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NO PLANALTO
Coerência do PT é geneticamente modificada
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma boa e uma má notícia para
a ministra Marina Silva (Meio
Ambiente). Primeiro, a boa nova:
em sua cruzada contra a liberação do plantio de soja transgênica, a ministra conta com o apoio
resoluto do principal partido político em atividade no país. Agora
a má notícia: o nome da legenda é
PT. Ou seja, Marina está só.
Na oposição, cheio de soluções,
o PT especializou-se em tirar gênios da garrafa. No governo, pleno de problemas, o ex-PT esmera-se na técnica de fazê-los descer
gargalo abaixo.
Em maio de 1999, a direção do
PT divulgou nota de repúdio à
intenção de Fernando Henrique
Cardoso de liberar o cultivo e a
comercialização de alimentos
transgênicos. Classificou-a de
"suspeita e irresponsável", verdadeiro "desafio à inteligência
nacional". Na semana passada, a
manifestação foi ao fundo da garrafa.
A julgar pelo conteúdo da nota
do PT, as últimas ações do governo do ex-PT submetem os brasileiros a riscos insondáveis. Lido
pelo então deputado José Genoíno (SP) no plenário da Câmara, o
texto de 1999 alertava:
1) "proliferam, em todo o mundo, reações contrárias da comunidade científica aos transgênicos". Mencionou-se uma "manifestação da Associação Médica
Britânica, exigindo a interrupção
do plantio de alimentos geneticamente modificados em toda a
Grã-Bretanha, até que novas pesquisas atestem que esses produtos não prejudicam a saúde humana e o meio ambiente";
2) "pesquisas desenvolvidas na
Europa atestam que o uso de genes resistentes a antibióticos pode provocar a transferência desses genes para bactérias patogênicas no intestino e, assim, tornar
ineficaz a ação dos antibióticos
no organismo humano";
3) "informações de pesquisas
realizadas em países como a Escócia, [dão conta de] graves distorções no sistema imunológico
dos animais";
4) "no Japão, há dezenas de casos de morte de pessoas provocadas pelo consumo de triptofano, aminoácido produzido por
uma bactéria geneticamente
modificada";
5) "o emprego continuado de
herbicidas em plantas resistentes ao produto, por meio da engenharia genética, provoca o
surgimento de [algo que os cientistas chamam de] superinços, o
que, junto a outros fatores, põe
em ameaça o conjunto do meio
ambiente e a saúde da população".
No exercício da Presidência, o
vice José Alencar contou até dez
antes de rubricar a medida provisória que autorizou o plantio
de soja transgênica. Se tivesse lido a nota do PT, decerto teria
economizado a tinta da caneta.
Além dos riscos à saúde, o documento mencionava os "inevitáveis impactos sobre a ampliação do fenômeno da exclusão
social nas áreas rurais do país".
Denunciava o risco de "marginalização dos produtos largamente cultivados pela agricultura familiar, que não se incluem
entre aqueles comercialmente
mais nobres" -como soja, por
exemplo.
Há na nota do PT de 1999 um
trecho que bem poderia ter sido
endereçado ao ex-PT de 2003:
"As dimensões éticas que envolvem os produtos transgênicos e
a importância da matéria para o
delineamento do futuro do país
recomendam a posição de absoluto desacordo e confronto da
bancada [petista] para com a
condução suspeita e irresponsável do governo, relativa à deliberação desses produtos no Brasil,
a toque de caixa e sem conhecimento científico dos riscos impostos à população e ao meio
ambiente".
O PT de 1999 parecia disposto
a ir às últimas consequências:
"Mantida a liberação dos transgênicos, nas condições postas,
cuidaremos para que o tempo
não conspire contra a responsabilização criminal dos autores
desse grave delito", a começar
pela "figura do sr. Fernando
Henrique Cardoso". É pena que
a legenda já não exiba o mesmo
ímpeto.
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