o discurso
"radical", Lula tende a ser mais
cobrado por seu suposto "despreparo", estigma que, em campanhas anteriores, era colocado em
segundo plano pela imagem de
"operário combativo".
A análise é da antropóloga Irlys
Barreira, professora da UFC (Universidade Federal do Ceará) e integrante do Nuap (Núcleo de Antropologia da Política), que reúne
pesquisadores de universidades
federais do Rio (UFRJ), Ceará e
Rio Grande do Sul (UFRGS).
Barreira falou com a Folha anteontem, por telefone. Ela é autora do texto "Um Operário Presidente?", um dos capítulos do livro
"Como se Fazem Eleições no Brasil" (Relume Dumará, 275 págs.),
lançado neste mês. Nele defende
que a razão para o apoio ou a rejeição a Lula vinha sendo a mesma nas últimas três eleições presidenciais: sua imagem, identificada com a que a maioria da população brasileira faz de si mesma.
Essa imagem -responsável em
grande parte pelo carisma do candidato- criaria limites eleitorais
graves em uma sociedade hierárquica, diz Barreira, em que a Presidência seria um lugar simbólico
associado à suposta capacidade
de resolução das elites.
É por isso, diz a pesquisadora,
que "a estratégia da identificação
[com a população em geral" não
foi suficiente [para eleger Lula"".
Despreparo
"A idéia do despreparo [intelectual de Lula" sempre foi acionada
[pelos adversários", em todas as
campanhas. Desde a formação, da
origem, até as expressões que o
Lula usa", afirma Barreira.
Antes, contudo, quando cobrado sobre seu preparo, Lula podia
contrapor-se como um "reservatório ético e símbolo de combate".
Para aquela estratégia, para seu
discurso anterior, ser ou não
"bem preparado" era uma questão secundária.
A diferença é que na atual eleição o candidato do PT teria decidido abandonar parcialmente essa imagem e, de maneira pragmática, assumir a posição de candidato "dotado de diferenciações
referentes à competência, diferenciação em relação à maioria dos
brasileiros".
"Nas últimas eleições, ele não
conseguiu romper essa barreira
de eleitores anti-Lula. Agora há
uma mudança no discurso: há a
idéia de que o trabalho tem que
ser feito menos em função desse
processo de identificação entre
Lula e os excluídos sociais."
A nova estratégia é centrada,
para a antropóloga, na "construção de um lugar de autoridade".
"Um lugar de onde se possa dizer:
"Eu tenho condição de governar".
Isso vai desde a imagem física, de
como Lula se veste, de como encara o público, como também implica estar ladeado de pessoas que
são dotadas de um capital cultural
reconhecido", afirma.
Para a pesquisadora, a campanha petista constrói uma imagem
de Lula como "autoridade bem
apessoada fisicamente, bem vestida, com o discurso certo para o lugar certo, com capacidade de fazer alianças, com capacidade de
negociar. Enfim, um homem de
poder". Barreira afirma ainda que
a construção dessa nova imagem
terá reflexos na própria organização do PT. "O partido não será o
mesmo, ganhando ou perdendo
[a corrida presidencial"."
A pesquisadora diz que o carisma de Lula tem sido em parte responsável pela manutenção do
partido unido e que, após a transformação na estratégia de campanha, essa função pode ficar comprometida.
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