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Ascensão de Ciro
reduz resistência
do empresariado
DO PAINEL S.A.
O presidenciável do PPS, Ciro
Gomes, sempre foi considerado
uma incógnita por grande parte
do empresariado brasileiro. Os
empresários acham que, por ser
jovem, pelo seu gênio intempestivo e por não ter uma equipe sólida, Ciro acabe dando razão aos
adversários que o acusam de ser
um novo Fernando Collor.
Nas últimas semanas, com a subida de Ciro nas pesquisas para o
segundo lugar, a apreensão do
empresariado diminuiu bastante
e cedeu espaço ao pragmatismo.
A Folha ouviu na última semana
18 grandes empresários brasileiros e constatou que o nome de Ciro se tornou muito mais palatável
do que até bem pouco tempo
atrás. Para a grande maioria dos
empresários ouvidos pela Folha
-muitos preferiram não se identificar- Ciro é cada vez mais uma
opção real para derrotar o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da
Silva, no segundo turno.
Não é por outra razão que a procura por parte de empresários para encontros -públicos ou reservados- com Ciro Gomes aumentou bastante. Só nas duas últimas semanas, o candidato participou de um jantar na casa do empresário Flávio Rocha, das Lojas
Riachuelo, teve um encontro na
Fiesp (Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo) e um café
da manhã sigiloso em São Paulo
com um grupo de cerca de 20 empresários de diferentes setores,
entre outros compromissos.
Para o empresário Eugênio
Staub, presidente da Gradiente,
esse movimento do empresariado
de adesão à candidatura Ciro é
ainda precipitado. "Essa corrida
depõe contra o empresário. De repente, a moça ficou bonita".
O empresário Antônio Ermírio
de Moraes, presidente do grupo
Votorantim, faz questão de dizer
que irá votar no candidato tucano
José Serra, mas diz que não tem
nada contra o Ciro. "Eu o ajudei
quando ele governou o Ceará e
nunca pedi nada em troca."
Ermírio de Moraes não perdoa,
no entanto, o fato de Ciro Gomes
ter comparado o jantar de empresários realizado no ano passado
na casa do banqueiro Olavo Setubal (Itaú) em torno da candidatura de José Serra às reuniões da
Oban -organização paramilitar
criada em 1969 para combater a
luta armada e que se transformaria num órgão de tortura. "Fiquei
magoado. Não sou bandido."
Para o empresário Romeu Chap
Chap, presidente do Secovi (Sindicato da Habitação de São Paulo), Ciro Gomes está apresentando hoje um discurso muito mais
consistente do que antes. "Ele deu
um show na Fiesp", diz Chap
Chap. Segundo ele, o que se ouvia
nos corredores da Fiesp, depois
da apresentação de Ciro, é que o
apoio da entidade tinha aumentado de 30% para 70%.
O que se pode constatar também no empresariado é que esse
movimento de apoio à candidatura Ciro não se deve apenas ao fato
de ele ter se tornado uma real opção para vencer Lula ou ao pequeno avanço de Serra nas pesquisas.
Há também uma grande insatisfação do empresariado das áreas
industrial e comercial com o modelo econômico adotado pelo governo FHC. Em que pese todas as
diferenças entre Serra e FHC, o tucano representa o continuísmo.
As maiores resistências à candidatura Ciro Gomes se concentram no setor financeiro. Os banqueiros não gostam da proposta
de Ciro de reestruturação da dívida e acham que ele não conta com
uma equipe sólida para compor o
governo. Além disso, temem a influência sobre Ciro do filósofo
Roberto Mangabeira Unger, com
suas idéias heterodoxas para a
economia. "Há ainda muitas dúvidas sobre o posicionamento de
Ciro", diz Humberto Casagrande,
diretor do Sudameris e presidente
da Abamec (Associação Brasileira
de Mercado de Capitais) nacional.
"O mercado ainda prefere trabalhar com a hipótese de Serra para
o segundo turno."
(GUILHERME BARROS)
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