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História e ficção
se entrelaçam em
obra de Saramago
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Raimundo Benvindo Silva
faz parte da família dos sujeitos banais. Cinquentão,
cabelos tingidos, vida profissional ancorada no tédio.
Eis que ele resolve dar um
basta. Revisor de livros, decide, sem motivo aparente, colocar a palavra "não" em
uma frase de um livro de história. Onde se lia que os cruzados ajudariam o rei português Afonso Henriques a recuperar Lisboa das mãos dos
mouros, salpica a negação.
Os cruzados não ajudariam.
Modificar fatos previstos é
um dos poderes da ficção.
Mas Raimundo não consegue mudar a história como
queria, mesmo sendo personagem de um romance.
Ele é o protagonista de
"História do Cerco de Lisboa", de José Saramago, que
a Biblioteca Folha lança hoje.
Publicado em 1989, o sexto
romance do escritor é feito
desse jogo de espelhos original entre história e da ficção.
Com a habilidade narrativa e estilística que lhe rendeu
o Nobel em 1998, Saramago
entrelaça duas histórias. A
do revisor, na Lisboa contemporânea, e outra, na
mesma cidade, mas em 1147.
Mais do que romance histórico, é um romance sobre
a história, a visão de Saramago da história. "Por colocar
na própria trama um revisor, que aparentemente tem
o poder de colocar um não
no discurso da história, o romance tem a importância de
explicitar o desejo de Saramago de que a história fosse
menos infeliz", opina a ensaísta Leyla Perrone-Moisés.
"Saramago está preocupado com o ser humano no seu
cotidiano, na sua história
com "agá" minúsculo. Com
isso, acaba por mostrar como a história com "agá"
maiúsculo não é algo do qual
nós não participamos",
complementa a ensaísta.
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