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CASO CC-5
Grupo paulista, formado por cinco operadores, teria movimentado pelo menos US$ 1,17 bilhão entre 1996 e 1997
SP concentra doleiros do esquema Banestado
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Levantamento feito pela Folha
em documentos apreendidos pela
Polícia Federal revela que São
Paulo, e não o Paraná, concentra a
maioria dos doleiros que operaram as contas na agência do Banestado (Banco do Estado do Paraná, liquidado em 2000) de Nova
York -sob foco de investigação
da CPI (Comissão Parlamentar de
Inquérito) no Congresso.
Juntos, os doleiros de São Paulo
movimentaram, por meio de um
programa de computador específico, instalado pelo próprio banco
nas casas de câmbio, pelo menos
US$ 1,17 bilhão entre 1996 e 1997.
Do total de 55 empresas "offshore" (com sedes virtuais em paraísos fiscais, cujos donos são desconhecidos) que tiveram contas
na agência, 11 detêm o grosso da
movimentação. Elas movimentaram cerca de US$ 3,6 bilhões.
Seus operadores, que, por meio
de uma procuração da "offshore",
tinham o poder de receber e enviar recursos, têm raízes nos Estados de São Paulo, Paraná, Santa
Catarina, Ceará e Amazonas.
O trabalho dessas empresas
consistia em receber o dinheiro
nas contas que mantinham no
Banestado -dinheiro que, segundo a Polícia Federal, chegava
do Brasil por meio de contas CC-5- e reenviá-lo para milhares de
outras contas, localizadas em diversos países e bancos.
Os US$ 3,6 bilhões foram enviados para contas de outras "offshore", contas de pessoas físicas e
também para contas identificadas
apenas por apelidos, como "Flamingo", "Miro" e "Tucano", entre
dezenas de outros.
A Polícia Federal e o Ministério
Público Federal ainda não sabem
quem se beneficiava dessas contas
com apelidos. Elas serão uma das
prioridades da CPI. O dinheiro teria saído originalmente do Brasil,
camuflado em remessas de "laranjas", por meio de contas CC-5
(para não-residentes no país).
Grande parte dessas contas secretas era gerida no Chase Manhattan e outros bancos americanos pela empresa Beacon Hill Service Corporation, de Nova York.
Na última quinta-feira, o Ministério Público da cidade revelou que
a Beacon está sob investigação
por fazer o mesmo que as "offshores" de brasileiros faziam no Banestado: transmissão de fundos.
A Beacon teria transmitido para
outras contas US$ 3,2 bilhões apenas entre os anos de 2001 e 2002.
Paulistas
O grupo paulista é formado por
Silvio Anspach, Dani Zalcberg,
Samuel Semtob Sequerra, Elliot
Eskinazi e Chaaya Moghrabi.
A reportagem apurou que todos, com exceção de Anspach,
que mudou-se para Miami, nos
Estados Unidos, moram no bairro paulistano de Higienópolis.
Todos deverão ser ouvidos pela
CPI em andamento no Congresso, iniciada na semana passada.
Na documentação do banco,
Zalcberg aparece como procurador de quatro empresas, que movimentaram ao todo US$ 444 milhões. Numa delas, a Quetra S/A,
ele divide a procuração com Samuel Semtob Sequerra. Este possuiu também uma conta de pessoa física no Banestado. Por ela
passaram US$ 75,9 milhões.
Manaus (AM) guarda uma surpresa: é de lá o doleiro que controlou a "offshore" com maior movimentação numa única conta. Gilberto Benzecry, da BCF International, que tem como endereço a
Cidade do Panamá, remeteu US$
663,8 milhões para milhares de
outras contas.
Logo abaixo de Benzecry aparece o doleiro Alexander Ferreira
Gomes, o Alex, que de Fortaleza
(CE) controlava três empresas
correntistas do Banestado. A
maior delas, a Blue Carbo, com
sede no Uruguai, remeteu US$
503 milhões para vários outros
bancos.
Somadas, as operações das duas
"offshores" comandadas pelo doleiro paranaense Alberto Youssef,
a June International e a Ranby International, são as mais volumosas da agência, com US$ 800 milhões ao todo.
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