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Itamaraty quis tirar Deus da fala de Lula na ONU
ENVIADO ESPECIAL A HAVANA
Nos bastidores dos últimos
ajustes no discurso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez
na terça-feira na ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova
York, Deus foi objeto de polêmica
com o Itamaraty.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e auxiliares
do presidente achavam que talvez
fosse inadequado fazer uma menção divina num fórum com chefes
de Estado das mais diversas religiões. Alguns poderiam ser até
ateus, ponderou a diplomacia.
Lula disse que não faria uma citação específica de Deus. "Só vou
falar da idéia de Deus. Por que
não posso? Não vou falar mal do
Deus de ninguém!", brincou.
E insistiu na menção, dizendo
que a tecnologia era cada vez mais
desenvolvida e assim o homem se
igualava a Deus. "Mas, quando se
tratava de combater a fome, parecia um comportamento do Diabo", disse Lula, segundo apurou a
Folha. Amorim cedeu.
Na própria terça, Lula ainda
brincaria com a equipe sobre o assunto: "Viram como o Bush terminou o discurso?". O presidente
dos EUA, George W. Bush, encerrou seu discurso com o tradicional "Deus os abençoe".
Tentando dar emoção ao discurso e criticar indiretamente a
política dos EUA de combate ao
terror, Lula pediu ao secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci,
três frases de Mahatma Gandhi
(líder indiano que combateu o
domínio inglês pregando a não-violência). A auxiliares, disse que
uma era exata para a ocupação do
Iraque: "A violência, quando parece produzir o bem, é um bem
temporário; enquanto o mal que
faz é permanente".
Restaram duas preocupações. A
primeira: não estourar muito o limite de 15 minutos. Lula gastou
23. Na véspera, leu o texto em 19
minutos. Ainda pediu que o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda
(PT), que estava na comitiva,
também lesse. "Quero ouvir como fica na voz de outra pessoa."
A segunda foi resolvida quando
o discurso veio num papel mais
grosso e áspero, para facilitar a
passagem das páginas.
Lula, então, relaxou e fez o discurso mais discutido de sua gestão. Partes da fala começaram a
ser escritas três meses antes.
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