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CONFLITO AGRÁRIO
Ruralista afirma que governo prepara estatização das propriedades privadas no campo, como na URSS
Fazendeiros se armam e culpam Lula
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PARANAVAÍ
A explosão de acampamentos
de sem-terra à margem de rodovias pelo país levou os produtores
rurais a voltarem a se armar contra invasões. As lideranças ruralistas apontam o presidente Lula
como o responsável pela elevação
do clima de tensão no campo.
"A agitação voltou depois da declaração infeliz, ou propositada,
do presidente Lula de que iria cuidar dos acampados", diz Marcos
Prochet, 44, presidente da UDR
(União Democrática Ruralista)
Noroeste do Paraná. Segundo ele,
os fazendeiros estão armados para enfrentar possíveis invasões.
"Vamos usar a mesma agressividade para reagir às ações armadas dos sem-terra. Isso é permitido por lei e será feito", disse.
Segundo Prochet, o noroeste do
Paraná estava calmo até a posse
de Lula. De 86 invasões em 2000,
havia só duas áreas invadidas no
final de dezembro. Após a posse
de Lula e até a última sexta-feira, o
noroeste contabilizava 16 novos
acampamentos de sem-terra.
"O mais grave é que existiam ordens de prisão para 17 líderes do
MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra]. Depois
que Lula assumiu, as ordens foram revogadas e esses líderes voltaram à ativa, num total desrespeito às leis", disse Prochet.
Para ele, o inimigo é o governo
Lula, "que só não tomou nossa
terra ainda porque é o agronegócio que sustenta o país". Prochet,
no entanto, afirma que o governo
está se preparando para, por meio
de procedimentos administrativos, "fazer do Brasil o que fizeram
com a União Soviética, estatizando as propriedades privadas".
A criação de um cadastro nacional de informações rurais seria, de
acordo com Prochet, o primeiro
passo para a estatização das terras. "O produtor não é afeito à burocracia, e esse cadastro vai pegar
muita gente", afirma.
Não é só no noroeste do Paraná
que os fazendeiros estão se armando. Na região central e no
centro-oeste do Estado, o PCR
(Primeiro Comando Rural), criado pelo médico Humberto Mano
Sá e com nome inspirado na organização criminosa PCC (Primeiro
Comando da Capital), tem incentivado a contratação de seguranças pelos fazendeiros.
O Pontal do Paranapanema, em
São Paulo, a Zona da Mata em
Pernambuco e o Triângulo Mineiro são regiões onde os proprietários rurais admitem a formação
de milícias armadas. Essas seriam
as áreas mais tensas do país, mas
não as únicas, segundo Narciso
Rocha Clara, 47, presidente do Sinapro (Sindicato Nacional dos
Produtores Rurais).
Rocha Clara diz que no Paraná a
situação é mais grave "porque
além da postura de Lula de acobertar os crimes dos sem-terra, o
Estado tem ainda um governador
militante do MST, que é o senhor
Roberto Requião [PMDB]".
"Vamos sobreviver, mesmo
tendo uma governador [Requião]
mancomunado com o MST e um
presidente que usa programas
fantasmas para enviar recursos
aos sem-terra", afirma Marcos
Prochet. Segundo ele, o MST utiliza os acampamentos para "fazer
número na busca de recursos em
cestas básicas, do programa fantasma chamado Fome Zero".
"Só bala conserta o Brasil"
Na última quinta-feira, a Agência Folha conversou com vários
fazendeiros da região de Paranavaí (551 km a noroeste de Curitiba). No Bar do Sidalino, tradicional ponto de encontro de fazendeiros da cidade, eles foram unânimes nas críticas ao governo Lula e na preocupação com os caminhos da reforma agrária.
"Só bala conserta o Brasil", afirmou o comerciante e pequeno
proprietário rural Ângelo Gardin.
Segundo ele, os problemas no
campo começaram "com as leis
trabalhistas, que acabaram com
os colonos, e com a política paternalista das cestas básicas. Bom
mesmo era no tempo do regime
militar", afirma.
Dalton Costa Goetten, 53, proprietário de 1.404 hectares em fazendas no Paraná e em Mato
Grosso do Sul, reclama que falta
mão-de-obra no campo, por culpa da política de distribuição de
cestas básicas. "O peão trabalha
três meses, sai da fazenda, entra
na Justiça Trabalhista e arma um
barraco de lona, à espera da cesta
básica do governo", afirma.
O produtor de leite Mauro Rodrigues Souza, 41, dono de 288
hectares em Terra Rica (noroeste
do PR), afirma que os assentamentos no noroeste do Paraná
não resistiriam a uma auditoria
do Incra (Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária).
"Sou vizinho de um assentamento e vejo. Tem cara que, depois de
três meses no lote, já teve luz cortada por falta de pagamento."
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