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Reuniões como a cúpula entre os dois países, no último dia 20, eram reservadas à Europa e a México e Canadá, parceiros no Nafta
Interesses comuns aproximam Brasil e EUA
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
Desta vez é difícil contestar a
avaliação da diplomacia brasileira
de que o relacionamento com os
Estados Unidos atingiu um novo
patamar, tão mais forte e intenso
que os mais entusiasmados chegam a definir como inédito em
171 anos de relações diplomáticas.
É verdade que diplomatas costumam vender ao público os aspectos positivos de qualquer relacionamento, em vez de enfatizar
as fricções que não raro também
existem. Mas, desta vez, a partir
da cúpula Brasil/EUA, no dia 20,
há razões para tomar como verdadeira a avaliação.
Primeiro, porque Washington
reserva esse tipo de reuniões de
cúpula, envolvendo o governante
e um punhado de ministros, para
apenas três aliados: Canadá e México, parceiros no Nafta, e União
Européia, a segunda potência
econômica do planeta.
São, por definição, países (ou
um bloco) com o qual o relacionamento é intenso e, portanto, justifica um tratamento diferenciado.
Com o Brasil, não.
Mesmo do lado brasileiro, diplomatas de grande experiência
não recordam ter havido reuniões
com tantos ministros presentes
de parte a parte, exceto, talvez,
com a Argentina.
O novo patamar de relacionamento tornou-se possível porque
as partes acharam conveniente
deixar no congelador os temas
que causam divergências, como é
o caso da área comercial.
"Alca (Área de Livre Comércio
das Américas) mal foi mencionada", depõe Marco Aurélio Garcia,
assessor internacional do presidente brasileiro. Não obstante, figurou no comunicado final de tal
forma que causou muito ruído internamente (ver texto abaixo).
A decisão era não só enfatizar
itens em que a cooperação é possível e desejável, mas também
olhar para a frente. A mudança de
patamar no relacionamento não
surge só do simbolismo da cúpula, mas, principalmente, do interesse norte-americano em dar sequência aos entendimentos iniciados em Washington.
Todos os grupos de trabalho
conjuntos criados no dia 20 já têm
reuniões previstas para o outono
(do Hemisfério Norte, que começa dia 21 de setembro).
O elenco de temas é portentoso.
"O Grupo para o Crescimento"
(entre o Tesouro dos EUA e a Fazenda brasileira) vai discutir política fiscal, reforma tributária, redução das barreiras para criação e
expansão de pequenas e médias
empresas, aumento do crédito e
do investimento em negócios, comércio, desenvolvimento de infra-estrutura e fortalecimento da
concorrência doméstica.
O Comitê Consultivo sobre
Agricultura vai discutir um plano
de trabalho que incluirá temas como as negociações comerciais em
andamento, questões sanitárias e
fitossanitárias.
Os EUA comprometeram-se a
dar total colaboração ao plano de
"inclusão digital" do governo brasileiro. A cooperação inclui criar,
por meio de grupo comandado
pelos Departamentos de Estado,
Comércio e Energia dos EUA,
uma plataforma do setor privado
de ambos os países para desenvolver uma incubadora de empresas de novas tecnologias.
Todas essas iniciativas, de preparação no curtíssimo prazo,
"forçarão o Brasil a avançar na
sua própria agenda em cada um
dos temas", diz o embaixador
brasileiro em Washington, Rubens Barbosa.
Se falou muito, também, de
Oriente Médio. Mais especificamente do "Mapa do Caminho", o
plano de paz elaborado pelos Estados Unidos, com respaldo de
Rússia, União Européia e Nações
Unidas. O que é natural: vencida a
guerra no Iraque, o plano passa a
ser a prioridade um da administração norte-americana.
Para o governo brasileiro, a hipótese de pacificação regional é
importante, na medida em que
Lula já anunciou uma viagem à
região, ainda este ano. Será uma
viagem de negócios e a paz é, obviamente, o melhor ambiente para fazer negócios.
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